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Médico versão 2.0

Article-Médico versão 2.0

Médico versão 2.0 não pode mais se limitar a estudar e cuidar bem dos pacientes. Ele tem que ler muito mais, se comunicar muito bem e agir com responsabilidade orçamentária e social.

Dia 18 de outubro é o Dia do Médico. Estamos vivendo, possivelmente, um dos momentos no qual a profissão está com maior exposição. Se debate o papel social e politico do médico como nunca se fez. Além do mais, se resgata frequentemente a visao quase romântica do profissional com sua maleta adentrando as casas para oferecer suporte e conforto - o que é bem vindo ? mas que deve ser complementado - e não substituído - pela a figura do profissional moderno e adaptado aos tempos atuais: o médico versão 2.0.

O fato é que a medicina vem mudando. Seria contra-intuitivo imaginar que não mudaria, mas o ritmo de mudança é que impressiona. A incorporação de informações atualmente demandaria que um profissional tivesse que ler 1 artigo científico a cada 30 minutos continuamente. Novos equipamento nos apresentaram um mundo de conhecimento até a pouco só disponível em livros de ficção científica. Métodos de concentração de informação, com base em uma estratégia de revisão padronizada, viabilizam atualização geral, mas mesmo assim o caminho das super-especializações se tornou nítido. Algumas especialidades se tornaram  segmentadas ao ponto de não ser infreqüente nos depararmos com pacientes que fazem acompanhamento com mais de meia dúzia de médicos. Até mesmo a medicina generalista não pode ser mais vista de forma superficial, mas deve ser construída e praticada com toda a complexidade de uma especialidade, que  ela efetivamente é. Intuição profissional deve ser calibrada com sólida literature ? ou vice versa ? para ofertar medicina série e bem feita.

Outro aspecto é a comunicação. A inquietação desta geração criou um modelo de relação que demanda pronto atendimento que independe de distâncias, com um toque no telefone celular ou um envio de mensagem eletrônica. Pacientes também vem ao atendimento médico muitas vezes após ter navegado no perigoso mundo das informações cibernéticas não críticas. E vem ilustrados. A relação médico paciente é mais horizontal ? como um conselheiro na tomada de decisão ? do que vertical ? com ordens de cima para baixo.  Com maior ou menor intensidade, este é um fenômenos visto em todas as camadas sociais, e que demanda qualidade e talento em transformar todo tecnicismo disponível em um formato palatável e honesto.

Também cabe reflexão sobre os custos da medicina. Na área do câncer, por exemplo, a média de custo mensal de um novo tratamento com quimioterapia é em torno de US$ 10 mil? e não são, necessariamente, melhores remédios. Na maioria das indústrias e negócios, produtos com resultados equivalentes e dobro do preço muito improvavelmente entrariam no mercado. Em medicina, entretanto, isso acontece? e muito. Um dos motivos é simples: as entidades reguladoras internacionais, em sua maioria, somente avaliam se o medicamento funciona e é seguro, ao invés de julgar o que pareceria pertinente: se é melhor e se o preço está dentro do que a população julga razoável. Ignorar custos de tratamentos, portanto, não é mais aceitável. Quando escolhemos tratamentos, temos que considerar questões financeiras que podem aumentar e prolongar o desgaste pessoal e familiar. Estes custos criam um cenário atuarial que será pago pela coletividade e sempre há o risco de que alguns segmentos da sociedade podem entender que medidas  são para ?racionar? tratamentos,  ao invés de ?racionalizar?. O tema é tão importante que a American College of Physicians (ACP) publicou na edição mais recente  do seu Manual de Ética e incluiu o seguinte item: ?Médicos tem responsabilidade de praticar assistência medica efetiva e eficiente, usando os recursos de forma responsável. Atendimento deve ser parcimonioso utilizando os métodos mais adequados para diagnostico e tratamento do paciente com respeito e usando os recursos sabiamente, contribuindo para garantir a equidade?. Mesmo que o orçamento em saúde seja robustamente aumentado ? o que é improvável a curto prazo ? debates como este devem fazer parte das discussões profissionais e com a sociedade, conduzidos com fundamentos técnicos e racionais, sem deixar  o tema ser contaminado com ideologização ou partidarização.


O fato é que a medicina se tornou mais complexa, mais ágil e mais cara. O médico, embora não seja o único responsável, é elemento fundamental na condução dos debates necessários sobre qual a medicina que a população quer. Neste sentido, o profissional deste século deve desenvolver não só conhecimento técnico de excelência, mas capacidade de comunicação e empatia impecáveis e um compromisso social que evite um colapso gerencial iminente. Todos queremos um médico comprometido com nosso juramento de preservar a saúde acima de tudo e, para tal, precisamos repaginar a figura do profissional que ? antes dotado exclusivamente do estetoscópio e boa vontade ? atualmente precisa manter estes, mas carregar muito mais elementos em sua maleta.