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Startup utiliza tecnologia de minicérebros

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Focada em descobrir possíveis tratamentos para doenças neurológicas hoje consideradas incuráveis, a TISMOO inicia sua expansão para o mercado Europeu com operação concentrada no desenvolvimento de novos fármacos e na recolocação de drogas já existentes

O processo para que um medicamento passe a ser comercializado no mercado pode durar até 20 anos. É um caminho longo e extremamente caro, que passa pela descoberta, testes e aprovação dos órgãos de saúde. No entanto, uma nova tecnologia vem contribuindo para mudar esse cenário e acelerar a busca por tratamentos para diversas doenças neurológicas, como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). São os chamados organoides cerebrais, também conhecidos como minicérebros, estruturas derivadas de células-tronco capazes de reproduzir o desenvolvimento do cérebro humano em laboratório.

É isso que se propõe a startup de biotecnologia TISMOO, primeiro laboratório do mundo exclusivamente dedicado à medicina personalizada para o TEA e outros transtornos neurológicos de origem genética. Altamente inovadora, a startup que hoje já opera provendo laudos genéticos como uma ferramenta de suporte à clínica, pretende agora dar o segundo passo em seu projeto e melhorar as formas de tratamento para essas doenças, testando medicamentos já aprovados em minicérebros humanos. Com essa tecnologia, é possível capturar o material genético causador de uma síndrome, investigar como suas mutações levam a um quadro clínico específico e buscar novas formas de reverter o processo com tratamentos farmacológicos, melhorando, assim, a qualidade de vida dos pacientes.

Com uma equipe técnica composta por especialistas renomados mundialmente e com presença tanto no Brasil quanto nos EUA, a TISMOO inicia agora sua expansão para a Europa com um novo laboratório a ser sediado em Portugal. A startup fechou recentemente parceria com o BIOCANT, maior centro de biotecnologia do país, onde a TISMOO Portugal ficará hospedada.

A operação no país ficará sob a responsabilidade do prestigiado pesquisador Dr. Alysson Muotri, pioneiro no desenvolvimento e uso de minicérebros funcionais, e uma equipe local também será contratada. A previsão é de que a implantação do laboratório em Portugal aconteça até o final de 2018, e que a operação efetiva comece no primeiro semestre de 2019.

Avanços científicos com minicérebros

Por meio da tecnologia, os cientistas da TISMOO já conseguiram resultados concretos para o entendimento e tratamento de doenças neurológicas. Um deles foi a recente descoberta de um tratamento inovador para uma síndrome rara, a Aicardi-Goutieres, que compromete movimentos, fala e outros aspectos do organismo.

"Resolvemos trabalhar nessa doença por conta do pouco ou nenhum avanço científico promissor durante anos nas pesquisas realizadas na área. Esses estudos eram feitos com animais que não respondem à doença como os humanos, por isso a necessidade de utilizar as modelagens com células-tronco para novas pesquisas. Acredito que foi a primeira vez na história da ciência que um grupo revelou um mecanismo novo para explicar a patologia de uma doença, encontrou um possível tratamento e iniciou um ensaio clínico em tempo recorde", afirma Muotri, que é biólogo molecular, Ph.D., professor da Universidade da Califórnia (EUA) e chefe científico da TISMOO.

Ainda nos Estados Unidos, também foi aprovado recentemente, pela primeira vez, um composto derivado da maconha (CBD) para tratar certos tipos de epilepsia, decisão que pode significar avanços importantes para a pesquisa do autismo. A liberação do medicamento Epidiolex vai exigir uma mudança na classificação de compostos de maconha da Agência Antidrogas dos EUA como drogas, o que pode abrir portas para que pesquisadores estudem o efeito da maconha no tratamento do autismo. Muotri, por exemplo, utiliza minicérebros funcionais para testar o efeito do canabidiol, principal ingrediente do Epidiolex, no tratamento do TEA. O novo protocolo desenvolvido pelo cientista permite a comparação direta do efeito do CBD em minicérebros derivados dos próprios autistas que estão participando dos ensaios clínicos através de eletroencefalograma.

Uma das maiores barreiras para o avanço dessa tecnologia foi ultrapassada recentemente: a possibilidade de desenvolver os minicérebros em grande escala. Até hoje, o procedimento tradicional para criar esses minicérebros em laboratório era feito a partir da reprogramação celular, um processo altamente custoso e demorado e que acabava limitando o avanço das pesquisas que utilizavam essa abordagem à realizarem estudos apenas com um pequeno número de amostras por vez. Porém, agora o Dr. Muotri e sua equipe na Universidade da Califórnia conseguiram ultrapassar essa dificuldade. Convertendo células somáticas diretamente em minicérebros funcionais, sem passar pelo tradicional estágio de propagação das iPSCs (células-tronco de pluripotência induzida), o cientista conseguiu diminuir drasticamente o custo e o tempo de criação dos minicérebros em laboratório, conseguindo, assim, comprovar sua capacidade de gerar uma grande quantidade de amostras para avaliação experimental. Uma verdadeira revolução.

E esse é um passo importante, pois demonstra claramente como as pesquisas realizadas com os minicérebros possuem enorme potencial de colaborar para a revolução da medicina ao longo dos próximos anos. A grande vantagem desse processo é que se abre uma possibilidade viável para o teste de fármacos, sem utilização o próprio paciente e, mesmo assim, conseguindo definir um tratamento mais adequado para cada indivíduo. Desta forma, em um futuro próximo, a startup entende que os médicos poderão testar vários medicamentos, bem como suas doses, em minicérebros de uma determinada pessoa antes de prescrever uma receita, gerando uma medicina realmente personalizada para cada paciente.