O setor de saúde enfrenta desafios cada vez mais complexos, tanto em nível global quanto local, demandando a atuação proativa de gestores na formulação de políticas públicas e na transformação do cuidado com a saúde. Dados recentes da segunda edição do Atlas CBEXS, somados a análises internacionais, ilustram as barreiras e as responsabilidades que se colocam para os líderes desse segmento.
De acordo com o estudo “Perspectivas Globais para o Setor de Saúde em 2024”, realizado pela Deloitte, os principais entraves para o setor nos próximos anos incluem as desigualdades regionais e sociais, que limitam o acesso universal à saúde, e o envelhecimento populacional aliado ao aumento dos índices de obesidade, que ampliam as demandas por cuidados mais complexos e onerosos. Os impactos da pandemia de COVID-19 ainda reverberam, com um aumento considerável no número de beneficiários da saúde suplementar e o consequente crescimento da sinistralidade. Além disso, a mudança climática, destacada pela ONU na Agenda 2030, desponta como uma das questões mais críticas desta década, com potencial de impactar diretamente a saúde de mais de 360 milhões de pessoas ao redor do mundo.
No Brasil, os dados do Atlas CBEXS apontam que os gestores de saúde têm como principais preocupações o avanço da sustentabilidade no setor, a priorização do paciente como centro do cuidado e a racionalização de custos. Além disso, a ampliação do acesso à saúde e a incorporação de novas tecnologias são apontadas como elementos essenciais para o progresso do setor. Essas prioridades evidenciam a necessidade de uma abordagem ampla, capaz de equilibrar inovação, eficiência na gestão de recursos e a inclusão de diferentes públicos no sistema de saúde.
As mudanças que o setor precisa enfrentar para sanar a preocupação dos gestores não está na ação individual. Dessa forma, a articulação coletiva para construção de políticas públicas se faz essencial. No entanto, o Atlas CBEXS revela uma divisão significativa no engajamento dos líderes. Cerca de 57% afirmaram estar envolvidos em atividades associativas relacionadas ao setor de saúde. Entretanto, apenas 24% dos executivos participaram de audiências públicas em 2023, e 44% contribuíram com consultas públicas. Esse baixo índice de envolvimento em processos democráticos preocupa, considerando que consultas e audiências públicas são ferramentas fundamentais para garantir a coerência e a assertividade das políticas desenvolvidas, além de oferecerem à sociedade a oportunidade de influenciar decisões que afetam diretamente o bem-estar coletivo.
Diante desse cenário, torna-se evidente que a liderança em saúde precisa assumir um papel mais ativo e estratégico. A participação em debates e a colaboração com autoridades governamentais não apenas fortalecem o setor, mas também garantem que as decisões políticas reflitam as reais necessidades de gestores, pacientes e demais envolvidos.
O Atlas CBEXS reforça que o futuro da saúde no Brasil depende de lideranças engajadas, capazes de transformar desafios em oportunidades. O momento exige uma visão inovadora e integrada, que coloque a sustentabilidade, a inclusão e o paciente no centro das ações. Em tempos de mudanças aceleradas, o protagonismo dos gestores na construção de políticas públicas será decisivo para alcançar um sistema de saúde mais eficiente, acessível e alinhado às demandas da sociedade.
Quer conhecer os demais achados da pesquisa? Acesse o Atlas na íntegra.
* Tacyra Valois é Vice-presidente na Abrig e CEO do CBEXS.