Para quem talvez não conheça, a HIMSS – Healthcare Information and Management Systems Society, é uma entidade com sede nos EUA, de atuação mundial, com a missão de fomentar o melhor uso de tecnologia na área de Saúde. Ela estabelece diversos níveis de adoção de tecnologia para organizações de saúde, a fim de medir e orientar os avanços, criando desta forma um roadmap de digitalização que seja de fácil entendimento e mensuração, cuja velocidade de implementação ocorrerá conforme as possibilidades de cada organização.
Trata-se de uma visão muito importante, que estabelece as melhores práticas e facilita o entendimento do melhor caminho para uma saúde digital, com ganhos assistenciais e econômico-financeiros. Estes níveis de adoção a HIMSS são chamados de Modelos de Maturidade; são eles que contêm os requisitos, em seus oito estágios, que levam uma organização do mundo totalmente analógico, passando pelos estágios intermediários, até uma organização totalmente digital.
Com o avanço da Inteligência Artificial no setor de saúde, a estrutura dos Modelos de Maturidade tem se fortalecido ainda mais. A IA oferece ganhos significativos na agilidade e na capacidade de implementação de recursos essenciais que já fazem parte da base dos modelos da HIMSS. Esses avanços impactam diretamente dois pilares fundamentais para o desempenho das instituições de saúde: a segurança do paciente e a eficiência operacional. Mas como?
Com esse avanço da IA, sistemas de apoio à decisão clínica evoluíram e estão mais prontos para analisarem grandes volumes de dados em tempo real, antecipando riscos e sugerindo intervenções mais assertivas, conquistando, por exemplo, um papel ativo na prevenção de erros e na personalização do cuidado. Também podemos mencionar o conceito de Circuito Fechado da Medicação, expandido com recursos de automação inteligente, garantindo maior controle e rastreabilidade em todas as etapas da administração de medicamentos, desde a prescrição até o acompanhamento pós-administração, promovendo uma gestão mais integrada e segura do cuidado.
Já em termos de eficiência operacional, a IA atua como um motor de transformação. O Revenue Cycle Management (RCM) é um exemplo claro de como a tecnologia pode otimizar processos críticos, identificando ineficiências, reduzindo desperdícios e aumentando a previsibilidade financeira. A capacidade da IA de analisar grandes volumes de dados e identificar padrões ocultos permite uma gestão mais estratégica, tanto no âmbito assistencial quanto administrativo, promovendo um ambiente mais sustentável e eficaz para as instituições de saúde.
No Brasil, o cenário ainda apresenta desafios significativos. Com mais de 6.800 hospitais em operação, apenas 23 possuem certificação HIMSS nos níveis 6 ou 7, representando uma pequena fração do total, segundo dados da HIMSS Analytics. Além disso, a adoção de IA é limitada: apenas 4% dos estabelecimentos de saúde no país utilizam tecnologias de IA significativamente, segundo a pesquisa TIC Saúde 2024. Entre os médicos, a adesão é de 17%, sendo 14% nos estabelecimentos públicos e 20% nos privados, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS).
Quando olhamos para outros países, percebemos que o Brasil ainda está em um estágio inicial em relação à maturidade digital na saúde. Países como Estados Unidos, Alemanha e Holanda apresentam índices significativamente mais altos de adoção de tecnologias baseadas em IA, especialmente em áreas críticas como suporte à decisão clínica e automação de processos administrativos. Isso demonstra que a transformação digital na saúde é uma realidade em expansão global, mas que requer adaptações específicas para cada contexto.
É importante ressaltar que essa baixa adesão não se deve à falta de tecnologia. O desafio está em garantir que essas soluções não sejam apenas tecnologicamente avançadas, mas também acessíveis, adaptáveis e viáveis em contextos de restrições orçamentárias, desafios operacionais e realidades complexas.
As soluções mais eficazes hoje são aquelas que, além de atenderem aos requisitos técnicos dos modelos de maturidade, são pensadas para o dia a dia das instituições de saúde. Elas devem oferecer maior precisão nas decisões clínicas, automação de processos e ferramentas de gestão financeira que realmente fazem a diferença na rotina hospitalar e contribuem diretamente para a sustentabilidade desse já onerado sistema.
A boa notícia é que já estamos transformando esse cenário. Temos um grupo de provedores e startups atentas às necessidades das instituições de saúde, com elevado grau de inovação que investem pesado para agregar funcionalidades mais inteligentes e, ao mesmo tempo, com custo-efetividade. Podemos citar a verificação de interações medicamentosas em tempo real, prontuários eletrônicos integrados por reconhecimento de voz, automação de dosagens baseada em dados clínicos do paciente e ferramentas de gestão preditiva de recursos que otimizam processos administrativos e assistenciais.
Para quem já esteve do “outro lado do balcão”, vivendo essa realidade de busca incessante de fazer mais, com segurança e com o mínimo de investimentos possíveis, tenho conhecimento de causa, agora que atuo para atender às essas demandas, que é preciso ir além de fornecer sistemas robustos e baseados em tudo o que é de ponta. Toda e qualquer aplicação precisa estar alinhada com essa realidade de que: quanto mais aderência se tiver na prática, mais instituições poderão se encorajar a avançar nessa jornada de maturidade digital. É um ciclo virtuoso que fará total diferença no patamar de excelência, eficiência e efetividade que precisamos alcançar.
*Klaiton Simão é CEO da Salux Technology.
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