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As políticas públicas enxergam gênero?

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Artigo da Sociedade Brasileira de Urologia provoca: por que a saúde do homem ainda se encontra tão negligenciada?

Já se tornou senso comum dizer que o homem não se cuida. E pior: parece que a negligência com a própria saúde é um sinal de masculinidade. Esta visão está tão impregnada na sociedade que a luta para promover os cuidados com a saúde masculina acaba sob responsabilidade da mulher e da família. Para agravar a situação, quando o assunto é câncer de próstata e o exame do toque retal, o tema passa a ser piada em instantes.

A despeito do insensível caráter cômico atribuído ao assunto, o problema é sério e os números comprovam: o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2013, foram identificados mais de 60 mil novos casos da doença e mais de 13 mil vítimas fatais. E como a sociedade e o governo têm reagido a essa negligência com a
saúde do homem?

O Novembro Azul chega ao fim e é um exemplo de ação organizada pela sociedade civil em prol da saúde masculina. A campanha visa chamar a atenção da população, principalmente dos homens, para a importância de se realizar os exames preventivos do câncer de próstata com regularidade. O Novembro Azul é uma campanha internacional, e no Brasil é coordenada pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) desde 2012.

A ação segue o bem-sucedido exemplo da experiência do Outubro Rosa, que tem como foco a divulgação da prevenção do câncer de mama. Nas duas últimas edições, o Novembro Azul tem se tornado mais conhecido Brasil afora e, desta forma, vem cumprindo seu papel de divulgar a importância da prevenção e realização do diagnóstico precoce do câncer de próstata, apesar do preconceito ainda fortemente cristalizado na sociedade.

Políticas públicas
Outra vitória alcançada em 2014 em prol da saúde do homem foi a aprovação e sanção do Projeto de Lei 34/2005, que obriga todas as unidades de saúde da rede pública a realizarem o exame de detecção precoce sempre que o procedimento for considerado necessário pelo médico. Além disso, o governo do estado de São Paulo inaugurou em novembro o Hospital do Homem, na zona norte da capital paulista.

Adicionalmente, observaram-se expressivas melhorias na qualidade dos tratamentos disponíveis e técnicas de diagnóstico mais precisas. Há também a expectativa de aprovação, pela Anvisa, de novos medicamentos já presentes em outros países, o que contribuirá ainda mais para melhorar o tratamento dos pacientes com câncer de próstata no Brasil. Pesquisas realizadas pela indústria farmacêutica vêm constantemente aprimorando os tratamentos e, felizmente, os índices de sucesso entre pacientes com este tipo de câncer têm sido cada vez mais altos. Essas vitórias precisam ser celebradas sempre levando em consideração que quanto mais cedo o diagnóstico acontecer, maior a chance de o tratamento ser bem-sucedido.

Apesar dos grandes avanços que observamos nos últimos anos, ainda é grande a necessidade de se dedicar mais cuidados à saúde masculina. Além de vencermos o preconceito, que ainda se configura como um obstáculo, o governo federal precisa investir mais em políticas públicas pela saúde do homem. Tais políticas precisam ser implementadas em nível municipal e estadual, além de melhor articuladas com outras áreas da saúde. 


Se compararmos os investimentos públicos realizados na saúde da mulher, que são expressivamente mais altos, perguntamo-nos: por que a saúde do homem ainda se encontra tão negligenciada? Existem significativamente mais hospitais, especialistas e tratamentos disponíveis para as mulheres do que para os homens.

É absolutamente louvável que o governo priorize a saúde da mulher, porém não é justo negligenciar a masculina. Apesar de o governo apoiar a campanha Novembro Azul, é preciso realizar investimentos mais significativos na área de saúde do homem. É iminente a necessidade de que se aumente a capacidade de exames preventivos realizados pelo SUS, além de melhorias no acesso ao exame confirmatório – a biópsia – e, por fim, facilitar o acesso a bons tratamentos quando o câncer de próstata for efetivamente diagnosticado.

A Sociedade Brasileira de Urologia acredita que o governo está sensibilizado com a importância do tema e se disponibiliza para juntos lutarmos por uma melhor atenção à saúde masculina.

*Dr. Carlos Eduardo Corradi Fonseca - Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) Gestão 2014 – 2015