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Os hospitais não podem entrar na UTI

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A pandemia desequilibrou a balança financeira do setor de saúde. Os hospitais estão perdendo e os planos de saúde estão vacinados?

Que o coronavírus causará um rombo indelével na economia global, todos já sabemos. A questão é o tamanho desse estrago. Por enquanto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fala na pior recessão desde a Grande Depressão de 1929, com a perda do PIB global entre este e o próximo ano em torno de US$ 9 trilhões. No Brasil, a retração prevista em 5,3% para 2020 pode apagar a leve recuperação dos últimos anos e jogar o país no mesmo patamar de riqueza de uma década atrás.

Nesse cenário, os diferentes setores da sociedade buscam alternativas para tentar sobreviver. Na saúde, enfrentamos uma situação atípica: enquanto os hospitais sofrem para manter a própria saúde financeira com a queda nas fontes de receita, entre elas as cirurgias eletivas, consultas e procedimentos de emergência, as operadoras de planos de saúde veem a sua rentabilidade aumentar de forma exponencial.

Um levantamento inédito da Bionexo, plataforma digital que conecta hospitais e fornecedores, revelou que o número de cirurgias realizadas em 127 hospitais privados no Brasil caiu de 5.770 na primeira semana de março para 526 na primeira semana de abril - uma queda de 90% em apenas um mês. Mesmo com os centros cirúrgicos e pronto socorros esvaziados, as unidades hospitalares viram os seus custos aumentarem exponencialmente com a compra de materiais e a manutenção da infraestrutura necessária para acolher em seus leitos os pacientes acometidos pela covid-19.

Em contrapartida, as operadoras de planos de saúde - responsáveis por parte das receitas dos hospitais - estão em situação diametralmente oposta. Mesmo algumas delas que são listadas na bolsa de valores nacional e viram suas ações derreterem no início da crise, tiveram uma rápida reação e, nos últimos dez dias, já recuperaram 40% do seu valor. Além disso, elas viram os custos de sinistro reduzir à medida em que caía a produção dos hospitais, baixando o custo de sua operação e elevando o faturamento nesse período. Por fim, não houve queda considerável na adesão aos planos de saúde (como esperado em recessões econômicas) e, como empresas verticais com plano de saúde e hospitais próprios, elas possuem maior controle dos custos e receitas.

Essas realidades antagônicas em relação à rentabilidade dos negócios estão provocando um desequilíbrio no sistema de saúde que deve se acentuar ainda mais no segundo semestre. De um lado, os hospitais enfrentarão cada vez mais dificuldades para operar e precisarão se capitalizar por meio de um auxílio do sistema financeiro público e privado. Já as operadoras, conquanto vulneráveis ao baixo risco de inadimplência dos associados, devem seguir com receitas crescentes, amparadas pelo baixo custo de operação e elevado faturamento.

A pandemia do coronavírus não tem data ou hora para acabar, mas o sistema de saúde deve buscar nesse ínterim alternativas à própria saúde operacional. No médio e longo prazo, o reequilibro do sistema dependerá de como os seus atores conseguirão sobreviver à pandemia, seja por meio de financiamentos ou união de entidades, e sobretudo de como eles conseguirão se reorganizar após essa longa e gradual transição à normalidade, que promete não apenas trazer grandes desafios, mas mudar a forma como os setores enxergam os seus negócios.

Sobre o autor

Maurício De Lazzari Barbosa é fundador da Bionexo, health tech líder em soluções digitais para gestão em saúde e proprietária de um marketplace que conecta mais de 2.000 hospitais a mais de 10.000 fornecedores no Brasil, Argentina, Colômbia e México.

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