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A indústria farmacêutica no pós-pandemia

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Maior foco na construção de cadeias de suprimentos resilientes, com diversificação de fornecedores e maior estoque estratégico

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, há pouco mais de um mês, que a pandemia de Covid-19 deixou de representar uma emergência de saúde global. Ainda não significa que o coronavírus acabou, porém é um primeiro passo importante e possível diante da tendência decrescente nas mortes pela doença, o declínio nas hospitalizações e internações em unidades de terapia intensiva e os altos níveis de imunidade da população ao SARS-CoV-2.

O cenário leva a população, inevitavelmente, a lembrar de momentos que marcaram a crise sanitária. E a logística farmacêutica, junto à cadeia fria, foram algumas que ficaram em evidência, devido, sobretudo, à questão das vacinas, cuja preocupação estava relacionada à temperatura e manutenção da integridade das doses até o seu destino final, de norte a sul do País.

As principais determinações e orientações dos órgãos de saúde foram direcionadas à necessidade de equipamentos adequados, logística bem estruturada e armazenamento 100% dentro do necessário para a conservação e preservação das vacinas. As exigências escancararam carências e expuseram fragilidades da cadeia de suprimentos farmacêuticos, que levaram ao aumento de investimentos pelo setor, de forma a estar pronto para atender uma situação com as mesmas peculiaridades.

O objetivo é um maior foco na construção de cadeias de suprimentos resilientes, com diversificação de fornecedores e maior estoque estratégico.

A importância da rastreabilidade

A dificuldade na obtenção de informações relacionadas ao trânsito dos produtos, ou seja, data e horário previstos para a entrega, confirmação de recebimento e até mesmo dados sobre a integridade da mercadoria foi uma das deficiências observadas. As empresas buscam, agora, se adequar para atender às imposições do mercado.

“As companhias estão cada vez mais investindo em tecnologia, sistemas que consigam registrar cada trecho, cada perna do transporte, para ficar bem visível tanto para quem vai receber, como as UBSs, hospitais e clínicas, como para os distribuidores, como os laboratórios e embarcadores", explicou o especialista em cadeia fria e logística farmacêutica, Ricardo Canteras, que também atua como diretor comercial da Temp Log.

De acordo com o executivo, ao longo dos últimos anos têm sido vistos investimentos em ferramentas, aplicativos móveis com fluxos customizados, conforme a necessidade de cada cliente, medicamento ou outro tipo de produto. Muitos são direcionados a torres de monitoramento para que se tenha um controle das informações cada vez mais assertivo, rápido, ágil e de maneira correta.

Além disso, muitas empresas viram a necessidade de se adequar às normas em vigência, com certificados e licenças. A crise sanitária mostrou a fragilidade das companhias do ramo, fazendo algumas optarem por investir e outras desistirem do segmento.

"O mercado viu o quanto estava escasso de empresas que possuíam todas as exigências necessárias para realizar este transporte, com isso aumentou a demanda para as empresas que já estavam adequadas. E as que não estavam, correram atrás para se ajustar", disse Canteras.

Resolução da Anvisa

A RDC 430 da Anvisa é uma das principais normas ligadas ao tema. A resolução, aprovada em 2020, ano de surgimento e auge da Covid-19, dispõe sobre a regulação das Boas Práticas de Distribuição, Armazenagem e Transporte de Medicamentos, com foco no controle e monitoramento da temperatura dos produtos. Ela, inclusive, foi atualizada, dando origem à RDC 653, cujo texto também engloba medicamentos de cadeia seca.

A RDC não foi criada por causa da pandemia, mas acabou tendo mais atenção da Vigilância Sanitária pelo fato de as vacinas do coronavírus exigirem baixas temperaturas de armazenagem. Esse chegou a ser considerado o maior desafio para as empresas. Não é à toa que hoje os investimentos da cadeia fria estão concentrados na gestão da qualidade, controle e monitoramento da temperatura.

A Resolução da Diretoria Colegiada 430 é um conjunto de normas estabelecidas para garantir a qualidade dos produtos e serviços destinados à saúde. Chegando em substituição a outras duas RDCs, a 304 e 360, ela traz normas claras sobre monitoramento das condições de transporte (relacionadas às especificações de temperatura), acondicionamento, armazenagem e umidade do medicamento, bem como a aplicação dos sistemas passivos ou ativos de controle de temperatura e umidade que sejam necessários à manutenção das condições requeridas.

O ponto mais forte dela é o transporte, que não era contemplado nas anteriores, mas todos os elos da cadeia contam com especificações na RDC que precisam ser atendidas para que haja mais segurança para o consumidor.

O futuro

O futuro da logística farmacêutica no pós-pandemia poderá ser moldado por várias tendências e mudanças observadas durante a crise do Covid-19. Algumas possíveis direções para o setor são:

  • Reforço da cadeia de suprimentos: As empresas devem buscar diversificar suas fontes de fornecimento, reduzindo a dependência excessiva de um único país ou região. Além disso, podem ser implementadas tecnologias avançadas, como blockchain, para melhorar a rastreabilidade e a transparência dos produtos farmacêuticos em toda a cadeia de suprimentos.
  • Maior adoção de tecnologia: A logística farmacêutica pode se beneficiar do uso mais amplo de tecnologias avançadas, como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina. Elas podem otimizar o monitoramento de temperatura e condições de transporte, melhorar o planejamento de rotas e estoque, e aumentar a eficiência geral da distribuição de medicamentos.
  • Distribuição de vacinas: A pandemia acelerou o desenvolvimento de vacinas e destacou a importância de uma distribuição rápida e eficiente. Os avanços na logística farmacêutica permitirão um armazenamento adequado, monitoramento de temperatura e rastreamento das doses durante o transporte. Além disso, é provável que sejam estabelecidos protocolos e parcerias mais robustas entre governos, empresas e provedores logísticos para garantir a disponibilidade oportuna e a movimentação equitativa de vacinas.
  • Ênfase na logística reversa: Com o aumento do consumo de medicamentos durante a pandemia, a previsão é de um aumento correspondente na quantidade de resíduos farmacêuticos. Diante do novo cenário, a logística reversa ganhará destaque, com a implementação de sistemas eficientes para o retorno seguro e o descarte adequado de medicamentos vencidos ou não utilizados.
  • E-commerce farmacêutico: O crescimento do comércio eletrônico foi acelerado em vários setores, incluindo o farmacêutico. A entrega de medicamentos diretamente aos consumidores por meio de plataformas online continuará a se expandir, exigindo uma logística eficiente e segura para atender à crescente demanda.

Essas são apenas algumas perspectivas para o futuro da logística farmacêutica no período pós-pandemia. As mudanças no setor dependerão de vários fatores que também incluem regulamentações governamentais e a evolução das condições de saúde global.

Ricardo Canteras, especialista em indústria e logística farmacêutica.