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Brasil importa 85% dos princípios ativos para a fabricação de medicamentos

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- Shutterstock
O avanço da pesquisa clínica enfrenta uma série de obstáculos no país, obrigando o setor a continuar dependente das inovações realizadas no exterior.

A pesquisa clínica, fundamental para a criação de novos medicamentos, precisa encontrar um contexto mais favorável no Brasil para que o país possa deixar de ser tão dependente de matéria-prima importada. Hoje, a maioria dos medicamentos é produzida com princípios ativos trazidos do exterior e, como resultado, temos um déficit de US$ 5,5 bilhões na balança comercial do setor. Mesmo com as exportações crescendo em ritmo superior às importações, a diferença ainda está longe de ser compensada.

“O Brasil não conseguiu reproduzir o ambiente de cooperação entre governos, universidades e iniciativa privada. Os principais centros geradores de novas drogas são centros em que o governo apoia pesadamente a pesquisa básica; a indústria e a universidade trabalham de forma muito integrada para transformar a pesquisa básica em pesquisa aplicada, o que significa novos medicamentos no mercado”, afirma Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).

Contudo, existe muita resistência das universidades em trabalhar com a iniciativa privada e a iniciativa privada resiste em assumir riscos, característica da pesquisa clínica. Para que um medicamento seja criado, cerca de 10 mil moléculas são pesquisadas sem sucesso e aproximadamente US$ 900 milhões são investidos durante 10 anos de pesquisas. É um investimento de risco.

Mundo afora, a indústria farmacêutica fatura cerca de US$ 1 trilhão por ano e investe entre 12% e 16% em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. Isso significa algo entre US$ 120 bilhões e US$ 160 bilhões; enquanto o Brasil investe apenas US$ 300 milhões por ano. “O Brasil tem uma posição medíocre na descoberta, no desenvolvimento e no patenteamento de novos medicamentos. A posição é medíocre e desproporcional à qualidade da nossa ciência; considerando a qualidade dos cientistas que já temos, poderíamos ser muito mais importantes nessa área”, analisa Britto.

Além da integração entre governo, universidade e iniciativa privada, o tempo de aprovação da pesquisa clínica continua sendo um obstáculo importante para o avanço da inovação. “Para que um estudo seja aprovado na Coreia, leva 30 dias; nos Estados Unidos, de 45 a 60 dias; na Europa, de 60 a 75 dias, enquanto no Brasil chega a levar 365 dias”, compara o presidente-executivo da Interfarma.

Mais de 186 mil estudos clínicos estão sendo realizados no mundo, enquanto o Brasil tem cerca de 4,3 mil pesquisas em andamento. Isso coloca o país em 15º no ranking da pesquisa clínica, com 2,3% do total.

Estudos abandonados

Um levantamento da Interfarma revela que sete farmacêuticas deixaram de realizar no país 16 estudos nos últimos seis meses nas áreas de câncer, cardiopatias, doenças raras, depressão e esclerose múltipla; área de extrema importância para a saúde. As doenças cardiovasculares, por exemplo, representam a principal causa de morte no país; o câncer tem mais de 500 mil novos casos diagnosticados por ano; a depressão está entre as doenças mais incapacitantes do mundo. “Estamos perdendo estudos importantes, que já poderiam estar salvando vidas”, alerta Britto.

Além disso, há o prejuízo para a inovação e o aperfeiçoamento científico no país. Quando os estudos se concentram em outras nações, o pesquisador brasileiro enfrenta um obstáculo a mais para a sua qualificação profissional e para a propagação do conhecimento científico no Brasil. “O conhecimento está sendo produzido, temos a chance de participar, mas acabamos deixados de lado”, lamenta o presidente-executivo da Interfarma.