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Jorge Felix - Empreender para o público Idoso

Article-Jorge Felix - Empreender para o público Idoso

O Empreender Saúde entrevistou Jorge Felix, coordenador do curso Gestão de negócios direcionados ao público idoso, que será oferecido pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Assistência em Envelhecimento - CIAPE em São Paulo e Belo Horizonte a partir dos meses de março e abril, respectivamente.

Felix é jornalista, editor do site economiadalongevidade.com.br, e autor do livro Viver Muito. Na conversa, falamos sobre a proposta do curso, sobre iniciativas existentes no Brasil e a visão geral do entrevistado quanto às oportunidades no setor. Confira:

1)   Fale um pouco sobre o curso “Gestão de Negócios direcionados ao público idoso”.

O curso está dividido em dois pilares: um de conhecimento específico no envelhecimento humano, um outro pilar de aplicação de todas essas áreas no envelhecimento. Para mostrar a diversidade de possibilidades de empreendimento e inovação, trazemos cases de grande sucesso que existem pelo mundo.

É a primeira vez que o curso vai ocorrer, e a procura é bem variada. Tem profissionais de hotelaria, psicologia, saúde, gente que quer empreender, e também pessoas que estão em grandes empresas, que têm interesse em conhecer mais o tema, para usar no seu próprio contexto. Um dos objetivos que temos é que o curso cumpra o papel de estimular a criatividade e inovação que faltam para surgir novas ideias.

2)  Qual é o panorama hoje do mercado brasileiro com relação à oportunidade de empreender com foco no público idoso?

Há algum empreendedorismo na área de negócios, mas muito concentrado na área de saúde. Há grandes demandas que a iniciativa privada pode atender, mas não são aproveitadas. Temos uma lacuna por falta de conhecimento sobre o tema do envelhecimento de diversos ramos profissionais. Na área de saúde, de assistência, de fisioterapia, ainda tem mais gente. Mas mesmo quem está nessa área precisa se adaptar ao idoso. Essas pessoas estão numa assistência geral, e não numa coisa dirigida ao idoso.

3)  Em que setores estão as oportunidades existentes para quem quer empreender em negócios voltados para o público idoso?

Olhando para o curso, que é dividido em 4 módulos, tentamos cobrir vários desses setores: educação física, hotelaria, saúde, e até recursos humanos. Há grandes oportunidades. Para dar um exemplo concreto: hoje se sabe que a distribuição de fralda para adultos é um mercado que precisa ser completamente revolucionado.

Você ainda tem carência de produtos nacionais, o preço é muito alto, às vezes se procura de farmácia em farmácia por fraldas e não acha. Embora já se tenha aqui os grandes fabricantes mundiais, você tem aí uma questão de distribuição e comercialização que não foi equacionada, e que tá causando problemas para as famílias. Inclusive, em hospitais, os planos de saúde limitam o número de fraldas que o paciente pode usar, porque a fralda é cara.

Há isso, também: você deve atender a família que tem um idoso. Você não precisa só de mais instituições (hoje você tem 1% da população idosa institucionalizada), é preciso dar o “tempo de respiro” para o cuidador familiar. Você pode atrair esse familiar criando facilidades, serviços, vantagens… Você pode criar estratégias de fidelização, oferecer descontos,  etc.

4)  Como a existência de diferentes “velhices” no Brasil afeta as oportunidades? As oportunidades estão apenas na “terceira idade de Copacabana”, que se aposentou com proventos integrais?

Da mesma forma que o mercado de varejo se voltou para o mercado de baixa renda - com o aumento do salário mínimo ele teve um aumento no poder de compra - o mercado também precisa se voltar para o idoso de baixa renda.

É uma ilusão você pensar que num país onde a renda do idoso é de pouco mais de R$700, que você vai ter um mercado consumidor do idoso de alto poder aquisitivo. Mas o capitalismo, todos nós sabemos, funciona em você criar necessidade, que às vezes as pessoas nem sabem que têm. E outras necessidades que às vezes as pessoas têm, mas que não estão sendo atendidas.

Então, as oportunidades para os idosos que não têm aposentadoria integral existem, mas ainda não chegou lá um empreendedor criativo que veja naquilo uma oportunidade, de atender de forma barata, que possa ganhar na escala.

5) Um dos equívocos comuns a quem quer abordar o mercado idoso é olhar para esse mercado por um recorte meramente etário, desconsiderando a heterogeneidade desse público. Como evitar isso?

É preciso ter em mente o “idoso” como um grupo heterogêneo, é cientificamente comprovada, essa heterogeneidade. Não existe uma velhice igual a outra. A velhice não é igual pois depende de todo o ciclo de vida daquela pessoa.

Outra questão a ser observada é a presença maior ou menor de recursos. Então você vai ter o segmento de 60 anos, 70, que ainda está independente, ele quer viajar, ele quer aproveitar, e tem recursos. Depois ainda, você vai ter o público de 80 a mais, é o segmento que mais cresce na população, e que representa o estereótipo do idoso que as pessoas têm em mente: dependente. Claro que aos 80 anos a dependência é maior, mas nem sempre.

E há os que não têm recursos, que dependem em muitas questões do Estado, mas eles também podem ser atingidos, só que por outro tipo de política pública e iniciativa privada. Essa diversidade precisa ser considerada. Olhando pra isso, você tem aí uma série de serviços a oferecer, com os quais o mercado só tem a ganhar. E existe uma chance da iniciativa privada desempenhar um papel muito grande, basta ela ter criatividade para isso.

6)      Quais iniciativas você citaria como sendo de sucesso em negócios voltados para o público idoso no Brasil?

Há vários cases, um dos mais conhecidos é o Prevent Senior. Eles têm obtido um grande resultado. Estou me baseando em resultados financeiros. Se está dando resultados financeiros, é porque tem um público que está ávido por aquilo. Outro case de sucesso é o TeleHelp, de assistência motora.

Outro case de sucesso são os produtos da Danone. Nunca tive números deles, mas eles estão bastante presentes, voltados para esse segmentos. Mas há uma infinidade de outras empresas menores, que também estão conseguindo ter um retorno, e atender algum tipo de necessidade das pessoas.

7)    O que é preciso para que este setor atraia mais empreendedores?

As pessoas só vão se voltar para este setor se elas pararem pra refletir um pouco sobre o tema. Além disso, quando elas refletem, há um vício de só refletir pelo lado da previdência, do lado financeiro, pensar por esse lado não vai desempenhar o papel de desenvolver uma ideia, um insight de criar um novo negócio.

De certa forma, o curso é uma oportunidade pra que elas reflitam sobre essa realidade do Brasil, e pensar se seu negócio vai continuar, se vai sobreviver nessa sociedade mais envelhecida. Eu hoje se estivesse trabalhando com criança, estaria preocupado do que vai ser dos herdeiros da minha empresa. Por isso eu tenho certeza que no curso vão surgir novas ideias. As pessoas não empreendem ainda porque elas não tem a menor noção do que está acontecendo no mundo na área do envelhecimento. Em todas as áreas.

CONCLUSÃO

O que fica claro, portanto, é que para Felix, o segmento é pouco explorado porque falta às pessoas conhecimento sobre o que está acontecendo em matéria de envelhecimento. Além disso, é preciso pensar além do óbvio: "Falta criatividade". Suas avaliações servem, em última instância, como dicas para empreendedores que querem inovar junto ao público idoso.