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O que esperar das estratégias de saída da quarentena?

Article-O que esperar das estratégias de saída da quarentena?

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Credit: Anna Belle Peevey/InsideClimate News

A pandemia atual representa um marco na história. Um desafio nunca antes enfrentado pelos gestores em termos de saúde pública e economia global. Como nenhuma vacina estará disponível por vários meses ou até mesmo por anos, a saída da COVID-19 passa por uma grande reorganização social.

As restrições de circulação ajudaram a reduzir o número de mortos e pressão nos sistemas de saúde em um dado espaço de tempo. Mas dentro de algumas semanas, os chefes de estado terão que começar a tomar decisões sobre a sustentabilidade do cenário de isolamento e pesar suas consequências sociais, econômicas e políticas, tendo do outro lado da balança a contínua expansão do vírus.

Pouco após completar 40 dias do anúncio oficial da OMS sobre a pandemia do coronavírus e do mundo entrar em isolamento, somam-se 2.5 milhões de casos confirmados e quase 180 mil mortes no mundo. Tendo isso em conta e a Europa como um dos epicentros mundiais, a Comissão Europeia solicitou aos seus países que coordenem as medidas de afrouxamento do isolamento social, alertando que uma falha na estratégia de retomada às atividades podem resultar em novos picos da doença.

No documento, a Comissão alerta seus 27 países participantes a agir com cautela ao voltar à vida normal e basear suas ações em pareceres científicos. Obviamente não há uma solução única para todos os países, mas o interesse universal dos governos é encontrar alternativas para a retomada econômica sem desencadear riscos às suas populações.

O roteiro sugere que as medidas de relaxamento do confinamento sejam executadas somente se as estatísticas comprovarem uma desaceleração significativa na propagação da pandemia por um período determinado de tempo, se os sistemas nacionais de saúde tiverem capacidade suficiente em suas unidades de terapia intensiva, estoques de medicamentos e equipamentos, além de terem capacidade de monitoramento da propagação atual do vírus em sua população. Apenas com esses três itens sob controle o isolamento social daquele país poderia engatar em um caminho gradual e coordenado de afrouxamento.

É importante ressaltar que no período de transição ainda serão aplicadas medidas de distanciamento social, intensificação de higiene, gerenciamento de canais de importação e engajamento nas comunidades. Além da identificação, isolamento e monitoramento de casos suspeitos.

Talvez o elemento crucial dessa jornada seja a testagem em massa, tanto para infecção quanto para imunidade, então pessoas saudáveis possam voltar ao trabalho e infectados entrarem em um isolamento mais rígido. Para isso, os países precisarão de suprimentos adequados de kits de teste e equipamentos de proteção, além de ventiladores e acesso a tratamentos emergentes. Uma das soluções passa pela cooperação na produção e distribuição dos insumos, utilizando cadeias globais de suprimentos de maneira eficaz conforme a necessidade dos países.

Na Itália, algumas lojas e fábricas, já estão autorizados a funcionar. Na Dinamarca, desde 15 de abril os alunos já retornaram às escolas. A partir de 4 de maio as escolas da Alemanha também serão abertas. Por outro lado, França e Bélgica prolongaram a quarentena pelo menos até o meio de maio.

Trump anunciou um guia de três fases para a saída do isolamento, deixando a critério de cada estado quando isso seria feito. Para citar, na fase um não seriam permitidas reuniões de mais de 10 pessoas, mesmo com distanciamento social. Na fase dois, seriam evitados grupos de mais de 50, e aplicado o isolamento vertical. Na terceira fase o grupo de risco poderia enfim sair do isolamento.

Após um isolamento restrito de três meses com testagem e rastreamento agressivos, a China está reabrindo. As pessoas estão retomando o trabalho, porém o distanciamento social e outras medidas como a verificação de temperatura permanecem em vigor. Ainda assim, mais de 325 novos casos foram registrados em 19/04, que é o maior aumento diário dos novos casos de Covid-19 na China nas ultimas sete semanas.

No Brasil, alguns estados já elaboram seus planos para amenizar o isolamento. Em todos os critérios de início incluem monitoramento da capacidade de leitos de UTI, testagem da população e regras bem definidas para a reabertura dos negócios. No Rio Grande do Sul, a abertura está prevista para a primeira semana de maio, e contará com monitoramento de 300 hospitais. Segundo um estudo, o número de infectados no estado é sete vezes maior do que a informação oficial. “A abertura será com base em evidências científicas e respeito às particularidades de cada região”, disse o governador Eduardo Leite, explicando que o ponto inicial será o interior, dado que a capital possui 65% dos casos.

Em São Paulo, o governador João Doria planeja reabrir gradualmente a economia a partir do dia 11 de maio. Porém, Edson Aparecido, secretário municipal de saúde na capital, diz que ainda é cedo para falar em relaxamento da quarentena, especialmente no caso da capital e região metropolitana. "Nós temos uma média de 73% de ocupação [nos hospitais públicos] e ela é crescente, sobretudo nos leitos de UTI, com alguns hospitais chegando já a sua capacidade máxima. Então por isso é fundamental que a gente continue aqui na cidade com a questão do isolamento social e ganhando tempo pra que a gente possa adquirir mais equipamentos e colocar mais leitos, sobretudo de UTI, em funcionamento".

Segundo Doria, para reabrir o comércio e os serviços é preciso assegurar a capacidade do sistema de saúde no atendimento para salvar vidas. E ressaltou, “Aqui não tomamos medidas irresponsáveis, precipitadas ou baseadas no achismo ou ideologia”.

Hoje, Patricia Ellen, Secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, explicou em entrevista, como seria a reabertura. “Estamos fazendo estudos para uma segmentação da saída da quarentena, de forma gradual, responsável, faseada e regionalizada. Para isso precisávamos de dados.”. Ela explica que, a partir de índices de vulnerabilidade econômica cruzados com dados de saúde, como ocupação de leitos e número de infectados na região, será estabelecido um mapa de calor para os municípios. A divisão em zonas verdes, amarelas e vermelhas refletirá o grau de flexibilização daquela área. E alerta: “um município que estava [classificado como] verde, se algo mudar, nós iremos voltar com as medidas restritivas”

O país ainda lida com um desafio a mais, seu enorme território e dificuldade em saber seus reais casos de infecção - parte pela testagem limitada - e assim propor estratégias de saída melhor fundamentadas, visando acima de tudo, a segurança da sua população.

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