Com o encerramento de 2024, mais um ciclo eleitoral chega ao fim, marcando a renovação ou continuidade de projetos municipais em todo o país. Entretanto, um desafio permanece constante e urgente: a melhoria da saúde pública no Brasil. O setor enfrenta obstáculos significativos, como a escassez de recursos, aumento da demanda e dificuldades no acesso aos serviços básicos. Nesse contexto, a tecnologia segue sendo uma grande aliada para transformar o sistema, tornando-o mais eficiente, acessível e humano. No centro dessa revolução está a integração de dados, que otimiza processos e promove uma experiência de cuidado mais segura e ágil para pacientes e profissionais.
Hoje, muitos hospitais e laboratórios ainda dependem de planilhas e sistemas fragmentados para gerenciar suas operações. Esse modelo, não apenas aumenta o risco de erros humanos, mas também reduz a confiabilidade dos dados, impactando negativamente a qualidade do atendimento.
Em 2020, o Ministério da Saúde instituiu, por meio da Portaria GM/MS nº 1.434, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), uma plataforma nacional de interoperabilidade voltada à integração de informações entre os diferentes pontos da Rede de Atenção à Saúde, nos setores público e privado. Parte do programa Conecte SUS, a RNDS traz benefícios como:
- Controle em emergências sanitárias, como a pandemia de COVID-19.
- Melhoria no atendimento e acompanhamento dos pacientes.
- Gestão mais eficiente dos recursos públicos.
- Estímulo à inovação tecnológica.
A expectativa é que, até 2028, a RNDS se consolide como a principal plataforma de inovação e serviços digitais em saúde no Brasil. No entanto, é importante destacar que essa integração inicial entre sistemas — sejam legados ou novos — ainda não configura uma interoperabilidade plena no setor de saúde do país.
Lições do open finance para o setor de saúde
Ao meu ver, a interoperabilidade na saúde pode se inspirar no conceito de open finance, que promove o compartilhamento estruturado e seguro de dados financeiros, sempre com foco no benefício do usuário final. Esse modelo, que envolve o consentimento explícito do cliente, pode oferecer insights valiosos para o setor de saúde:
- Consentimento do paciente como pilar central
Assim como no open finance, o controle sobre os dados deve estar nas mãos do paciente. Isso fortalece a confiança e o engajamento no sistema de saúde.
- Adoção de padrões de dados universais
No open finance, padrões como APIs abertas permitem a comunicação entre diferentes plataformas. Na saúde, adotar padrões poderia facilitar a troca de informações entre hospitais, laboratórios e outras entidades.
- Fomento à inovação
O compartilhamento de dados no open finance impulsionou o surgimento de fintechs. Na saúde, essa lógica pode estimular startups e empresas de tecnologia a desenvolverem soluções inovadoras em telemedicina, inteligência artificial e monitoramento remoto.
- Segurança e privacidade dos dados
A saúde pode seguir os protocolos rígidos de segurança do open finance, como criptografia avançada e autenticação multifator, garantindo conformidade com a LGPD e proteção aos dados sensíveis dos pacientes.
O compartilhamento seguro e estruturado de dados tem o potencial de melhorar exponencialmente a experiência do paciente. Na saúde, isso se traduz em diagnósticos mais precisos, continuidade do cuidado e redução de redundâncias. Além disso, integrações eficientes ampliam o acesso a serviços de qualidade, promovendo maior segurança e redução de custos.
Vale reafirmar que a integração da tecnologia à saúde pública não é apenas uma questão de eficiência operacional; é, acima de tudo, uma forma de garantir que cada pessoa tenha acesso ao cuidado que necessita. A digitalização da saúde deve ser encarada como um investimento estratégico que salva vidas, otimiza recursos e coloca o paciente no centro do sistema.
*Iomani Engelmann é Diretor de Marketing e Comercial da Pixeon.