Que as doenças crônicas e todos os seus impactos na saúde e na economia estão na lista de preocupações de grandes organizações, no mínimo pelos próximos 50 anos, não é novidade. Porém, para uma eficaz gestão de saúde, é preciso enxergar além. Se faz essencial cuidar e acompanhar a condição de saúde dos grupos de risco. Mas como manter esse modelo se, em média, 10% da população saudável de empresas migram todo ano para a condição de doentes crônicos?

Isso não aconteceria se a Gestão de Saúde Populacional dedicasse esforços para a população de modo geral, e não somente para um determinado público. “Mapear a população e desenvolver programas focados em cada perfil é o ideal. Não adianta mais ficar tratando apenas de casos episódicos. Nessa linha, o setor corre o risco de entrar em colapso”, explica Fábio de Souza Abreu, diretor executivo da AxisMed, a maior empresa de Gestão de Saúde Populacional do Brasil, e que faz parte do Grupo Telefônica.

Em uma análise mais profunda, Abreu aposta na promoção da saúde, do bem-estar e no estímulo à adoção de hábitos mais saudáveis, seja de alimentação, prática de atividades físicas e incentivos motivacionais. “São fatores que certamente geram engajamento e contribuem para a prevenção de doenças. O que não pode haver são ilusões, como a de acreditar que a implantação de uma academia nas empresas vai garantir resultado efetivo”, explica. “Essa é uma das ações pontuais que podem ajudar, mas sem conhecer as condições de saúde das pessoas a quem se está oferecendo o beneficio, ou não encontrar a forma mais adequada de engajá-las, o esforço pode ser em vão”, completa.

As organizações são carentes de estudos relacionados à saúde dos colaboradores, o que dificulta a tomada certa de atitude. Falta um sistema que possa cruzar dados e obter indicadores para que o RH das companhias ou operadoras de plano de saúde possam se pautar para promover saúde e economizar. As organizações dispostas a adotar o sistema de gestão da saúde da população devem priorizar três elementos fundamentais:

1. Integração de dados

Os líderes de saúde da população precisam concentrar-se nos dados e informações que influenciarão cada vez mais as decisões clínicas. Hoje, o setor de saúde está sendo construído com a perspectiva de ter uma completa integração de dados. Isso não é pouco, e o próximo desafio será colher os dados necessários para reformular os cuidados. Os sistemas de saúde terão de usar os sistemas de TI para obter ótimos resultados clínicos, melhorar a qualidade e reduzir os custos.

Em última instância, Abreu explica. “Para alcançar vantagem competitiva nos investimentos em TI, a corporação deve ser capaz de usar a riqueza de informações a seu favor para prestar cuidados aos pacientes em tempo real.”

2. Força de trabalho em sinergia com a tecnologia

Os avanços nos cuidados gerados pelas informações terão um profundo impacto sobre a força de trabalho clínico. Em um mundo movido a dados, as principais habilidades da força de trabalho são aquelas que se conectam mais diretamente para o diagnóstico e motivam os pacientes a alcançar melhores resultados. A tecnologia de última geração apoiará os prestadores de cuidados clínicos nos avanços para ajudar a definir tratamentos de baixo custo, mas de alta qualidade. A tecnologia também permitirá aos fornecedores ampliar o alcance da força de trabalho.

3. O comprometimento do paciente e a integração da comunidade

Os dois primeiros elementos concentram-se nas competências que o sistema de saúde precisa desenvolver. Este levanta duas perguntas importantes: a) Qual é o lugar que sua organização quer ocupar no ecossistema de saúde? Se a prevenção tornou-se essencial para as pessoas, como sua organização precisa atuar?

O desafio de se tornar uma empresa centrada na saúde, e não na doença, é que as pessoas não querem ser pacientes. Os fornecedores estão fora da esfera das atividades do dia a dia delas. É necessário superar as barreiras não-clínicas para incutir valores aos pacientes, com o incentivo ao autocontrole da saúde, e manter uma comunicação eficaz.

“A chave está em saber analisar as implicações do comportamento humano na obtenção de resultados dos programas de gestão de saúde, na redução dos índices de absenteísmo e no uso mais adequado dos recursos disponibilizados pelas companhias e operadoras de planos de saúde aos beneficiários”, finaliza Abreu.