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A solução perfeita para os hospitais!

Article-A solução perfeita para os hospitais!

Num momento em que todos clamam por mais verbas e melhores condições de remuneração, os hospitais bem quem poderiam voltar seus olhares para seus processos internos, principalmente os processos gerenciais relacionados à atuação do seu Corpo Clínico.

Não gostaria de aproveitar esse

espaço para ficar apontando coisas que emperram o desempenho dos hospitais no

Brasil. A tentação de listar novos problemas e de reforçar antigos é muito

grande, mas dessa vez vou me ater a um aspecto assistencial que há muito tempo

me incomoda profundamente na minha prática diária como médico: o desperdício.

Seria uma repetição desnecessária

apontar os enormes bueiros por onde hospitais veem se esvair perdas de receitas

e oportunidades de melhoria contínua a partir de suas práticas, que vão desde

torneiras mal reguladas por onde muitos litros de água se perdem até

procedimentos complexos não pagos (ou pagos em parte) em função de algum filtro

imposto por fontes pagadoras ou condução inadequada da assistência. O fato é

que os hospitais têm esse péssimo hábito de desperdiçar. Mas não estou

afirmando que não existem pessoas altamente competentes nesse terreno, que não

sejam capazes de identificar onde os escoadouros estão e de propor medidas para

que os fechem, principalmente quando o desperdício se dá por inadequações

logísticas, materiais, estruturais, funcionais, legais e até mesmo aquelas

relacionadas a recursos humanos em geral. A depender da alta direção e dos

tetos orçamentários nem sempre acessíveis, suas ações podem gerar a adoção de boas

medidas, imediatas ou não. Na verdade, se todos os problemas de perdas dos

hospitais resultassem desse tipo de perda, seu desempenho financeiro seria bem

mais vigoroso do que na média é.

O grande problema são as perdas

insensíveis, intangíveis e invisíveis, na maioria das vezes negligenciadas, não

auditadas, não enfrentadas e frequentemente não responsabilizadas pelo mau

desempenho dessas organizações. Destas, sem a menor sombra de dúvida, o montante

proporcionado pelas inadequações dos atos médicos, ou seja, de seu Corpo

Clínico, é tão grotesco e óbvio que não dá para imaginar o atingimento de

padrões de qualidade e de desempenho financeiro-operacional de hospitais sem

que as mesmas sejam, ao menos, mensurada.

Acima do dever de proporcionar o

bem estar aos pacientes sob seus cuidados e se empenhar na resolução dos

problemas de saúde atinentes aos mesmos, papel central da função do médico,

existem questões de natureza prática que deveriam ocupar lugar central na

condução clínica hospitalar em geral, que passam ao largo das preocupações

tanto de quem está na ponta do sistema, o médico propriamente dito, quanto de

quem deveria estar cumprindo seu papel fiscalizador da boa prática dentro dos

princípios da economia da saúde, ou seja, o gestor hospitalar. Isso para não

falar da pouca preocupação em se criar um ambiente apropriado para o

estabelecimento de métricas que privilegiem a qualidade com adequabilidade

econômica, por parte de muitas fontes pagadoras, dentre elas, e de forma

historicamente recorrente, os orçamentos públicos.

Existem pressupostos que tentam

dar uma explicação a este fato, sobejamente conhecido, mas certamente não

enfrentado, a começar pelos currículos das escolas médicas: muitos analistas

enxergam como uma das causas para a pouca preocupação com custos a falta da

adoção de disciplinas que incluam de alguma forma discussões acerca de

políticas públicas, economia da saúde e administração hospitalar. Antes dessa

revolução tecnológica que estamos assistindo já era um esforço heroico incutir

na cabeça dos estudantes a noção de que nossa realidade sanitária e de alocação

de recursos, públicos ou privados, apresenta problemas e equívocos. Não eram

poucos os que tentavam mostrar que era seu papel, enquanto futuro profissional,

ajudar a amenizar essa realidade em nome do bem estar social coletivo. Mas hoje

ficou bem mais difícil essa tarefa.

Devido a uma pressão absurda

nunca antes vista para a adoção de práticas médicas alinhadas com interesses

corporativos e ligados a produtores de insumos na área, e com a facilidade de

acesso a publicações de toda ordem (boa parte delas de má qualidade), ficou

mais fácil defender pontos de vista técnicos suspeitos, travestidos de

recomendações e protocolos de última linha que pretensamente visam favorecer a

uma subpopulação específica de pacientes que em muitos casos não enchem um

vagão de metrô. Esse fenômeno sempre existiu, mas no passado alguém sempre

pagava a conta e os instrumentos de avaliação de tecnologias pecavam pela

postura acrítica (hoje não é mais assim, pelo menos não imaginamos que seja). E

parece justo que toda prática deva ser rigorosamente confrontada com padrões de

custo-benefício apropriados para aquela situação. Afinal, quem paga uma conta tem

todo o direito de saber porque paga.

Na outra extremidade da corda

está as estrutura hospitalar, soberba e ao mesmo tempo sofrida, tentando achar

meios para melhor definir seu papel assistencial e seu locus no mercado,

pressionada por metas e necessidade de adequações legais ou de auditagem,

buscando reconhecimento na comunidade e entre seus pares através de iniciativas

de Acreditação (muitas vezes em vão) e eternamente buscando soluções que tragam

uma melhor receita operacional nas suas atividades. Mas, como alguém já disse,

o hospital enquanto ser dinâmico e provido de força própria não existe. O que

existem são pessoas, são valores e são percepções de realidade que podem variar

imensamente entre si. E dentre essas, cabem aos gestores imprimir esses valores

através de técnicas focadas no melhor desempenho a baixo custo, exercendo seu

papel de líder justamente num cenário nunca antes tão necessário.

É muito difícil experimentar no

cotidiano dos hospitais a sensação de que os recursos são implacavelmente

utilizados de forma inadequada, algumas vezes até irresponsável, em nome de uma

pseudo boa prática que visa muito mais a super-utilização de recursos para uma

sobre-valorização de receitas, principalmente no escopo da assistência

suplementar e privada. Nos hospitais públicos, dentre muitas outras

contradições, não é difícil encontrar uma perniciosa combinação de despreparo

técnico, imaturidade profissional e falta de seguimento de parâmetros básicos

que incluam bom senso e racionalidade na utilização dos parcos recursos que

todos conhecem bem.

Selos de Acreditação e tv a cabo

nos quartos não são a melhor expressão da qualidade em si, ela não pode existir

só nos jornais e revistas para que todos saibam que ela existe. Qualidade

assistencial é um valor que vai muito além da própria mensuração. Consiste na

absorção de conceitos e princípios que, transmitidos a todos nela envolvidos,

inclui rigorosamente a necessidade de supervisão de seus pressupostos, além de,

me perdoem os líricos, fiscalização permanente daquilo que se convencionou

chamar de boas práticas. Ou seja, um bom capataz.

Passando do teórico para o

prático, vão aí alguns exemplos de como se pode amenizar essa questão, sem a

menor pretensão de esgotar o assunto:

* comissões de revisão de óbito,

do prontuário do paciente e de longa permanência não podem ter papel

figurativo. Devem ter autonomia chancelada pela alta direção para propor,

implantar e monitorar boas práticas relacionadas à permanência hospitalar dos

pacientes internados;

* a unidade de Emergência deve

ser privilegiada com os recursos de espaço físico, de pessoal e de logística

necessários para a resolução de problemas que dispensem a internação

propriamente dita, privilegiando a resolução rápida, pontual e objetiva dos

problemas e aumentando o turnover de pacientes. Além disso, devem ter em seus

quadros profissionais experientes e bem remunerados para compor o filtro de

alocação de recursos e resolução de problemas clínicos mais complexos

(diaristas ou rotinistas) que muitas vezes são deixados para que profissionais

sem muito treinamento o façam;

* rotinas que privilegiem a

análise criteriosa de custo-benefício naqueles pacientes que se encaixem no

conceito, sempre muito subjetivo, de terapia fútil: incentivar a criação de

comissões de cuidados paliativos e seu papel consultor, junto com a Psicologia

hospitalar;

* diretrizes e protocolos não são

meros documentos para mostrar que existem. Se existem, é porque alguém

presumivelmente teve o trabalho de trazer para aquela organização uma proposta

sobre o melhor jeito de fazer as coisas naquele local. Se não estiver à altura

da organização, deve ser repensado. Senão, deve ser seguido. Se contiver coisas

absurdas, o próprio mercado condena. O que não pode é ser de mentirinha;

* priorizar insumos que após

análise criteriosa possam ser utilizados, sem perda de qualidade, para o

tratamento de pacientes internados: parece óbvia essa proposição, mas não é.

Aquisição não criteriosa de equipamentos, materiais, saneantes, drogas,

consultorias e alterações estruturais que fujam do “core” da organização ainda

são utilizados em larga escala (para não dizer dos incentivos paralelos e

escusos que acontecem tão comumente, mas essa é uma outra história);

* transformar a cabeça do gestor

ou da organização: essa é a parte mais difícil. Seja por uma total

impossibilidade física do gestor estar em vários locais ao mesmo tempo, seja

por total incapacidade de percepção desses fatores, a organização tende a

subestimar seu desperdício técnico. Afinal, por falta de olhos atentos, ninguém

dá muita atenção mesmo a isso...

É por isso que eu desenvolvi uma opção para salvar os hospitais dessas

reflexões, aproveitando o clima de baixo astral pela derrota na Copa do mundo e

o ano eleitoral: quero convocá-los para me ajudarem a propor aos nossos

ilustres candidatos para que incluam em suas plataformas de promessa o “Bolsa

Desperdício”!! Uma forma prática e oficial de ressarcir as inadequações e falta

de gestão com o dinheiro público ou privado, bem ao gosto de nossa sociedade!!!

Piadas sempre são legais, mas o

assunto é sério. Na falta de espaço para aumentar o orçamento, que tal olhar

para o próprio umbigo e tentar melhorar o que é de sua inteira responsabilidade?

O Gestor Clínico pode e deve

assumir seu papel. Sob seu comando estão as pessoas que vão ao final colocar a

organização nesse ou naquele rumo.

Se não for assim, não é gestor. É

encarregado.