A tuberculose (TB) continua sendo um desafio significativo para a saúde pública global, com 10,6 milhões de casos notificados em 2021. No Brasil, mais de 84 mil novos casos e cerca de seis mil mortes são registradas anualmente, colocando o país entre os 30 com maior incidência da doença, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, esses números podem estar subestimados, especialmente entre crianças, devido à dificuldade na confirmação bacteriológica e à semelhança dos sintomas com outras infecções respiratórias.

Para ampliar o conhecimento sobre a tuberculose pediátrica, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), conduz desde 2021 um estudo por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde. A pesquisa se divide em duas frentes: o estudo TBPed, que investiga a prevalência da doença em crianças de seis meses a 15 anos incompletos, e o GTX, que compara três estratégias para avaliar a necessidade de tratamento de crianças com menos de 10 anos que tiveram contato domiciliar com pacientes com tuberculose ativa.

“Nosso objetivo é aprimorar o diagnóstico e promover mudanças no padrão de investigação da doença. Sem dados precisos sobre a incidência da tuberculose pediátrica, é difícil definir estratégias de controle eficazes”, afirma Márcia Polese, líder operacional do TBPed.

Coleta de dados em diversas regiões do Brasil

O estudo TBPed está sendo realizado em 22 centros de pesquisa distribuídos nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste. Já foram coletados todos os dados de crianças e adolescentes hospitalizados por problemas respiratórios, enquanto o recrutamento de participantes ambulatoriais com suspeita de tuberculose segue em andamento.

A expectativa inicial era de que a incidência da tuberculose entre a população hospitalizada variaria entre 2% e 3%, mas os dados preliminares indicam uma taxa superior. No Rio Grande do Sul, participam do estudo as cidades de Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Viamão, Cachoeirinha e Passo Fundo.

Para aumentar a precisão diagnóstica, o estudo adota a técnica do escarro induzido, que melhora a qualidade das amostras coletadas, reduz custos e garante maior segurança no procedimento. Pesquisadores do Hospital Moinhos de Vento foram à África do Sul para aprender a aplicação do método em crianças.

“O escarro induzido permite a coleta de secreções das vias respiratórias inferiores, melhorando a detecção da tuberculose pulmonar, especialmente em pacientes com dificuldade em produzir escarro espontaneamente”, explica Marcelo Scotta, infectologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento.

Até 18 de março deste ano, foram realizadas 2.545 coletas de escarro induzido, o que representa 81% do total necessário para a conclusão do estudo. O TBPed encontra-se no segundo triênio (2024-2026) e a previsão é de que a pesquisa seja finalizada no próximo ano.

Comparação de estratégias diagnósticas

O estudo GTX também está no segundo triênio e já coletou 47% dos dados previstos. A pesquisa, conduzida em seis centros nos estados do Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, busca comparar três combinações de exames para avaliar a necessidade de tratamento da tuberculose infecção ou da tuberculose ativa. As estratégias analisadas incluem:

  • Protocolo padrão da OMS e do Ministério da Saúde: rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e radiografia de tórax.
  • Protocolo alternativo 1: rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e teste rápido molecular.
  • Protocolo alternativo 2: rastreamento de sintomas e radiografia de tórax.

Após a randomização, se o tratamento for recomendado e o participante concordar, ele será acompanhado pela equipe do estudo para monitoramento da adesão e possíveis eventos adversos.

“Com essas comparações, poderemos avaliar se abordagens mais simplificadas aumentam a taxa de indivíduos que iniciam o tratamento para tuberculose infecção”, conclui Márcia Polese.