Desde o lançamento do ChatGPT 3.5 em 2022, a Inteligência Artificial (IA) tem ganhado grande destaque na mídia. Na medicina, isso não é diferente. Vemos um aumento significativo nas publicações sobre o tema. Inclusive, o mais conhecido periódico médico do mundo, o New England Journal of Medicine, criou uma versão voltada para IA, chamada NEJM AI, dedicada à publicação de artigos na área.
A aplicação de IA na medicina não está só na teoria. Já existem evidências científicas que mostram o enorme potencial da IA na saúde, destacando-se algumas:
- Reconhecimento mais precoce de infarto agudo do miocárdio através da interpretação de eletrocardiogramas feita pela IA;
- Maior eficiência na detecção de pólipos possivelmente cancerosos durante a realização de colonoscopias;
- Aumento significativo na produtividade do consultório com o uso de transcritores de voz que, ao escutarem a conversa entre médico e paciente, identificam e resumem os principais achados no prontuário eletrônico, economizando tempo;
- Ajuda no desenvolvimento de novas medicações, como antibióticos.
As possibilidades são vastas e, de onde estamos hoje, podemos dizer com tranquilidade que a IA já se coloca como uma tecnologia revolucionária para a medicina, permeando todas as suas áreas, como diagnóstico, tratamento, seguimento de pacientes, monitorização e predição de complicações, e desenvolvimento de novas medicações.
Contudo, surge a pergunta: a tecnologia pode avançar a ponto de substituir completamente os médicos? Haveria risco de o médico perder seu emprego para a máquina? A maioria dos especialistas acredita que não. Entre eles, Yann LeCun, chefe de IA da Meta, empresa responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp. Quando perguntado se a IA poderia substituir completamente os radiologistas no futuro, LeCun afirmou que o mais provável é que a máquina ajude a reduzir erros médicos e resolva casos mais simples, permitindo que os radiologistas se concentrem nos casos mais complexos.
Essa visão é compartilhada por vários outros especialistas, como o cardiologista Eric Topol, que acredita que, até onde se pode prever, sempre haverá a necessidade de um médico por trás das decisões, com a IA servindo como uma ferramenta de apoio.
Dito isso, um cenário mais provável é que o médico que utiliza IA vá progressivamente ganhando mais espaço em detrimento daquele que não domina essa tecnologia. Se um médico, junto com a IA, consegue melhorar sua produtividade, acurácia diagnóstica e promover planos terapêuticos mais eficazes, é de se esperar que o mercado de trabalho priorize esse profissional em relação a outro que se recusa a integrar a tecnologia em sua prática diária. Vê-se então a necessidade de se adaptar às novas tecnologias que possuem o potencial de melhorar a forma como diagnosticamos e tratamos os nossos pacientes.
Convido a comunidade médica a abraçar a inteligência artificial como uma força revolucionária e transformadora para a medicina e a prática médica. Em meio a uma expansão vertiginosa, a IA promete avanços extraordinários em nossa área. Com a adesão às mais rigorosas práticas éticas, podemos inaugurar uma era de benefícios sem precedentes, impactando profundamente tanto médicos quanto pacientes.
*Eduardo Lapa é cofundador e editor-chefe do site Afya CardioPapers.