O Hospital São Luiz Itaim, localizado na zona sul da capital paulista, realizou seu primeiro transplante de pulmão em mais de 80 anos de funcionamento. O procedimento, de alta complexidade, integra as ações do novo Centro de Cirurgias de Alta Complexidade e Transplantes da unidade, que faz parte da Rede D’Or São Luiz.

A cirurgia foi conduzida por uma equipe especializada liderada pelo cirurgião torácico Tiago Machuca, que retornou ao Brasil em 2024 após atuar por 14 anos em centros médicos dos Estados Unidos e Canadá. Esta foi a primeira cirurgia do tipo realizada em uma unidade da Rede D’Or em São Paulo.

O paciente, Matheus Vinícius Barreto Correia, advogado de 49 anos natural da Bahia, sofria de fibrose pulmonar grave em decorrência da Síndrome de Sjögren, uma doença autoimune. Dependente de oxigênio em tempo integral, ele foi internado no início do ano no São Luiz Itaim para suporte clínico e reabilitação. “A situação clínica estava cada vez mais delicada, e ele já não conseguia manter o fluxo de oxigênio necessário sem suporte hospitalar”, explica Silvia Vidal Campos, coordenadora clínica da equipe de transplante pulmonar.

O transplante foi realizado no dia 13 de janeiro, após a identificação de um doador compatível. Em dois dias, Matheus já respirava sem auxílio de oxigênio suplementar. “Sem o transplante, o paciente não teria sobrevivido. Agora, é gratificante acompanhar sua recuperação”, afirma Machuca.

Durante a recuperação, Matheus ficou internado na nova UTI de Ultra Complexidade da unidade, equipada com recursos como suporte cardiopulmonar avançado (incluindo ECMO) e um centro de reabilitação para início precoce do processo pós-operatório. Ele recebeu alta hospitalar em março e continuará em acompanhamento ambulatorial. “Sou grato ao doador e a todos os profissionais envolvidos. Quero retomar minha rotina, meu trabalho e aproveitar a convivência com minha família”, afirmou.

Baixa taxa de transplantes pulmonares no Brasil

Apesar dos avanços médicos, o Brasil ainda registra números baixos de transplantes de pulmão. De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes, foram realizados apenas 103 procedimentos desse tipo em 2023 — o que representa 0,3% do total de 29.261 transplantes de órgãos realizados no país no ano passado. Em comparação, os Estados Unidos realizam cerca de 2,7 mil transplantes pulmonares por ano.

Segundo Machuca, a principal dificuldade não é a ausência de pacientes elegíveis, mas sim o acesso limitado ao tratamento. “A escassez de órgãos, a complexidade do procedimento e a necessidade de mais centros capacitados ainda são barreiras importantes. Nosso objetivo é contribuir para a ampliação da capacidade de transplantes no país, formando equipes especializadas e ampliando o acesso a esses procedimentos”, conclui.