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Telemedicina e a realidade brasileira

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As condições e complexidades brasileiras são bastante propícias para o desenvolvimento da telemedicina.

Na última semana de outubro, um pequeno avião que voava de Santa Maria do Boiaçu para a capital de Roraima, Boa Vista, fez um pouso de emergência e seus ocupantes ficaram perdidos por quatro dias na selva até serem resgatados por um helicóptero da Força Aérea Brasileira.

E o que isto tem a ver com telemedicina?

Pode ter muita coisa. O avião levava na fuselagem a marca 'Saúde no Ar', que identifica um programa do governo estadual para atender áreas remotas. Além do piloto, os passageiros eram três pacientes, incluindo uma mulher grávida e um técnico de enfermagem. O objetivo da viagem era atendimento médico, que teria de ser feito na capital, a mais de 250 quilômetros de distância, por falta de recursos no local de moradia dos pacientes.

Santa Maria do Boiaçu é uma vila de Rorainópolis, município com 26 mil habitantes no Sul Roraima. Com apenas seis UBS, é um dos locais que precisou de Mais Médicos e recebeu um profissional cubano e dois bolivianos para participarem do atendimento de saúde da população.

Entre os 5570 municípios brasileiros há muitas outras “Santa Maria do Boiaçu”. São áreas remotas, principalmente na região norte, com baixa densidade populacional e precariedade geral, onde brasileiros adoecem, precisam de assistência médica e raramente vão encontrar um avião disponível para levá-los ao médico, ou ter a sorte de serem resgatados sãos e salvos depois de um pouso de emergência e quatro dias de sobrevivência na selva.

Com mais de 200 milhões de vidas dependendo de saúde pública ou privada num país de dimensões continentais, com tantas complexidades e carências, o Brasil precisa intensificar rapidamente o uso dos recursos da telemedicina. Já temos algumas experiências em andamento no setor público e na iniciativa privada, mas podem ser consideradas ainda tímidas diante do seu enorme potencial de soluções.

Na campanha eleitoral que terminou recentemente, a necessidade de dar mais atenção para a saúde dos brasileiros foi amplamente explorada pelos então candidatos. Agora que um novo governo terá início, é o momento ideal para o Ministério da Saúde incluir a telemedicina entre as políticas prioritárias da saúde pública no Brasil. Em um estudo publicado sobre o tema (Telemedicina – Oportunidade e Desenvolvimento nos Estados Membros), a Organização Mundial de Saúde define as tecnologias de informação e comunicação como sendo de grande potencial para tratar de alguns dos desafios enfrentados pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento proporcionando serviços de alta qualidade de cuidados de saúde, de forma acessível e rentável. Além disso, aponta as vantagens da telemedicina para superar barreiras geográficas e levar atendimento especialmente em áreas rurais e comunidades carentes, que em geral sofrem de falta de acesso aos cuidados de saúde.

As condições e complexidades brasileiras são bastante propícias para o desenvolvimento da telemedicina. O país dispõe de tecnologia, conta com pesquisadores que tiveram trabalhos premiados internacionalmente, tem acesso a equipamentos e softwares necessários e, principalmente, vem desenvolvendo uma comunidade com fornecedores e prestadores de serviços plenamente atualizados com o que há de mais moderno em telemedicina em todo o mundo. Havendo decisão política e investimentos públicos suficientes, o Brasil pode se destacar neste campo e levar o atendimento médico a voos mais altos com mais qualidade e segurança para pacientes e profissionais de saúde.

Infelizmente, como tudo no Brasil, o que impede o amplo uso da teleconsulta, salvando milhões de vidas e aumentando a capilaridade dos serviços médicos especializados para todas as áreas do país e uma resolução arcaica, e, na minha opinião, errônea, do Conselho Federal de Medicina que proíbe o médico de realizar teleconsultas. Assim sendo, vivemos um problema cultural e regulatório, onde a tecnologia, os profissionais e os pacientes existem, mas não podemos usar para benefício geral da população.

Fonte da imagem: DroneAeroIMagens