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GULOSEIMAS NO CAIXA DO SUPERMERCADO: UM FATOR DE RISCO PARA DOENÇAS CRONICAS

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Duas das principais revistas científicas mundiais (Science e New England Journal Of Medicine) abordaram um tema muito importante. É reconhecida a importância do estilo de vida (alimentação, atividade física, tabagismo, consumo excessivo do álcool  e stress) na prevalência das doenças crônicas não-transmissíveis. A principal consequência é a obesidade e a sua relação com as doenças cardiovasculares e o diabetes. A maioria das pessoas com sobrepeso ou obesas afirmam que desejam perder peso, mas só uma minoria consegue. Isso comprova que o comportamento humano não tem correlação direta com as metas professadas.

Em nosso país, a  maioria dos programas e ações tem se mostrado pouco efetivas, como podemos constatar pela pesquisa VIGITEL realizada anualmente pelo Ministério da Saúde. Um estudo da FIOCRUZ prevê que, nos próximos anos, a prevalência do diabetes tipo 2 irá dobrar.

Estas ações, frequentemente, estão baseadas na disseminação de informações, seja em eventos (palestras), cartazes, folhetos ou mensagens na internet. Elas se baseiam na premissa de que as pessoas somente tomam decisões conscientes para a adoção ou não de determinado comportamento. No entanto, as evidências científicas tem demonstrado que a maioria dos comportamentos são automáticos, movidos pelos estímulos do ambiente, resultando em atitudes não provenientes de uma reflexão consciente. Muitas vezes o comportamento pode ser até o oposto do que a pessoa poderia decidir, de maneira consciente. Nesta condição, as pessoas têm focos conflitantes (como apreciar um pedaço de bolo ou ter uma meta de perder peso).

As estratégias de marketing e venda, muitas vezes atuam com fatores contextuais que induzem determinados comportamentos. Um exemplo claro é a disposição de balas, refrigerantes e guloseimas junto à caixa registradora nos supermercados, numa estratégia clara de marketing de impulso, levando as pessoas a adquirir produtos na ?hora da verdade? que são automáticas e, em geral, dura menos de um segundo. Obviamente, a compra leva ao consumo de alimentos ricos em açúcar, gorduras e sal. Sabe-se que a colocação dos produtos nas pontas das prateleiras aumenta as vendas em até  30%.

Os hábitos se constituem numa classe especial de comportamento automático. Eles se estabelecem pela rotina e repetição. Neste contexto, os estímulos ambientais podem desencadear atitudes habituais na ausência de um desejo consciente. Este é o motivo pelo qual campanhas em massa de informação tem efeito limitado. Comportamento altamente arraigados na rotina são muito difíceis de mudar. Algumas ações podem ser implementadas com o objetivo de modificar alguns comportamentos automáticos. Uma delas seria a realização de modificações no ambiente, particularmente baseada na lei do menor esforço. Utilizar os elevadores, em geral, é mais fácil do que caminhar pelas escadas. No entanto, tornar as escadas mais agradáveis e reduzir a velocidade dos elevadores pode contribuir para uma escolha saudável.  Além disso, é efetivo o aumento da disponibilidade de alimentos saudáveis, por exemplo, nas cantinas e nos ?coffee-breaks? de eventos ou alterar a quantidade dos alimentos disponibilizados (em porções menores) ou a sua apresentação.

Naturalmente, a implementações de intervenções efetivas vai exigir a superação de algumas barreiras, inclusive econômicas, filosóficas e políticas. Os gestores dos programas de saúde e qualidade de vida devem considerar estas condições e não gerar novas demandas cognitivas para as pessoas e correr o risco de ter resultados aquém do esperado na mudança de comportamento.

Fontes: N.Engl.J.Med. 37(15)1381-1383,2012 e Science 337:1493-1494,2012.