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Stanford: "Não se espelhem nos EUA", diz Capasso

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Stanford é reconhecida mundialmente por seus centros de pesquisa avançados e por ser uma das mais prestigiadas universidades do mundo. A sua escola de medicina integra professores de excelência com hospitais de alto nível na Califórnia. Conversamos com Robson Capasso, médico brasileiro que hoje chefia a divisão de Medicina do Sono na instituição, bem como o programa de Biodesign.

Ele conta um pouco da relação entre o que se espera sobre viver e trabalhar fora do Brasil, as perspectivas de Stanford em relação à tecnologia e saúde, e o programa o qual lidera. “A pior besteira é sair do Brasil, a segunda é voltar. Porque você não se encaixa mais direito, se você não tiver maturidade e um plano bem estruturado”, diz ele lembrando de sua trajetória. Capasso é formado no Brasil, e com especialização em cirurgia de cabeça e pescoço em Miami. Logo após finalizar a especialização, seu orientador lhe disse que o objetivo do programa era produzir novos líderes para fora, não para os Estados Unidos. Para não sair do país, ele entrou em um outro programa, desta vez em psiquiatria, e mais tarde, em medicina do sono em Stanford. “Aqui em Stanford as pessoas gostam de gente estranha, que tenha um background variado”, disse ele rindo.

Segundo Capasso, a dinâmica no Vale do Silício é diferente. Todas as profissões sofrem com o involuntário direcionamento ao empreendedorismo. Médicos são tão frequentemente abordados por estudantes e fundadores, quanto por pacientes. “Toda hora tem alguém pedindo mentoria para a sua startup, querendo te contratar como consultor, ou um fundo que queira ouvir uma opinião especializada”

Após participar de várias iniciativas do programa de Biodesign e Lean, como mentor e palestrante, atualmente ele cuida globalmente do projeto. O objetivo é montar times multidisciplinares, com engenheiros, médicos, cientistas de dados, designers, e outras profissões, para resolver problemas de saúde e impulsionar a inovação. No programa, os alunos montam o plano, analisam o mercado, a propriedade intelectual, estratégias de implementação, métricas de qualidade e resultado. Ao final, os participantes que tiveram as melhores estruturas são motivados a competirem por financiamento e continuarem a desenvolverem suas soluções fora do programa.

De modo geral, as instituições compram grandes equipamentos, como o Da Vinci, por exemplo, e tentam fazer de tudo com ele. Adaptar a solução ao problema, enquanto que o Biodesign pensa diferente: observar a necessidade, e então propor uma solução. Todo o conceito é embasado por design thinking, em como fazer o consumidor ver valor no produto.

“Em Stanford acontecia [anos atrás] uma coisa bem curiosa, nós tínhamos muito dinheiro, então nós não precisávamos ser bons. Mas nos últimos dois anos, com a tendência de saúde baseada em valor, nós tivemos que começar a nos preocupar com isso.”, revelou. Para os próximos dez anos, a estratégia de Stanford é realizar novas descobertas biomédicas, com base high tech high touch, e ampliar o impacto global da instituição, com a meta de influenciar 2 bilhões de pessoas até 2027.

Nos anos 90, o Brasil gastava 5% do seu PIB em saúde, hoje já estamos por volta dos 9%. Capasso sugere fortemente que os médicos e sistemas de saúde não se espelhem nos Estados Unidos. Isso porque a fatia gasta com saúde no país é quase 20% do PIB. “É o maior business nos EUA. Se olharmos a expectativa de vida vs o quanto se gasta em saúde, é muito fora da curva. A expectativa de vida pela primeira vez na história americana, caiu, e cada vez mais existe a discussão do que é medicina baseada em valor.”, e continua, “É um novo modelo que visa a melhor experiência, a assistência, o acesso e diminua o custo. Com os novos planos emergindo pós-obamacare, cada vez mais aumenta-se a coparticipação do paciente. Isso, de alguma forma faz com que eles tenham mais voz, tomem a responsabilidade da decisão.”, disse ele. Capasso comenta um dado curioso: o paciente do Vale do Silício, é alguém muito bem preparado e informado, mas quando ele sugere as opções de tratamento para uma mesma situação, as escolhas entre eles são notavelmente distintas. Isso significa que não existe uma resposta única para cada caso, e sim o oferecimento das melhores terapias e respeito da decisão individual.

Cerca de 45% dos médicos não querem mais exercer a profissão na Califórnia. Parte por perda de prestígio, outros por perda de renda ou por excesso de trabalho no computador. Fato é que uma geração não foi educada para praticar medicina do modo que está se exigindo hoje. É um perfil totalmente diferente de quem escolheu ser médico há 30 anos atrás. Uma tendência muito forte, hoje, é a interface entre a indústria e a academia, de forma intensa e transparente, em especial para digital health.

Segundo ele, muitos pacientes vinham às consultas com os seus registros de IoTs, principalmente no início do movimento. Dados de meses para os médicos analisarem. Eles, por sua vez, estudavam as informações, não por obrigação, mas para entender como aquilo poderia ajudá-lo na assistência. Atualmente já estão sendo discutidas novas formas de remuneração para o médico baseada nesse tipo de atividade. Em como integrar estes recursos de forma mais estruturada na prática médica. Claro, a inteligência artificial, bem como o machine learning terão um papel fundamental como ferramentas.

Sempre quando tocamos no assunto de tecnologias e automatização, há uma preocupação em como será o futuro do trabalho e a nova organização destes fluxos. “A tecnologia não vai substituir o médico, mas o médico que usar tecnologia será muito mais eficiente do que aquele que não usa”, disse enfático. Outro problema atrelado à discussão é a romantização do ‘tempo livre que o profissional ganhará nesse processo: se ele será retornado ao paciente como atenção extra ou se haverá a introdução de uma nova atividade.

Capasso finaliza respondendo que haverá, conforme dito anteriormente, diferentes tipos de cuidado, para diferentes exigências dos pacientes. Existem aqueles que querem o menor contato possível, por exemplo adolescentes com DST, que quanto mais automatizado o atendimento maior o valor observado. Por outro lado, existem aqueles que preferem um atendimento mais humanizado.

“Em Stanford, nós temos uma treinamento muito forte em atendimento ao cliente. É um ensinamento de como receber o paciente, olhar nos olhos, apertar a mão, se tornar disponível à qualquer dúvida, explicar os passos do atendimento, identificar as preferências na pós-consulta, em resumo, dar o melhor atendimento.”. Ele conta que todo mês os pacientes recebem uma pesquisa de satisfação, e se 85% deles derem menos do que cinco estrelas para a experiência, há um novo treinamento e perda de 3% do salário. Caso este número seja superado, há bonificação na mesma proporção.

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