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Fiocruz: reação à suspeita de ebola foi um sucesso

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- Agência Brasil
Enquanto isso, nos EUA, é registrado segundo caso de infecção em agentes de saúde. Mortalidade da atual epidemia subiu para 70%, segundo a OMS

O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Vancler Rangel, disse na terça-feira (14) que a resposta brasileira ao primeiro caso de suspeita de ebola mostrou que os órgãos envolvidos estão no caminho certo. Segundo ele, com a confirmação de que não se tratava de ebola, a Fiocruz volta à "normalidade de alerta".

"Estamos conseguindo nos manter organizados para enfrentar essa emergência e é fundamental continuar em alerta e assegurar a privacidade desse paciente [o guineense Souleymane Bah, de 47 anos, que vive há pouco tempo no Paraná]", disse Rangel, em entrevista coletiva.

Ele destacou que a cobertura da imprensa ajuda a esclarecer a população e a evitar pânico e insegurança. "A existência de casos suspeitos de ebola é uma possibilidade que está colocada no plano mundial, e o Brasil certamente não está fora desse cenário. A notícia [de que não era ebola] nos dá tranquilidade, mas demonstra a necessidade de mantermos o alerta."

A vice-diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, vinculado à Fiocruz, Marília Santini, lembrou que as equipes responsáveis pelo caso passam por treinamento constante, quase diário, e que os planos de contingência podem ser adaptados a alterações no cenário.

"Esses planos são dinâmicos. São feitos com a situação de hoje e podem ser revistos se houver mais casos. Isso é tudo dinâmico. Amanhã, o planejado pode ser diferente, de acordo com a situação no estado e no país, de acordo com o planejado em conjunto com as secretarias estaduais e o Ministério da Saúde", explicou.

Marília e o também vice-diretor José Cerbino Neto cuidaram diretamente do paciente, que continua internado na unidade, mas sem isolamento desde a confirmação de que ele não tem ebola, feita em dois exames. O quadro clínico dele não requer mais hospitalização, e, segundo a Fiocruz, a alta só depende do planejamento logístico para levá-lo de volta ao Paraná.

Cerbino informou que a Fiocruz tem hoje dois leitos separados para casos de suspeita de ebola e cerca de 70 profissionais treinados para lidar com eventuais pacientes. Em um quadro de muitas suspeitas no país, todos os 32 leitos da unidade podem ser convertidos para o atendimento dos pacientes. De acordo com Rangel, além disso, o Ministério da Saúde está em contato com outros hospitais em caso de necessidade de mais internações.

Efeito colateral
A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que ocorre simultaneamente em 497 cidades, tem por objetivo mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas científicos. No Rio de Janeiro, o evento organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ocorre na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nisia Trindade, escolas que tradicionalmente comparecem ao evento desistiram este ano de participar da SNCT, desde que a Fiocruz atendeu um homem com suspeita, já descartada, da doença. Ele ficou no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), centro de pesquisa da fundação. "A gente está vendo se isso [desistência das escolas] é revisto para que elas venham", disse.

Nisia tranquilizou professores pais e alunos, garantindo que mesmo que a suspeita de ebola se confirmasse, o que não ocorreu, pois os testes deram negativos, o evento seria seguro. "Estaremos com atividades até sexta-feira (17), e as escolas podem vir com tranquilidade. Estamos com atividades muito intensa, inclusive mostrando a formação do cientista para lidar com doenças".

O Museu da Vida, órgão da Fiocruz, que também está organiza a semana no Rio, informou que 68 escolas se inscreveram e 13 desistiram. Dessas, cinco alegaram que o motivo da desistência foi a suspeita de ebola. O museu declarou também, por meio da assessoria de imprensa, que a média de desistência nos anos anteriores ficou entre 30% e 40%, resultado ainda não atingido este ano.

O professor de educação Erasmo Alves, da Escola Municipal Senador Afonso Arinos, em Duque de Caxias, levou seus alunos ao evento nesta terça-feira e declarou confiar na segurança: "Vimos no noticiário que o paciente já não tem mais a suspeita, e a gente acredita nessa instituição. Não houve nenhuma dúvida", disse.

É a primeira vez, segundo o professor, que seus alunos visitam a feira científica. Alves destacou que ver de perto os instrumentos de pesquisa e os objetos de análise está entre as partes mais interessantes do evento. "Eu acho que lidar com recursos audiovisuais é fundamental. Poder observar a análise dos mosquitos, os microscópios de perto, isso a gente não tem na escola. Lá, a gente tem livros, professores e boa vontade".

Epidemia
Os Estados Unidos anunciaram também na terça-feira o segundo caso de infecção pelo vírus ebola - de um profissional de saúde que tratou do cidadão da Libéria infectado e que acabou morrendo em território americano. De acordo com as agências internacionais, que citam os serviços de saúde do Texas, o teste feito no profissional, em Dallas, foi positivo.

O trabalhador, que manteve contato com o doente, juntamente com 74 pessoas, estava em observação. Ele teve febre e foi, de imediato, colocado em quarentena no Hospital Presbiteriano do Texas, em Dallas, acrescentam as autoridades, em comunicado.

O Departamento de Saúde local continua a acompanhar as pessoas que tiveram contato com os dois pacientes diagnosticados no Texas, um liberiano e uma enfermeira. O total de pessoas sob vigilância chega a 125, informou o diretor do Centro de Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, Thomas Frieden.

Por enquanto, as autoridades não sabem como ocorreu o contágio da enfermeira, por isso tomaram a decisão de controlar a temperatura dos profissionais de saúde duas vezes por dia para detectar os sintomas de ebola, o mesmo protocolo que se aplica ao resto das pessoas em risco.

Os mais recentes dados apontam para o registro de 8.917 casos de ebola, com 4.447 mortes. A Libéria, Serra Leoa e a Guiné-Conacri são os países mais afetados pelo pior surto da doença.

Fora de controle
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o número de novos casos de ebola deve subir, em dezembro, dos atuais mil para 5 mil a 10 mil casos por semana. A informação é do diretor-geral adjunto da entidade, Bruce Aylward, e foi transmitida durante entrevista à imprensa, em Genebra, na Suíça.

Mesmo com sinais de redução nas taxas de infecção em algumas das áreas mais atingidas, Aylward disse que a doença continua se expandindo geograficamente e chegou a “mais bairros, condados e municípios” dos países africanos da Libéria, Guiné e de Serra Leoa. Até a manhã de hoje, 4.447 mortes foram confirmadas em 8.914 casos registrados da doença. “Esta semana, vamos ultrapassar os 9 mil casos”, previu o diretor.

O representante da OMS informou que a taxa de mortalidade da doença aumentou para 70%. A estimativa anterior era de 50%. Ele caracterizou o ebola como “doença de alta mortalidade” em qualquer circunstância. Salientou que o foco é tentar isolar as pessoas contaminadas e prover tratamento imediato aos doentes. “Seria horrivelmente antiético dizer que estamos apenas isolando pessoas”, ressaltou. Acrescentou que novas estratégias, como dar equipamentos de proteção a familiares e montar clínicas simples, são prioridade.

Conforme Aylward, as medidas adotadas devem frear a expansão do vírus, mas é preciso muito mais para acabar com o ebola. "Mudanças no comportamento da população, com sepultamentos seguros, mais gestão dos casos, abertura de novos centros e o encaminhamento de doentes para tratamento, podem ajudar a frear a expansão da doença. Mas isso não vai parar o ebola", concluiu.