A saúde digital, com a promessa de revolucionar a forma como acessamos e gerenciamos nossa saúde, tem ganhado cada vez mais espaço no debate público brasileiro. A pandemia da Covid-19 acelerou a implementação de diversas soluções digitais no setor, desde telemedicina até  plataformas digitais para permitir a interação entre atores da saúde, como sistemas de informação, prontuários eletrônicos e elementos da Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT).

Mas a realidade é mais complexa do que aparenta. Embora os avanços sejam notáveis, especialmente na área de informatização e governança, diversos desafios ainda precisam ser superados para que a saúde digital se torne uma realidade acessível e equitativa para todos os brasileiros. 

No entanto, o mais importante e relevante é a busca pela democratização do acesso a informações precisas sobre a saúde, colocando-as à disposição de quem precisa, quando precisa.

A Estratégia de Saúde Digital (ESD) brasileira, programa do governo federal com objetivos ambiciosos, representa um importante passo em direção à modernização do sistema. No entanto, a análise do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), estudo realizado entre abril e julho de 2022, revela que o caminho ainda é longo. 

A falta de protagonismo dos usuários do SUS, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade, é um dos principais desafios. A construção de uma saúde digital sem a participação ativa da população pode gerar resistências e barreiras à implementação, além de aumentar o risco de judicialização.

Outro ponto relevante que merece atenção dos gestores é a necessidade de investir na formação e capacitação de profissionais de saúde para o uso das novas tecnologias. A saúde digital não se restringe a ferramentas e softwares, mas exige uma mudança cultural e a adaptação de processos de trabalho. Além disso, a interoperabilidade entre os diferentes sistemas de informação é fundamental para garantir a troca de dados de forma segura e eficiente.

A desigualdade digital também é um obstáculo a ser superado. A falta de acesso à internet e a equipamentos adequados em diversas regiões do país limita o alcance das soluções digitais em saúde. É preciso garantir que as políticas públicas de saúde digital sejam inclusivas e levem em consideração as especificidades de cada localidade.

O universo digital tem o potencial de transformar o sistema de saúde brasileiro, mas para que isso ocorra é preciso superar diversos desafios. A participação da sociedade civil, a qualificação de profissionais, a garantia da interoperabilidade e a redução das desigualdades digitais são elementos essenciais para construir uma saúde digital mais justa e eficaz. 

É fundamental que o debate sobre o tema seja aprofundado, com a participação de todos os atores envolvidos, para que possamos construir um futuro em que a tecnologia seja uma aliada na promoção da saúde e do bem-estar de toda a população.

Governantes, profissionais, pesquisadores e sociedade civil precisam trabalhar em conjunto para garantir que a saúde digital seja um direito de todos e não apenas um privilégio de poucos. A construção desse ecossistema mais humano e equitativo depende do engajamento de cada um de nós.

* Mauren Souza é CEO e cofundador da Doutor Ao Vivo. Formado em Ciência da Computação e pós-graduado em Gestão de TI, soma mais de 20 anos de experiência em tecnologia. O executivo também é cofundador da FCJ Venture Builder, que já investiu em mais de 300 startups desde 2013.