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A Máquina que faz PING

Article-A Máquina que faz PING

A inovação e incorporação de tecnologias médicas constituem um cenário complexo e que merecem reflexões.


- As contrações estão mais freqüentes e intensas, doutor!
- Pode levar a paciente para sala de parto ? orienta o médico.
Entram na sala de parto, olham ao redor, e um dos médicos menciona:
- Meio vazio por aqui.... traga equipamentos, enfermeira..... o EEG, monitor de PA e desfibrilador.....
- ... E aquela máquina que faz PING! ? completa o outro médico
- Isso.... e traga o aparelho mais caro , no caso do administrador aparecer...
Com a sala cheia de equipamentos os médicos, agora mais satisfeitos questionam
- ... mas ainda parece que falta alguma coisa...-
- O que será?
Simultaneamente se olham.
- Ah! ... a paciente!

A equipe se coloca a procurar, no meio dos equipamentos, e a paciente é localizada. Na sequência, é informada sobre a sorte que tem de ter a sua disposição a máquina que faz PING e o aparelho mais caro.

Esta cena é do filme Monthy Python: o Sentido da Vida, do grupo inglês de 1983. Impressionante como ainda é atual.

Este tema remete para vários debates: A menção (genial) sobre os equipamentos com caricato afastamento da questão humana é tão presente nos dias atuais que se corre o risco de nem parecer tão non-sense. Como se a máquina substituísse o profissional, o modelo de incorporação de tecnologias, e não só equipamentos médicos, tem criado em geração de técnicos que parecem mais distantes do paciente. PING.

A densidade de equipamentos, com distribuição completamente irregular pelo país, contribuem ainda mais para este cenário preocupante. Por exemplo, enquanto o Canadá tem 8 máquinas de ressonância nuclear magnética para cada milhão de pessoas, a França e Austrália tem 6, o Reino Unido tem 5, o Brasil tem 17 para quem tem plano de saúde e 2,5 para quem depende do SUS. PING.

Em medicina existe um fenômeno de mercado já bem descrito: quanto maior a oferta, maior o consumo. Aliado a uma séria de distorções históricas, incluindo a remuneração insuficiente que a maioria dos médicos recebem (pública e sistema suplementar), a solicitação de exames virou uma rotina, eventualmente para exclusiva proteção dos médicos de processos judiciais. PING.


Algumas tecnologias parecem muito interessantes mas não agregam vantagem clinicamente relevante, a luz de medicina baseada em evidência sob olhar critico. O diagnóstico através de imagens e testes não é algo milagroso e é fundamental que um bom profissional faça o exame e a interpretação crítica dos resultados. Ter acesso a um médico que use o tempo necessário para explicar com detalhes riscos de cada exame e o que ele pode contribuir para tomada de decisão é um grande desafio para muitos brasileiros. PING.

O ritmo de inovação científica pode ser, felizmente, rápido.... mas o registro oficial no país para incorporação de novas tecnologias não é claro e tem critérios, no mínimo, questionáveis e heterogêneos. Existem alguns exemplos em que o medicamento para determinada doença é aprovado, mas o teste para avaliar se o medicamento é indicado, não. PING.

No Brasil, além do mais, discutimos fraudes e desvios que escasseiam mais o orçamento da saúde. Repito o que tenho dito e escrito: discussões sobre incorporação de exames sofisticados ficam prejudicadas pelo fato de que não adianta fazer um diagnóstico preciso e precoce se a fila de espera para o tratamento da doença identificada for maior do que evolução natural da doença.

Se não fosse trágico, seria engraçado. PING!