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Engenharia clínica pode acelerar o acesso à saúde e diminuir a desigualdade social

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Médico sanitarista Vecina Neto destaca a necessidade de melhorar o financiamento à saúde para garantir acesso equitativo às novas tecnologias no Brasil.

O papel da engenharia clínica atualmente é garantir o bom funcionamento das tecnologias utilizadas no tratamento e diagnóstico de pacientes. No entanto, além da incorporação da tecnologia, é crucial destacar a importância do processo de avaliação dessas tecnologias. Segundo o médico sanitarista Gonçalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, durante o 1º Simpósio de Engenharia Clínica promovido pelo HCX, Escola do Hospital das Clínicas da FMUSP, essa é uma área relativamente nova na saúde pública. 

Vecina Neto explica que a rede pública de saúde começou a trabalhar com a avaliação de tecnologia em saúde no início dos anos 2000, com a Anvisa atuando como um motor impulsionador para a ampliação dessa capacidade, especialmente no controle de preços de medicamentos. Foi fundamental discutir a avaliação e o uso da tecnologia em saúde nesse contexto. 

Desigualdade de recursos e a importância do SUS 

Ele ressalta que a carência de recursos no Brasil é real, uma vez que o gasto per capita em saúde no SUS representa um quarto do gasto per capita na iniciativa privada. Vecina Neto afirma: “Pode haver alguma diferença, mas quem compra assistência à saúde tem o direito de comprar conforto, não o direito de comprar salvação, que deve ser igual entre os setores público e privado. Trata-se de uma questão civilizatória”. 

Vecina Neto acredita que a engenharia clínica não resolverá a desigualdade social, mas é essencial alertar a sociedade sobre nossas realidades sociais. “Podemos construir um país diferente a longo prazo se soubermos o que precisamos fazer e começarmos a agir”, diz ele. “Temos a possibilidade de fazer o que o SUS fez em 1988, ou seja, acabar com a figura do cidadão indigente, garantindo a todos o direito à assistência à saúde. O SUS foi um passo importante naquele momento, e agora precisamos dar outros passos, incluindo a incorporação e utilização adequada da tecnologia. Isso é fruto de conquistas sociais de anos e é fundamental continuar avançando para atender a população como um todo.” 

Qual o futuro da engenharia clínica? 

Para o sanitarista, a formação e capacitação de profissionais de saúde são os principais desafios futuros da engenharia clínica. “Estamos vivendo uma revolução tecnológica importante na saúde, e, portanto, é fundamental garantir que os equipamentos sejam adequadamente utilizados, o que requer profissionais competentes e preparados para operar esses dispositivos. Um engenheiro clínico possui essas habilidades, e a formação desses profissionais faz parte desse processo evolutivo que estamos construindo.” 

Quanto aos altos custos da saúde atualmente, Vecina Neto explica que essa discussão é parte da construção de um processo de atenção à saúde. Por exemplo, ele menciona que “o fato de o estado do Amazonas não ter equipamentos tecnológicos avançados na sua rede pública não significa que o cidadão amazonense não possa ter acesso a esses recursos. Podemos construir um processo de acesso a todos os brasileiros se conseguirmos melhorar o financiamento da saúde e distribuir melhor os recursos”. 

Vecina Neto exemplifica o “milagre” no tratamento da Aids conquistado pela saúde brasileira nos anos 80: “O custo para o tratamento da doença na época era inviável, mas conseguimos contorná-lo, e hoje temos uma doença relativamente controlada, apesar de toda a sua complexidade.”