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Onde está inserido o paciente no sistema de saúde atual?

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Ao realizar uma breve pesquisa bibliográfica, é possível identificar inúmeras publicações relacionadas ao sistema de saúde em nosso País. Nelas, predomina o destaque para a importância da interação entre os diferentes players do setor – profissionais de saúde, rede prestadora (hospitais, clínicas, laboratórios, entre outros), fornecedores (de insumos, medicamentos e produtos para a saúde) e as fontes pagadoras (pública e privada). No entanto, onde está inserido o paciente neste contexto?

Inúmeros debates e discussões realizadas entre os players citados convergem no discurso de que “o paciente deve ser colocado em primeiro lugar”. Mas, será que os interesses individuais de cada segmento não estão sobrepondo a real necessidade do paciente? Todos os integrantes estão trazendo uma visão holística para as tomadas de decisão?

Seguindo nesta linha de pensamento, faço aqui algumas ponderações. Para que o paciente realmente seja considerado a “razão da existência” deste setor – lembrando que todos nós somos pacientes –, algumas ações devem ser repensadas e consideradas.

Iniciando pelo uso adequado das tecnologias disponíveis atualmente, é fato que os avanços estão cada vez mais presentes na vida de todos (e em diferentes momentos). Na área da saúde, elas vêm contribuindo cada vez mais para a disseminação do conhecimento sobre a saúde e as doenças. Preliminarmente, o foco deste compartilhamento está mais voltado às doenças crônicas e contribui para que o paciente se informe, se prepare para compreender o problema enfrentado e realize o autocuidado em saúde. Sem dúvida, tais ações contribuem para o seu empoderamento.

O empoderamento é um processo educativo, que ajuda o paciente a adquirir conhecimento, e desenvolver habilidades e atitudes necessárias para participar ativamente das decisões acerca da sua saúde. Pacientes mais informados, envolvidos e responsabilizados interagem de forma mais eficaz com os profissionais de saúde e podem realizar ações que produzam resultados efetivos e melhoram a qualidade de vida.

No entanto, o empoderamento não deve se restringir apenas às doenças crônicas, mas sim, envolver todo contexto de saúde. Assim, nos casos de intervenções cirúrgicas e/ou necessidade de tratamentos de alta complexidade, os pacientes precisam ter conhecimento de todas as possibilidades terapêuticas e os respectivos resultados, como também a oportunidade da busca de opiniões de outros profissionais da área.

Mas, como transformar o paciente em protagonista, por meio de tecnologias viáveis? Conforme John Halanka, professor da Harvard Medical School, a telemedicina é uma das tecnologias que coloca o paciente no centro. Halanka acrescenta ainda que a telemedicina empodera os pacientes para a tomada de decisão sobre sua saúde e é considerada uma alternativa eficiente e de baixo custo. Trata-se de uma inovação em

saúde que contribui no processo de integração e decisão compartilhada entre os agentes envolvidos.

Cabe citar um exemplo já implantado em alguns serviços de saúde e que tem sua importância ratificada pelas sociedades brasileira e internacionais das especialidades, conforme publicações de seus guidelines: o Heart Team.

O Heart Team é composto por equipe multidisciplinar (cirurgia cardíaca, cardiologia intervencionista, cardiologia clínica, enfermagem, nutrição, fisioterapia, entre outros) que tem como objetivo discutir sobre as condutas terapêuticas de pacientes com doença arterial coronariana (DAC). Tais discussões têm por objetivo a tomada de decisão quanto ao tratamento mais adequado, caso a caso. Ou seja, o paciente está no centro dessas discussões.

Neste processo é possível identificar a visão holística do cuidado. O paciente é empoderado por meio de todas as informações recebidas e, assim, o sucesso do tratamento escolhido terá maior chance de ser alcançado. Aspectos nem sempre visíveis – tais como expectativas, anseios e dificuldades – poderão ser alcançados neste modelo. É essencial também considerar esses aspectos, para que sejam desenvolvidas novas soluções tecnológicas em saúde.

Voltando ao parágrafo inicial deste texto, observa-se que todos os players do sistema de saúde devem repensar como o paciente está sendo inserido neste contexto. Dessa forma, será possível construir uma relação que propicie o seu empoderamento, tendo como premissa a ética, a transparência e o respeito à individualidade.

Acrescenta-se que as discussões e compromissos dos gestores de toda cadeia em saúde têm papel fundamental para propiciar esse empoderamento, a partir da integração dos serviços e garantia na qualidade da assistência prestada.

Por fim, para pensar em um novo modelo assistencial em saúde é necessário revisitar os modelos atuais e qualificar os profissionais envolvidos para atuarem em uma assistência centrada ao paciente. Existem inúmeros modelos em discussão e não há uma “fórmula pronta”. Mas, acredite, deixar o paciente fora deste contexto, ao meu ver, é repetir os modelos já existentes.

Sobre o Autor:

Andréa Bergamini é Diretora-técnica da empresa Gestão OPME; mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília; integrante do Grupo Técnico de Trabalho de Órteses, Próteses e Materiais Especiais, coordenado pelas Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Agência Nacional de Saúde Suplementar; parte do Comitê Técnico de OPME do Fórum Latino-Americano de Defesa do Consumidor e secretária-geral do Instituto Transparência Saúde (ITS).

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