O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, nesta terça-feira (25), a nomeação de Alexandre Padilha como novo ministro da Saúde. Ele assume o cargo, a partir de 6 de março, no lugar de Nísia Trindade, que esteve à frente da pasta por pouco mais de dois anos.
Médico formado pela Unicamp, Padilha retorna ao Ministério da Saúde, pasta que já comandou durante o governo de Dilma Rousseff. Em sua primeira passagem, foi responsável por iniciativas como o programa Mais Médicos e a ampliação do Farmácia Popular. Até o momento, ele atuava como ministro das Relações Institucionais, onde desempenhava papel estratégico na articulação política entre o Executivo e o Congresso Nacional.
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Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O retorno de Alexandre Padilha à Saúde
Edison Ferreira da Silva, presidente do Sindicato das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo (Sindhosfil), destaca os possíveis impactos para o segmento filantrópico. “Todas as mudanças no Ministério da Saúde, para o segmento filantrópico, representam a necessidade de atenção sobre a questão de custeio das Instituições, haja vista que são as maiores prestadoras de saúde do SUS”, afirma.
Silva também elenca o que preocupa a entidade. “O Sindicato Patronal está preocupado com os encargos tributários sobre o piso de Enfermagem, uma vez que o Ministério apenas complementa o piso legal e não se responsabiliza pelos encargos, como FGTS, INSS, IR e provisão de férias”, explica.
Experiente na gestão pública, Padilha também já ocupou cargos na Organização Mundial da Saúde (OMS) e na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Agora, com sua volta ao comando da pasta, há expectativa de que retome projetos voltados à ampliação do acesso à saúde e ao fortalecimento da rede pública.
O presidente do Sindhosfil ressalta a vivência de Padilha no setor. Por outro lado, não vê a sua chegada como uma solução definitiva para os desafios de longa data.
“A experiência do parlamentar no segmento é um ponto favorável para os prestadores de serviços de saúde, pois, além de profissional da área, já esteve na mesa em outras oportunidades. Mas não esperamos que esta troca seja a vitória do Governo frente a inúmeros problemas de saúde, mas um caminho que possa fortalecer o diálogo entre as respectivas representações”.
Expectativas na saúde suplementar e na medicina diagnóstica
Antônio Britto, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), concorda que a experiência é um diferencial importante e fala sobre o futuro. “O ministro Padilha, com sua reconhecida habilidade e abertura ao diálogo, deverá encarar desafios políticos e administrativos históricos. Desejamos e esperamos que ele tenha êxito nesta jornada”, pontua.
Entre esses desafios, a saúde suplementar se destaca como um dos temas mais sensíveis. O novo ministro assume em um momento de tensão, com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) — que em breve terá um novo diretor-presidente — propondo mudanças significativas, como novas regras para planos coletivos, reajustes nos planos individuais, revisão de coparticipação e franquia, comercialização on-line e a criação de um plano com cobertura mínima, limitado a consultas e exames, sem internação.
Essas movimentações têm gerado insatisfação entre profissionais do setor e na sociedade, além de haver uma falta de diálogo com o próprio Ministério. Problemas, como judicialização crescente, cancelamentos unilaterais de contratos e fraudes, seguem em alta.
O impacto das decisões ministeriais, no entanto, não se limita aos planos de saúde. Na área de medicina diagnóstica, há expectativas de que o novo ministro fortaleça políticas voltadas à inovação e ampliação do acesso. Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), destaca a importância dessa articulação.
“Espera-se que Padilha dê continuidade aos programas existentes e fortaleça a articulação com o Congresso Nacional. A nomeação pode trazer avanços significativos para o setor, especialmente na medicina diagnóstica, com a promoção da inovação tecnológica, integração de sistemas e articulação política para garantir recursos e apoio necessários”, define.
A saída de Nísia Trindade
Após a confirmação de sua saída, Nísia Trindade comentou a decisão do presidente e expressou insatisfação com o modo que a imprensa tratou sua demissão. Segundo a ex-ministra, a veiculação de fake news sobre sua saída prejudicou o processo de transição.
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Ela afirmou, em conversa com jornalistas em Brasília, que Lula reconheceu seu trabalho à frente do ministério e justificou a mudança como parte de um ajuste estratégico no governo. Para Nísia, a substituição de ministros faz parte da dinâmica governamental e não desqualifica as ações que foram realizadas sob sua gestão.
Britto enaltece o trabalho realizado. “A ministra Nísia emprestou ao Ministério da Saúde sua seriedade e bom senso. Tentou enfrentar históricas e crescentes dificuldades da gestão federal em saúde” afirma.