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COVID-19 do caos à retomada

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Marcelo-Moraes

A doença COVID-19 foi declarada como uma pandemia, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 30 de janeiro de 2020. Essa foi a sexta vez na história que um alerta desse tipo foi feito. Entretanto, os números dessa doença superam em muito o das anteriores, com mais de 4 milhões de pessoas infectadas e quase 300 mil mortes até o momento, os impactos dessa epidemia, em todas as interfaces humanas, é único e crítico.

Na economia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma que a pandemia representa o maior risco à economia mundial desde a crise econômica de 2008, muitos acreditam que essa é uma análise otimista. As previsões de crescimento para o País despencaram, e se no início de 2020 poderíamos imaginar um crescimento de 2% na economia, agora os especialistas esperam uma retração na ordem de 2 a 5%. Historicamente, a saúde é uma das áreas mais afetadas durante crises tão profundas. A queda na capacidade de investimentos públicos na saúde e a perda da capacidade das pessoas em pagar os valores crescentes da saúde suplementar criam uma imagem bastante crítica para o Brasil 2020, podendo facilmente se estender por anos. Nesse cenário, novas estratégias para garantir o funcionamento da saúde terão que ser cridas. As possibilidades são várias, passando por programas de informatização da saúde, instituição de parcerias público-privadas, gestão compartilhada e a parcialmente liberada telemedicina, ainda alvo de fortes discussões.

A pandemia irá terminar. Isso é um fato. No Brasil, a expectativa é que no máximo até setembro de 2020, haja uma queda drástica do número de casos, à medida que a população adquira imunidade, mas as consequências poderão ser sentidas ainda por um bom tempo. Por outro lado, a epidemia é extremamente dinâmica e não afeta o país de forma homogênea. Enquanto algumas regiões apresentam alto risco e determinam medidas de isolamento social muito duras, outras têm o número de casos bem controlado e podem ser menos restritivas. Da mesma forma, o impacto nas diversas especialidades médicas será diferente. Médicos clínicos, em especial aqueles que atuam em prontos-socorros, e os intensivistas que atuam nas unidades de terapia intensiva da linha de frente tiveram uma exposição grande à doença, sendo que muitos adoeceram ou ainda vão se contaminar. No outro extremo, durante o isolamento social, todos os procedimentos cirúrgicos ditos eletivos ou não emergenciais foram suspensos. Essa determinação tem sentido devido a maior chance de contração da COVID ao ingressar em um hospital, mas também para manter leitos hospitalares e de terapia intensiva à disposição para os casos de COVID, que continuam chegando aos serviços de saúde.

Dessa forma, as especialidades cirúrgicas sofreram bastante durante esse período, por outro lado, uma vez terminada essa fase, um montante inimaginável de procedimentos cirúrgicos represados terá que ser realizado. Um documento assinado por diversas sociedades médicas cirúrgicas indica que o momento ideal para a retomada dos procedimentos cirúrgicos inclui um período de pelo menos 14 dias com uma curva descendente de novos casos de COVID, disponibilidade adequada e proporcional de leitos de terapia intensiva, disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPIs), tanto para pacientes quanto para a equipe de saúde, disponibilidade de testes para identificar o vírus e, finalmente, considerar a telemedicina para instruções pré-operatórias e acompanhamento pós-operatório.

Os médicos do Brasil têm feito sua parte. Muitos deixaram consultórios e clínicas fechados para aderir às medidas de isolamento social. Outros continuam a atender nos serviços públicos ou privados para não deixar a população desassistida, com risco à própria saúde. Os próximos meses serão de incerteza, mas sem dúvida de recuperação. Se existe algo que o brasileiro se tornou especialista é em crise. Ainda sim, nossa história mostrou que, por pior que essa possa ser, nós sempre nos recuperamos como sociedade e como país, e essa não será uma exceção.

Sobre o autor

Dr. Marcelo Rodrigo de Souza Moraes é Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).