Um projeto de pesquisa conduzido pela startup Predikta, com apoio da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), analisou exames de termografia mamária de duas mil mulheres no Estado de São Paulo. A iniciativa busca complementar o rastreamento tradicional do câncer de mama, agilizando a detecção de tumores e auxiliando profissionais de saúde no acompanhamento da doença, que é a mais comum entre as mulheres no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Como funciona a termografia mamária
A termografia é um exame funcional que detecta alterações na atividade metabólica por meio da captação do calor liberado pela pele. Essa tecnologia identifica padrões microvasculares e reflexos neurovegetativos associados a disfunções e patologias. O procedimento é rápido, não invasivo e leva no máximo dois minutos para a captação da imagem térmica. O modelo está sendo desenvolvido com prioridade para implantação na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Termografia como aliada, não substituta da mamografia
Diferente dos exames anatômicos, que identificam alterações estruturais no tecido mamário, a termografia foca em alterações térmicas superficiais associadas a processos metabólicos, inflamatórios e circulatórios. Estudos anteriores consideravam erroneamente que a termografia poderia substituir a mamografia. No entanto, o projeto atual reforça seu papel complementar.
“Sabemos, com base em pesquisas e análises preliminares, que cerca de 80% das mamas mais quentes estão associadas à presença do tumor. Quando combinamos termografia e mamografia, a sensibilidade do teste aumenta, melhorando a precisão do diagnóstico”, explica Alexandre Aldred, CEO da Predikta.
A detecção de nódulos classificados como BI-RADS 4, que apresentam maior risco de malignidade, pode ser potencializada pela termografia. “Se associarmos uma mama termicamente mais quente a um BI-RADS 4, a chance de ser um tumor maligno aumenta. Esse é um dos princípios que estamos observando”, acrescenta Aldred.
Inteligência artificial para aprimorar diagnósticos
Após a fase de coleta das amostras, os pesquisadores iniciaram a análise dos dados e o treinamento de algoritmos de inteligência artificial para melhorar a interpretação das mamografias e a identificação de anormalidades mamárias. A próxima etapa, prevista para ocorrer nos próximos seis meses a um ano, será o desenvolvimento de um modelo para testes clínicos.
Para Simone Vicente, CEO da FIDI, a pesquisa reflete o avanço da medicina de precisão. “Nosso papel é promover a pesquisa científica e tecnológica para desenvolver soluções que beneficiem a sociedade. Estamos comprometidos em democratizar o acesso a tecnologias de ponta no SUS, trazendo as mesmas soluções de IA utilizadas no setor privado nacional e internacionalmente”, destaca.
Parcerias e perspectivas para o futuro
Além da FIDI, o projeto conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), do Sebrae e da Agência de Inovação da Suíça, responsável pela expansão internacional da pesquisa. A expectativa é que a termografia seja incorporada à rede pública em cerca de três anos, prazo estimado para o desenvolvimento e validação de novas tecnologias em saúde, que normalmente variam entre três e sete anos.
Pesquisas semelhantes estão em andamento na Índia e na China, país com o maior número de casos de câncer de mama no mundo. Além da aplicação mamária, a termografia já é utilizada para a detecção de nódulos na tireoide, diagnóstico precoce de AVC, doenças oftalmológicas, causas de dores, inflamações e até condições como enxaqueca, diabetes e COVID-19.
Redução de biópsias desnecessárias e otimização de custos
Outro benefício do projeto é a investigação de mamas densas, que dificultam a visibilidade em mamografias. “A termografia pode ser repetida quantas vezes forem necessárias e também pode ser realizada em gestantes, já que não envolve radiação”, ressalta Aldred.
No Brasil, cerca de 25% das biópsias realizadas confirmam o diagnóstico de câncer de mama. O aprimoramento da seleção de nódulos para punção pode evitar procedimentos invasivos desnecessários. “Se conseguirmos reduzir em 10% o número de biópsias evitáveis, representaremos uma economia significativa em termos financeiros e psicológicos. Nosso objetivo é obter ganhos incrementais na sensibilidade, especificidade e precocidade do diagnóstico, integrando termografia, mamografia e inteligência artificial”, conclui Aldred.