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Como a internet das coisas pode mudar a saúde

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As plataformas para monitoramento remoto de pacientes, telemedicina e estímulo às mudanças de comportamento devem mudar o panorama dos cuidados com a saúde nos próximos anos. Estudo recente elaborado pela Goldman Sachs indica que a saúde é a próxima fronteira para a internet das coisas (da sigla em inglês, Internet of Things, IoT), cujo poder de disrupção tem potencial para, ao mesmo tempo, ampliar a qualidade de vida de pacientes, melhorar o gerenciamento de doenças crônicas e reduzir custos para o sistema como um todo.

A pesquisa aponta a maior maturidade das iniciativas do setor – inclusive com a mudança de ponto de vista dos próprios analistas da instituição, céticos em 2014 e bem mais animados com o cenário encontrado em 2015 por meio de entrevistas com representantes da indústria, incluindo segmentos como hospitais, operadoras, fornecedores, investidores e startups. E é interessante notar que, embora centrado nos Estados Unidos, o relatório cita exemplos de soluções já testadas com sucesso também no Brasil.

Uma das questões é que a saúde digital, embora em estágios iniciais de desenvolvimento, pode revolucionar a indústria de cuidados de saúde graças ao avanço da tecnologia sem fio e sua capacidade de fazer os custos de diagnóstico, tratamento e prevenção despencarem. Hoje, o avanço de celulares e sensores permitem a miniaturização de equipamentos médicos antes só disponíveis em instituições centralizadas, e já é possível imaginar o hospital do futuro baseado na nuvem.

A análise aponta que a primeira onda da IoT a provar seu valor para a saúde, neste momento, estará em torno de dispositivos ligados à internet que, de alguma forma, orientam a tomada de decisões clínicas para melhorar o atendimento ao paciente e, ao mesmo tempo, reduzir custos e desperdícios.

O campo de maiores oportunidades está relacionado às doenças crônicas, responsáveis por gastos de US$ 1 trilhão ao ano – um terço das despesas gerais de saúde nos EUA, de acordo com a Pesquisa Nacional de Gastos Médicos (MPES). Como entre as doenças crônicas 20% dos gastos referem-se a problemas cardíacos, asma e diabetes, estes são o terreno mais fértil para a saúde digital, já que dados e modificações em paradigmas de tratamento rendem melhores resultados para os pacientes, redução de eventos adversos e queda nos custos.

A estimativa da Goldman Sachs é que as receitas com IoT em saúde alcancem US$ 32 bilhões em curto prazo, 45% provenientes de monitoramento remoto – onde deve se concentrar a maior parte das iniciativas voltadas a doenças crônicas –, 37% com telessaúde e 18% com estímulo a mudança comportamento. Mas a economia, que pode chegar a US$ 305 bilhões (dos quais US$ 200 bilhões relacionados a gestão de doenças crônicas), entra na conta como fonte de renda extra.

No caso dos Estados Unidos, um impulso extra é as mudanças no paradigma de reembolso de cuidados de saúde, com o critério de valor substituindo o de taxas por serviços. O cenário avançou a ponto de movimentar o interesses de todos os stakeholders no campo da saúde, desde pacientes empregando aplicações de smartphone para controlar métricas de saúde, até médicos usando tecnologias de monitoramento remoto para monitorar dados e modular a prescrição de medicamentos – uma das novidades apontadas pelo estudo é o uso da tecnologia para apoiar a interação entre médicos, pacientes e o sistema de cuidados com a saúde e gerar resultados tangíveis, ao invés de simplesmente criar repositórios de informação ou aplicações de coleta de dados sem valor analítico.

Com tudo isso, algumas das maiores empresas do mundo estão de olho no segmento, como Philips e J & J, além de especialistas, como Cerner e Medtronic, que ampliam investimentos e já anunciaram parcerias com startups ou gigantes de tecnologia, como IBM (que também apostam em iniciativas internas). Não por acaso, os investimentos em empresas privadas relacionadas ao segmento triplicou em três anos, passando de US$ 315 milhões em 2011 para US$ 1 bilhão no ano passado.

O maior impacto, porém, está no lado dos serviços de saúde, incluindo hospitais e operadoras. A melhoria na gestão do paciente pode agilizar o processo de cuidados, reduzir o número de internações e manter o paciente bem cuidado em casa ou em clínicas ambulatoriais. Já a indústria de produtos pode ser impactada com a redução da taxa de utilização, de um lado, e com a criação de novas receitas com inovações relacionadas à IoT.

Mas quais são as inovações mais maduras? Segundo a Goldman Sachs, são três categorias principais, que podem convergir no futuro. A primeira inclui diagnóstico e acompanhamento remoto de pacientes, como dispositivos vestíveis que podem diagnosticar doenças cardíacas, sensores que monitoram a ingestão de medicação para asma e a qualidade do ar e monitores de glicose que enviam dados para smartphones. A segunda, tecnologia para telessaúde, suportando acesso a médicos e aconselhamento sem visitas ao consultório, como teleconsultas. A terceira, voltada a modificar comportamentos, abrange plataformas que ajudam os pacientes a mudarem hábitos e adotar estilos de vida mais saudável, como prevenção do diabetes por coaching digital para perda de peso e fim do tabagismo.

O monitoramento remoto de pacientes é a área mais avançada, já que é onde o uso da tecnologia sem fio tem mais potencial de melhorar o atendimento e reduzir custos. Principalmente junto a pacientes com doenças crônicas, graças a aplicativos que permitam tanto ao paciente compreender seu estado e agir sobre ele quanto alertar profissionais sobre a proximidade de eventos agudos.

CardioMEMS, Vivify e Dexcom são os exemplos considerados mais tangíveis em operação até agora, graças ao potencial do mercado e ao número de testes clínicos indicando resultados positivos. O primeiro, da St. Jude Medical, é um sistema de monitoramento sem fio da pressão arterial pulmonar (PA) baseado em um sensor implantável que mede a pressão entregue a um cateter e envia os dados para dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Como a pressão começa a subir até 30 dias antes de um evento de insuficiência cardíaca, o monitoramento permite a intervenção médica antes de eventos maiores. O estudo com mais de 550 casos que ajudou a instituição a ganhar aprovação da FDA para o dispositivo mostrou que seu uso reduziu 30% das hospitalizações em seis meses e 38% ao ano, e pacientes administrados com PA apresentaram 57% de redução na mortalidade em relação ao grupo de controle. O desafio ainda é o preço – a solução custa entre US$ 20 mil e US$ 30 mil – mas o mercado potencial chega a US$ 3,3 bilhões.

O Vivify, da Intermountain Helthcare, também mira pacientes com condições cardíacas. A solução é composta por medidores de pressão arterial sem fio, oxímetro de pulso, aplicativo e tablet para que os pacientes façam upload de suas leituras, estimulando-os durante o dia para que não se esqueçam de faze-lo. Na central que recebe os dados, os atendentes podem chamar pacientes esquecidos pelo tablet e acionar cuidados adicionais caso necessário. O piloto com 13 casos reduziu a média de internações e, além de economia, rendeu confiança e motivação aos pacientes. O potencial de mercado estimado neste caso chega a US$ 500 milhões.

O maior potencial, porém, foi apontado para o DexCom SHARE, voltado ao monitoramento contínuo da glucose (CGM) no sangue por registro em smartphones para apoiar decisões como aplicação de insulina. A solução permite ao paciente visualizar informações e enviá-las a terceiros. Em janeiro, a FDA aprovou sistema com comunicação BLE (bluetooth low energy) embutido no receptor, o que elimina a necessidade de estação de ancoragem e deixa o sistema 100% mobile. Em abril, a empresa anunciou a chegada do sistema ao Apple Watch. A estimativa de uma população de 1,3 milhões de diabéticos tipo 1 (são 24,5 milhões de diabéticos tipo 2) nos EUA eleva o tamanho da oportunidade de receita no segmento a US$ 6,5 bilhões.