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Transformação Digital em Saúde: desafios e perspectivas

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Na semana passada, fizemos parte da Futurecom com uma discussão sobre transformação digital na Saúde. Para a moderação, tivemos Gauthama Nassif, Gerente Comercial de TI em Saúde, UBM Brazil, parte do Grupo Informa e, como participantes da mesa, contamos com Thiago Júlio, Gerente de Inovação e Curador do Cubo Health – DASA, Ricardo Santoro, CIO do Hospital Israelita Albert Einstein e César Dominguez, CEO da Axismed.

Na semana passada, fizemos parte da Futurecom com uma discussão sobre transformação digital na Saúde. A Futurecom é o maior evento de TI e Telecom da América Latina, e é organizado pela Informa Exhibitions, mesma empresa que realiza o Saúde Business Fórum, Feira Hospitalar e Healthcare Innovation Show. A ideia é promover uma discussão cross sobre os principais temas de interesse nas indústrias, no caso, tecnologia e saúde.

Para a moderação, tivemos Gauthama Nassif, Gerente Comercial de TI em Saúde, UBM Brazil, parte do Grupo Informa e, como participantes da mesa, contamos com Thiago Júlio, Gerente de Inovação e Curador do Cubo Health – DASA, Ricardo Santoro, CIO do Hospital Israelita Albert Einstein e César Dominguez, CEO da Axismed.

“Estamos saindo de uma saúde homogênea para começar a pensar em saúde populacional, ter dados e processos suficientes para, em seguida, atingir uma saúde personalizada e preditiva. Em termos de point of care, estamos saindo de um modelo hospitalocêntrico para um modelo de mais cuidado de transição, cuidado em casa, nas empresas e em outros locais”, contextualiza Gauthama no início do debate.

Além disso, estamos passando de um modelo de saúde hierárquico e assimétrico, em termos de informação, para um modelo de coordenação de cuidado, visando a parceria entre os stakeholders. A mudança estrutural do setor é certa. Observamos uma avalanche de novas tecnologias, necessidade de se utilizar a informação de forma estratégica no setor, e um movimento no qual empresas tradicionais de TI e comunicação têm encontrado, cada vez mais, oportunidades na saúde.

Para César, a tecnologia deve ser vista como ferramenta, e não como fim. Isso quer dizer que uma empresa de tecnologia é, por essência, uma empresa que emprega as suas soluções para resolver desafios dos setores, sejam eles quais forem. Entre as low hanging fruits da saúde, ou seja, problemas que devem ser priorizados e já são possíveis de serem solucionados com tecnologia, estão a melhora na produtividade em termos administrativos do setor e o aumento da qualidade do atendimento ao paciente. Apesar de ressaltar os tópicos como pontos de ganho imediatos, ele reconhece que modelos ancorados em sistemas muito tradicionais, como o em questão, não mudam de um dia para o outro.

Ricardo, que fez a transição do mundo de telecomunicações para a saúde, completa dizendo que ferramentas, como Analytics, e o intercâmbio de profissionais de outros setores são fundamentais nesse cenário de evolução. Ele cita alguns exemplos da utilização dessa tecnologia no Einstein, como a oportunidade de se usar toda a informação disponível no sistema para otimizar processos, como a predição de ocupação de leitos na UTI. “A inteligência dos sistemas está aumentando, bem como a integração e a automatização. É uma mina de ouro o poder destes dados!”, diz o executivo.

Porém, ele não acredita na inteligência artificial como tomadora de decisão na assistência, e sim como mais um auxílio ao trabalho médico, em especial no cruzamento de informações. Hoje, segundo o executivo, uma enfermeira pode levar até 8h para observar uma deteorização clínica de um paciente, e com a ajuda de modelos preditivos, há uma antecipação de quatro a oito horas, um ganho excepcional para o paciente.

“Mas pensando melhor, para quem são essas low hanging fruits?”, questiona Thiago Júlio. “É um setor desigual e ainda existem provedores totalmente offline! É sem dúvidas mais fácil do que há 10 anos, mas temos que analisar sob alguns ângulos. O primeiro passo é se digitalizar, e a partir disso tornar uma cultura”. Para os mais avançados, existe um esforço na construção de um mindset digital. Na DASA, ele conta que há uma área de TI especialmente dedicada à integração de sistemas em aquisições e fusões, principal motor de crescimento, como um exemplo das complexidades que existem em um patamar já digital.

Aproveitando o momento de transformação do sistema, Gauthama cita o papel cada vez mais ativo do paciente em sua própria saúde, e o suporte que a tecnologia, como peça-chave, emprega nesse novo molde de relacionamento com o cliente, considerando não somente o momento de assistência, mas como manutenção integrada da saúde.

O gerente de inovação da DASA explica que existem réguas de relacionamento diferente para cada fase do cuidado. “Paciente doente é um grupo de engajamento totalmente diferente, apesar de eles se mostrarem mais preocupados com a sua saúde, isso não significa que seja mais fácil! Já o paciente saudável é um desafio para a instituição e para o médico. Talvez a solução deva passar por políticas de incentivo para o consumidor, questões que por serem reguladas legalmente, ainda não entram em nosso leque de alternativas.”

O CIO do Einstein completa a discussão lembrando do desafio da coleta de dados, não somente para o engajamento, mas como para a alimentação dos sistemas de registro eletrônico digitais ou fomento de estratégias integradas. “A questão de implantação do prontuário eletrônico no Einstein pode ser considerada um sucesso. Nós sempre tratamos como um projeto da área médica, e não da TI. Foi montado um grupo assistencial de profissionais que conheciam muito bem os processos”. Ele explica que o grupo participou ativamente, durante os 30 meses de projeto, e foram responsáveis pela redução da resistência na adoção do novo modelo de trabalho. A ação foi acompanhada por exaustivas e transparentes comunicações para os colaboradores, situando as fases do projeto, explicando o possível trabalho adicional, mas destacando o benefício assistencial promovido.

Outra iniciativa do hospital foi a criação de um fórum que auxilia colaboradores com boas ideias para a transformação digital, a viabilizar tecnicamente as suas propostas através de um grupo de apoio, que conta com especialistas de TI e engenheiros.

Visando a redução de desperdícios no setor e aumento de eficiência, Gauthama aborda a questão da interoperabilidade entre os sistemas de provedores, pagadores, governo e indústria. A pergunta direcionada à Cesar questiona a disponibilidade atual de tecnologia para este desafio.

O CEO da Axismed responde que, de fato, a parte tecnológica de conexão entre os sistemas e bases de dados não é um problema. “O que acontece é que estamos falando de um sistema complexo e atrelado a interesses. Há um ponto de demonstração de que esta tecnologia e processo de digitalização da jornada mostre um benefício para todos da cadeia”. Ele ainda comenta, que por não existir um sistema integrado e que permita uma visão holística do histórico e interações do paciente. Há casos de sugestão de um tratamento X por ser inicialmente mais barato do que o Y, mas os decisores não consideram muitas vezes, o custo a longo prazo com medicações, internações, e até a própria experiência do paciente.

Como próximos passos em direção a isso, Ricardo não vê esse movimento acontecendo sem a regulação do governo. Ele cita o exemplo americano de ACOs (Accountable Care Organizations), no qual somente quando houve uma demanda da principal fonte pagadora -no caso, o governo-, as instituições de maior dependência remanejaram seus serviços para atendê-los. É um movimento inicialmente forçado, mas adotável ao longo do tempo por empresas mais independentes. Em contraste, Thiago Júlio diz que as empresas não devem se eximir de suas responsabilidades na mudança e entregar a decisão ao governo. Ele acredita nas instituições como protagonistas e mecanismos de pressão para a mudança.

Para finalizar, Ricardo compara a saúde com o setor de telecomunicações. “É muito mais drivado por execução. Em telecom é aceitável entrar com algum nível de defeito e segurar isso na operação. O mesmo não acontece com a saúde. É um setor cauteloso, pois tem a responsabilidade da vida do paciente.”

E Cesar traz três dicas: “Primeiro deve haver uma movimentação do setor privado para evoluir o modelo. Em seguida, os decisores devem entender que a transformação digital não é uma tendência, é algo vital. E por fim, as instituições devem ser práticas e dar pequenos passos. No final, há duas opções, ou você faz parte disso, ou está fora do mercado.”