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Reportagem do Fantástico - Inadequada e Injusta

Article-Reportagem do Fantástico - Inadequada e Injusta

A matéria do Fantástico sobre OPME além de não demostrar o problema real do mercado, deixa a impressão de que tudo está errado, ninguém faz nada a respeito e define como vilão o corruptor e não o corrupto (o verdadeiro vilão).

A reportagem do Fantástico sobre OPME foi uma das piores que

já vi.

É um exemplo do que acontece quando alguém que não é do ramo

se aventura a falar sobre temas relacionados à saúde. Me proponho a discutir e

analisar o que vimos em tópicos.

Inversão de Valores.

A matéria mostra as empresas fornecedoras como as grandes

vilãs. Isso está virando mania no Brasil: o corruptor é condenado e preso, e o

corrupto fica solto. Estamos vendo isso em diversos episódios na mídia – o dono

da construtora vai preso e o ‘boleiro’ fica livre, por exemplo. Isso está

correto ? Se você é religioso vou me permitir uma comparação: pode pecar a

vontade porque por esta lógica brasileira quem vai para o Inferno é só o Diabo

!

É evidente que se o que foi mostrado é verdade, o médico é o

vilão. Quantas vezes não fui (quantas vezes você não foi) assediado por

corruptores e não aceitei ? Se o médico não quiser, o corruptor não tem a quem

corromper.

Generalização.

Como a reportagem citou várias vezes ‘uma das maiores

empresas do ramo’ e que a oferta da ‘bola’ acontece abertamente em um evento do

setor de OPME, ficou a impressão para a população que todas as empresas de OPME

são 'pilantras’, que todos os médicos são corruptos, e que todos os alunos de

medicina aprendem a roubar durante o próprio curso.

E não é verdade. Quem é do segmento sabe que, graças a Deus,

a maioria das pessoas e empresas que atuam no segmento são idôneas. Uma minoria

de oportunistas se aproveita da necessidade e da boa-fé da maioria.

Uma vez ouvi um comentário muito interessante sobre um tema

que gostaria de replicar para ilustrar: ‘Não é porque existem padres pedófilos

que a Igreja Católica concorda com isso, ou incentiva isso. Em todas as

instituições existem pessoas do bem e pessoas do mal’.

Superficialidade.

Nos casos que tive a oportunidade de presenciar onde a

fraude ocorreu e, diga-se de passagem, foi objeto de investigação e processo

judicial, o problema é muito mais amplo do que o exposto na reportagem:

  • Abrange todas as especialidades: ortopedia, mastambém cardiologia, gastro, etc.
  •   Abrange não só OPME: exames de altacomplexidade, medicamentos de alto custo, equipamentos, etc.
  •   Abrange não só fornecedores e médicos:administradores de empresas de auto-gestão, auditores de contas, etc.

Esta mania brasileira de colocar um problema de modo

superficial para ganhar audiência não beneficia ninguém. Para que este tipo de

reportagem seja realmente benéfica para a população, deveria ser mais

aprofundada do que entrevistas com agentes comerciais corruptores. Da forma como

é feita é mais um assunto que será esquecido quando os jogos de futebol ao vivo

voltarem e as atenções voltam para ‘o gol’, ‘o frango’, ‘o impedimento

escandaloso que o juiz não deu’ ...

Injustiça.

Ficou a impressão de que a solução do problema são ações da

operadora de planos de saúde, colocando ‘investigadores’. Que absurdo !

Como se este fato só ocorresse em pacientes de operadoras de

planos de saúde. A maioria absoluta das cirurgias ocorre no sistema SUS, e a

maior incidência de fraude, sabidamente, ocorre nas contas particulares, onde o

paciente não conta com auditor de contas.

E o fato mais lamentável: só citou o exemplo de um único hospital

que tem ações de combate ao problema, como se isso fosse exceção.

Convivo com diretores hospitalares que fazem da ‘caça à

corrupção sua profissão’, em hospitais públicos e privados. A reportagem deixou

a impressão de que o grande contingente de administradores que passam a maior

parte do tempo aferindo irregularidades e mantendo seu hospital viável e

íntegro não existe.

Envolvimento do Governo e Entidades de Classe.

Houve menção na reportagem de que um conselho regional vai

investigar a denúncia.

Uma das maiores vergonhas que temos ao conversar com pessoas

de outros países é este cenário que está sendo criado no Brasil de só apurar o

que é denunciado na imprensa. Este tipo de imprensa se tornou um quinto poder

(se considerar o MP como quarto) e o mais forte deles: o que fala vira lei –

julga e decreta culpados e inocentes.

Que pena termos chegado a este ponto !

Quem sabe um dia governo e entidades de classe deixem de

gastar tempo criando leis e normas que não são cumpridas e passem a gastar o

tempo e recursos que captam para fiscalizar, punir e capacitar os gestores da

saúde para que saibam como lidar com estas situações.

Quem sabe um dia o governo e entidades de classe deixem de

atuar na defensiva, dizendo que vão apurar a denúncia, e passem a mostrar que

atuam pro-ativamente, demonstrando o que já fizeram para evitar as

irregularidades, citando casos reais de punição aos que tentaram corromper e

não conseguiram !

Se continuarmos mostrando a roubalheira sem mostrar quem foi

para a cadeia incentivamos os ‘malandros’, ou invés de intimidá-los.

Minha Indignação Final.

Você pode ser partidário ou não, concordar ou não, com o que

a presidente da Petrobras fala sobre os escândalos que assolam a empresa. Não

sei, não quero saber e nem discuto se ela está envolvida ou não – isso é coisa

para a justiça apurar e não reportagens. Mas uma coisa que ela fala é

indiscutível: não é porque alguns oportunistas roubaram a Petrobras que só tem

‘malandro’ trabalhando lá: muito pelo contrário, a maioria é formada de pessoas

honestas, caso contrário nem precisaríamos de inquérito para apurar

irregularidades – os próprios ‘malandros’ estariam acusando uns aos outros nas

situações em que ‘perdem a boquinha’.

Tantas e quantas reuniões participei nos últimos anos com

superintendentes e diretores hospitalares, chefes de faturamento, auditores de

contas ! É rotina a discussão de instrumentos para evitar as fraudes, e poderia

aqui listar centenas de ações contra fraudes, e denúncias contra empresas

corruptoras, médicos corruptos e gestores de operadoras de planos de saúde e

auto-gestão ‘pilantras’.

Sei o quanto dói para estas pessoas ver uma reportagem que,

além de não mostrar os casos exemplares e o trabalho destas pessoas, ainda

passa a ideia de que todo mundo é ‘malandro’ e ninguém faz nada a respeito.

Gostaria que o governo e as entidades de classe reagissem, e

mostrassem que existe ‘gente do bem’ na saúde, e graças a Deus a maioria. Neste

meio que tentam rotular como ‘todo podre’, a gente vê gente que literalmente

havia perdido a mão, segurando objetos ... pessoas que não podiam andar agora

praticando esportes ... pessoas com o coração totalmente comprometido levando

uma vida normal.

Gostaria que o governo e as entidades de classe realmente

deixassem de perder tempo com coisinhas que dão voto, ou ‘controlezinhos’

administrativos inúteis, e fizessem coisas que melhorariam de verdade o sistema

de saúde a ao contrário do que se imagina, incomodaria apenas algumas pessoas.

Por exemplo: dessem um basta na história de que um mesmo OPME tem dois preços:

um para o SUS e outro para a Saúde Suplementar – se medicamento pode, porque

material não pode ?

O que é necessário fazer quem é do ramo sabe ... nenhuma

reportagem produzida por leigos vai mostrar ... só é necessária a vontade

política !!!