As taxas de mortalidade materna em São Paulo chamam a atenção. Dentro dos limites da cidade, os dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que, entre altos e baixos, os números chegaram a quase 47 mortes para cada 100 mil nascidos vivos no período de 2016 a 2018. Já no que diz respeito ao Estado todo, o recorde foi de 61 óbitos.
Para tentar reverter essa situação, a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) faz um trabalho de base com os Cursos de Emergências Obstétricas (CEO). Em 21 de março, a realização acontecerá no Hotel Radisson Paulista. O objetivo é preparar os obstetras para lidarem com situações de emergência em hipertensão, hemorragia e infecção, evitando maiores complicações e diminuindo, assim, a mortalidade materna no Estado.
Após as aulas teóricas, os alunos participam de simulações práticas do atendimento. Para a dra. Fernanda Spadotto, diretora do Ambulatório de Alto Risco da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e instrutora do CEO, “o maior diferencial é sistematizar conceitos de forma a evitar falhas”.
Tal proposta auxilia o público-alvo (profissionais da saúde que prestam assistência às gestantes e puérperas) a terem uma formação homogênea quanto às melhores orientações técnicas e científicas.
“O CEO tem um método hegemônico de aprendizado que, associado ao raciocínio clínico, permite a consolidação do conhecimento e a aplicação objetiva na prática. É um curso teórico-prático que serve como grande motivador de mudanças na realidade da assistência”, completa dr. Fabiano Elisei, coordenador da Obstetrícia do Hospital Maternidade Interlagos e também instrutor do curso.
A formação, que já instruiu em torno de 550 obstetras, enfermeiras e auxiliares de enfermagem, permite ainda uma maior integração das equipes. “Queremos que a emergência seja resolvida da melhor forma com cada profissional dando o máximo de si. Nesse contexto, o papel de cada um na emergência é formalizado”, explica dr. Gabriel Monteiro Pinheiro, ginecologista, diretor médico de clínica particular e professor da Faculdade de Medicina Santo Amaro.
Outro instrutor, o dr. Silvio Martinelli, médico assistente da Clínica Obstétrica do HCFMUSP, acrescenta ainda: “A dinâmica favorece a comunicação entre participantes e instrutores, onde experiências são trocadas de forma contínua”. Para os docentes do curso, a transmissão de conhecimento é um dos pontos altos da iniciativa.
O treinamento, porém, não se restringe à cidade de São Paulo, expandindo-se para o interior. Na opinião do dr. Adalberto Aguemi, assessor técnico da Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, “essa cultura da qualidade e da segurança obstétrica deveria ser pré-requisito em todas as maternidades do Brasil”.
O dr. Carlos Tadashi, instrutor membro da Divisão de Clínica Obstétrica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP), concorda e chama a atenção dos colegas para a necessidade de aprimoramento do profissional da saúde, principalmente no que diz respeito às doenças que matam mulheres no período gravídico-puerperal. “Ao poder público, cabe fomentar tais ações de capacitação”, pontua.
Por fim, dra. Rosiane Mattar, Diretora Científica da SOGESP, destaca o caráter inovador do curso e sintetiza: “O intuito é proporcionar a base para a boa assistência, tornando o médico mais seguro e preparado. A equipe de atendimento passa a trabalhar em harmonia e a mulher é beneficiada pelo alto nível do trabalho e pela diminuição dos índices de mortalidade materna”.
