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Países em Desenvolvimento:NR32 e a Ascenção Social

Article-Países em Desenvolvimento:NR32 e a Ascenção Social

Recent research highlights the value of viewing health workers as active agents in dynamic labour markets who are faced with many competing incentives and constraints.

This is why recent research is often framed within the perspective of labour market analysis even if it emerges from fields like political science, sociology, anthropology, public administration and business management.

Na nossa curta história a mobilidade social passa a ocorrer como fenômeno de massas no início do século passado. De forma significativa, principalmente nas camadas mais simples da população, a busca da ascensão remete ao reconhecimento pelos iguais, ou status, muito mais que pelo retorno financeiro.

O final da era escravagista no Brasil tem uma data, mas, de forma indireta, sua cultura, o modus operandi, permaneceu pela manutenção de um patriarcado forte e inquestionável , onde o papel da mulher simples, fora da produção agrícola, não era outro que a lida da casa, da sua própria e/ou do seu empregador.

Passaram-se duas ou três gerações para que a mulher entrasse no mercado de trabalho com outro papel, e passasse a ter direitos. Aqui está a primeira mudança social, comprovada pela aspiração dessa mulher para sua filha: que não fosse, como ela, uma empregada doméstica, mas que trabalhasse em uma fábrica, com horário de entrada e de saída, e regras definindo os limites de um trabalho, não uma servidão dentro da casa alheia.

Partindo deste novo mercado a geração seguinte passou a almejar educação para as filhas, que entraram, no início timidamente, nos escritórios, como recepcionistas ou até secretárias. Melhor que esse papel apenas o das professoras!

O que as filhas dessa última geração estão alcançando, qual o novo status? Trabalhar de branco! Não há ônibus de linha, principalmente os que ligam o centro aos bairros mais afastados e cidades que compõem a Grande São Paulo, sem propaganda de cursos de enfermagem, para formação de Auxiliares de Enfermagem, de profissionais em nível técnico ou superior, usando a indefectível imagem do jovem com o jaleco e o estetoscópio no pescoço.

Essa realidade tem consequências que devem ser analisadas pelo seu impacto nos serviços de saúde:

1. Estar de branco é status, diferencia esse profissional de todos os outros trabalhadores, e, consequentemente, o que frequentemente se vê é a rodinha de branco nos pontos de ônibus próximos aos estabelecimentos de atenção à saúde, tanto quanto os médicos, almoçando no entorno com o avental e o estetoscópio no pescoço.

Não deveria ser instituída uma regra que limite o uso dos jalecos, aventais e uniformes ao âmbito do trabalho, para médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, corroborando com a NR-32 , que proteja o paciente de um patógeno exógeno e o funcionário e sua família de uma agressão por contaminantes selecionados no ambiente hospitalar, com risco de disseminação entre a população?

Pra pensar:

? Grandes hotéis têm vestiários e chuveiros. O funcionário que presta serviços diretos ao cliente, ao chegar, recebe sabonete e toalha da instituição, além do uniforme, que deixa na saída para processamento na lavanderia própria ou terceirizada, garantindo os padrões de higiene.

? Em hospitais no exterior o médico tem seu avental da instituição na própria, onde este é processado.

? Nos Estabelecimentos Assistênciais de Saúde, atendendo a RDC-50 , o espaço denominado vestiário com o número exigido de peças (conjunto de bacia, pia e chuveiro), e armários já existe; implantar rotinas que impactem em mudança de cultura exige um trabalho focado e profissional.

? O pessoal de apoio (lavanderia, manutenção) jamais sai com o uniforme.

2. No nosso contexto temos uma grande leva de novos profissionais, jovens, de forma oposta à realidade encontrada na Europa e nos Estados Unidos, onde a idade média dos profissionais de saúde que atuam no âmbito da enfermagem é de 45 anos, e o turnover decorrente das aposentadorias não está sendo reposto pela falta de interesse das novas gerações.

O que nos chega desses países, como tendência, reflete a necessidade destes de atrair profissionais para a área, e permitir que a instituição funcione com um quadro de pessoal reduzido e de maior idade, instituindo mecanização e automação; equipamentos para deslocar e elevar os pacientes, robôs que organizam a farmácia e cuidam da dispensação, robôs que vão até o leito ?falar? com o paciente, robôs (TUGs) que levam roupas das lavanderias para a distribuição, insumos dos almoxarifados para os postos de enfermagem, amostras colhidas para o laboratório, entre outros.

No nosso mercado de trabalho existem profissionais de enfermagem, em todos os niveis de formação, em busca de colocação. Portanto, fica o questionamento, devemos introduzir robôs para atender os pacientes? Como fica a humanização? Quantos anos de trabalho de um funcionário para amortizar o custo de cada robô? Não seria melhor aplicar esse investimento em tecnologia de atenção direta ao paciente (equipamentos de diagnóstico e terapia, robôs para cirurgia minimamente invasiva)?

Estas são apenas duas entre as questões que devem ser levantadas no planejamento estratégico de um estabelecimento assistencial de saúde no nosso país, tanto quanto a mudança de cenário que se aproxima, com a enfermagem, assim como outros profissionais de saúde , pleiteando redução de carga horária, o que irá implicar em uma maior carga de salários, e na arquitetura, em maiores vestiários.

?O Plenário do Senado aprovou ontem (03/08/10) o Projeto de Lei da Câmara que fixa em 30 horas semanais a jornada de trabalho dos assistentes sociais...O texto seguiu para sanção presidencial.?

Disponível em:

Acesso em 04, ago.2010.

*Dra. Anita E. Negrão Caldas é médica (UNIFESP) e arquiteta (FAAP), com especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (FGV-SP), atuando como consultora na Bross Consultoria e Arquitetura.