A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI) acaba de divulgar os resultados de sua pesquisa anual, que traz um retrato preocupante do setor da saúde no Brasil. O levantamento identificou um total de R$ 4,587 bilhões em pagamentos pendentes ou não realizados, valor que compromete 36% do faturamento das empresas do setor e ameaça a sustentabilidade dos sistemas público e privado.

Do total apurado, R$ 2,2 bilhões estão relacionados à retenção de faturamento – prática em que operadoras de saúde e hospitais impedem a cobrança de procedimentos previamente autorizados. As glosas injustificadas somaram R$ 229,7 milhões, enquanto a inadimplência chegou a R$ 2,069 bilhões. Segundo a ABRAIDI, os números representam o pior cenário desde o início da série histórica, em 2017.

Práticas abusivas e desequilíbrio nas relações comerciais

Para o presidente da ABRAIDI, Sérgio Rocha, o cenário é alarmante e revela distorções graves nas relações comerciais. “As operadoras e hospitais exigem o adiamento da cobrança e, depois, ainda solicitam descontos de dois dígitos para efetuar o pagamento, em valores menores do que os inicialmente negociados”, afirma. Segundo ele, empresas que se recusam a aceitar essas condições são retaliadas com a exclusão do fornecimento. A pesquisa mostra que 40% das empresas associadas relataram ter sofrido algum tipo de retaliação.

Prazo de pagamento ultrapassa 4 meses

Outro ponto crítico apontado no estudo é o prazo excessivo para emissão de nota fiscal e pagamento. As empresas esperaram, em média, 63 dias pela autorização da nota e mais 76 dias para o pagamento — um total de 139 dias (quase 5 meses). Na saúde suplementar, o tempo médio foi ainda maior: 179 dias corridos, ou 6 meses, entre a entrega do produto e o recebimento.

Sérgio Rocha ilustra a gravidade da situação com uma analogia: “Imagine comprar um carro em uma concessionária e pagar só seis meses depois. É o que vivemos hoje no setor”.

O presidente da ABRAIDI ressalta a disparidade entre os resultados das operadoras de saúde e a crise enfrentada pelos fornecedores. Em 2023, as operadoras registraram lucro líquido de R$ 11,1 bilhões, um crescimento de 271% em relação ao ano anterior, o maior desde 2020. Enquanto isso, os fornecedores lidam com fluxo de caixa comprometido, juros elevados e um cenário de crescente endividamento.

Prática fere legislação fiscal e impõe dilemas éticos

Rocha também chama atenção para o dilema ético e legal imposto às empresas. A postergação da emissão de notas fiscais, exigida por hospitais e operadoras, fere a legislação brasileira, que determina a emissão imediata após a venda. “A não emissão de nota fiscal é crime, sujeita a multas, penalidades e até mesmo à configuração de sonegação fiscal”, alerta.

Fórum ABRAIDI debaterá soluções

Os dados da 8ª edição da pesquisa “O Ciclo de Fornecimento de Produtos para Saúde no Brasil” serão apresentados nesta terça-feira (23/04), no Fórum ABRAIDI, realizado no Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O evento reunirá autoridades e representantes do setor para discutir caminhos para enfrentar a crise

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