O Hospital HFC, localizado em Piracicaba (SP), tornou-se o primeiro hospital brasileiro a conquistar a certificação ISO 12296, um reconhecimento internacional voltado para boas práticas na movimentação de pacientes hospitalizados.
Segundo Cleber Duarte, responsável pela ergonomia do HFC, “o risco envolvendo doenças osteomusculares em decorrência de movimentação de paciente é muito alto e isto, além de impactar na saúde do colaborador, tem impacto organizacional que envolve o absenteísmo e até mesmo processos trabalhistas”.
O caminho para a certificação
A jornada rumo à certificação iniciou-se com a capacitação na metodologia MAPHO (Movimentação Adequada de Pacientes Hospitalizados), uma ferramenta ergonômica referendada pela ISO 12296. Segundo Cleber, “como vimos a possibilidade de atender as recomendações que estão dentro da norma, compreendemos que seria possível pleitear tal certificação”. No entanto, o processo de adequação foi desafiador, especialmente devido às limitações financeiras do hospital filantrópico, levando cerca de oito anos para ser concluído.
Principais mudanças e desafios
Para atender às exigências da norma, o HFC implementou mudanças significativas, incluindo:
- Reformulação de processos internos;
- Criação de normas, rotinas e protocolos;
- Padronização e gestão de equipamentos e mobiliários.
As dificuldades financeiras prolongaram a execução das melhorias, e houve momentos de incerteza sobre a continuidade do projeto. “Em certo momento, ficou a sensação de enxugar gelo e não haver a continuidade desse processo, mas felizmente a diretoria sempre manteve o apoio desde o início até hoje”, explicou.
Impacto na rotina dos profissionais de saúde
A certificação trouxe um impacto direto no cotidiano dos profissionais do HFC. Houve um aumento da consciência sobre a importância da ergonomia e do cumprimento das novas rotinas de trabalho, promovendo um ambiente mais seguro.
“A certificação fez com que as responsabilidades com a própria saúde e cumprimento das rotinas ficassem maiores, dado a compreensão e dimensão do que tudo se tratava”, afirmou.
A percepção de segurança no trabalho cresceu significativamente, resultando em uma redução drástica de queixas relacionadas a Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Além disso, o hospital zerou a ocorrência de processos trabalhistas relacionados a essas questões e reduziu o absenteísmo, resultados que foram apresentados em congressos e publicados em estudos científicos.
Benefícios para os pacientes
A melhoria na ergonomia não impactou apenas os colaboradores, mas também os pacientes. O HFC conseguiu oferecer maior conforto e segurança durante a movimentação dos pacientes, prevenindo impactos e possíveis traumas. “Isso foi possível devido aos treinamentos que os colaboradores receberam, além dos investimentos em infraestrutura e equipamentos”, destacou Cleber.
Aprendizados
Durante essa jornada, o HFC compreendeu que a segurança na movimentação de pacientes vai além da técnica aplicada: ela exige uma gestão eficiente e estratégica. Entre os aprendizados adquiridos, destacam-se:
- A necessidade de encarar os investimentos em ergonomia como estratégicos, e não apenas como um custo;
- A importância de capacitar continuamente os colaboradores;
- O papel essencial do planejamento e da gestão eficiente para a implementação de boas práticas ergonômicas.
Para outras instituições interessadas em seguir esse caminho, Cleber recomenda iniciar com uma análise diagnóstica detalhada da situação atual e estruturar um planejamento baseado na gestão dos riscos ergonômicos, seguindo a metodologia MAPHO. “Compreendemos que a movimentação segura de pacientes não envolve apenas o ato de movimentar e sim a gestão toda”, reforçou.