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Um paciente e o Natal que não teve porque o convênio gosta de pagar diárias!

Article-Um paciente e o Natal que não teve porque o convênio gosta de pagar diárias!

O Sr. Arno ficou sem Natal, e restou mais do que nunca claro

o fato de que convênios muito pouco importam-se com os resultados certos e

necessários.

Lá no começo do movimento de Medicina Hospitalar, escutei de

um hospitalista norte-americano: “Só estarás completamente bem-sucedido o dia

que agrupares médicos, hospitais e convênios. Nosso sistema é como um banquinho

de três pernas. Sem qualquer uma das três, acaba caindo. Sem aproximação de

profissionais da ponta, hospitais e convênios, nada sustentável será

construído".

Olho para uma década de trabalhos e seus resultados e quantas vezes durante esta trajetória tentei aproximar convênios

individualmente ou através de entidades representativas, sem sucesso? Na

maioria das vezes sem resposta alguma! Não encontrei interesse nem como apoio à

iniciativas de melhoria da qualidade através dos eventos, nem localmente em

hospitais buscando aprimorar programas de MH onde a expectativa era

simplesmente compor uma mesa, conversar e, se possível, identificar demandas comuns e

possibilidades.

Em evento no qual colaborei em 2014, fiz questão de

apresentar iniciativa onde o envolvimento de todos, médicos, hospitais e fontes

pagadoras, demonstrou ser capaz de resultados acima da média: ProvenCare (aqui

trecho do que mostramos no Rio de Janeiro - http://youtu.be/OHXnOKzvPig, aqui uma outra

apresentação completa sobre o mesmo projeto - http://youtu.be/RZibQzNrMDM). Não

houve interesse deles!

Impressiona-me ainda mais o fato de terem “facilitadores”

perambulando pelos hospitais. Estes funcionários dos convênios, alguns médicos e enfermeiros, poderiam de fato funcionar com tal quando interesses que não

deveriam ficar em segundo plano estivessem em jogo. Mas envolverem-se no

planejamento de alta do paciente, etapa sempre tão delicada,

inclusive quando o que está pendente diz respeito à direitos de pacientes e

obrigações dos próprios convênios? Não! Envolverem-se em iniciativas saudáveis para

redução de desperdícios em saúde? Também não! O que fazem é restringir cega ou

aleatoriamente, tal como denunciam em vídeo do Porta do Fundos, que só é piada para quem não vive a Saúde.

Sr. Arno tem 96 anos, internou comigo pelo convênio de sigla

"OBSTACLE"* por coledocolitíase. Aguardou 15 dias por

uma Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica, muito em função de

autorização e “logística”. Quando fez o procedimento teve alta em 36 horas.

Como falar em giro de leitos assim? Redução de tempo de permanência? Prevenção

daquelas complicações possíveis de acontecer por simplesmente se estar no

hospital? Desafogamento da emergência? E, por fim, em cuidado humanizado? Tudo que

o Sr. Arno me pedia era passar o Natal em casa. Foram 15 dias, MEIO MÊS, onde o

objetivo do convênio e seus representantes foi obstaculizar o desejo de meu paciente.

Já ganhei certo destaque nacional com palestras reforçando a

importância de evitarmos desperdícios na saúde e apresentando possíveis soluções, e entendo

perfeitamente a necessidade de justificativas às fontes pagadoras dos atos

médicos envolvendo solicitação de testes e procedimentos. Mas, no caso do Sr.

Arno, ficou mais uma vez evidente a intenção cruel de “matar as partes no

cansaço”. Uma delas literalmente! E continuaria saindo barato, uma vez que o Sr. Arno havia definido que uma vez piorasse muito, não teria vontade de submeter-se à UTI e suportes vitais avançados.

Certo dia, neste episódio, cansado e irritado, disparei, mais

como um brado de mudança do que como um pergunta: - Mas não é do interesse de

todos a redução do tempo de permanência?  “Claro que não, Guilherme”,

disse-me quem estava do lado. “A demanda reprimida é tão grande, que para eles

mais vale um paciente “frio” internado, mesmo que tenham que pagar diárias, do

que um agudo que eventualmente deite naquele leito sedento por testes e

procedimentos que estejam a mais fácil alcance. Do que mais precisam é

justamente de um exame/procedimento que seja feito fora do hospital, daí

justificam a burocracia toda”.

Precisamos para ontem alinhar vetores, com foco nos

resultados PARA OS PACIENTES. Auditores com foco em Medicina Baseada em

Evidências precisam aparecer e conquistar espaço.

 * o nome do paciente e do convênio foram alterados para

aprimorar sigilo