A gestão integrada de redes de unidades de saúde visa unificar recursos, práticas, dados e informações para garantir um atendimento mais eficiente, seguro e de qualidade, além de otimizar custos e melhorar continuamente os processos operacionais. Esse modelo muito comum nos Estados Unidos e Europa, passou a ser uma realidade brasileira e a tendência de conglomeração é cada vez maior em nosso país, em especial em estruturas verticalizadas.
Essa integração, conhecida como gestão corporativa integrada (GCI), permite que diversos serviços de saúde, a exemplo de clínicas médicas, clínicas de diagnóstico e hospitais, integrados à rede gestora operem como uma entidade coordenada, utilizando dados e recursos de maneira estratégica para responder de forma eficaz às necessidades dos pacientes e aos desafios operacionais e de mercado.
Benefícios da GCI em hospitais
Há benefícios diretos e indiretos no processo de gestão corporativa integrada de um conjunto de hospitais e isto é uma realidade há décadas nos Estados Unidos e Europa. A gestão individualizada de um hospital torna-se cada vez mais inviável e poderá levar a empresa para a insolvência. O mesmo acontece quando hospitais, mesmo estando sob a gestão corporativa integrada não atuam de tal forma, ao contrário, atuam isoladamente com base na cultura de gestão já instalada. Isto se verifica mais nos processo de fusão e aquisição do que nos processos de crescimento orgânico.
- Redução de custos e otimização de recursos: a integração de redes hospitalares permite centralizar compras, gestão de estoques, administração de infraestrutura e outros recursos, o que reduz despesas operacionais. Ao comprar equipamentos médicos, medicamentos, materiais hospitalares, órteses, próteses e materiais especiais (OPME) e demais produtos e serviços em larga escala, a rede pode negociar melhores preços, reduzindo custos e obter um fluxo de pagamento mais adequado, tendo em vista o prazo de recebimento atual por parte das operadoras de planos de saúde e órgão públicos. A alocação de profissionais e equipamentos também se torna mais eficiente, evitando desperdícios e maximizando o uso de recursos humanos e materiais. Uma estratégia também utilizada é a escolha de fornecedores estratégicos de grande porte para as compras dos itens da curva A e curva X. Isto vale para equipamentos médicos, onde é possível negociar melhor os contratos de aquisição e manutenção, como para insumos, em especial os OPME, com compras diretamente das indústrias e com a possibilidade de importação direta pela rede.
- HUB internacional para importação direta: o Brasil aproveita pouco da logística internacional. Há o exemplo do Panamá que possui algumas zonas livres de comércio, com incentivos fiscais. O País um importante centro de comércio internacional, com atividades de importação e exportação e com uma localização geográfica estratégica. O Canal do Panamá, facilita o transporte de mercadorias entre os oceanos Pacífico e Atlântico, o que faz dele um importante ponto de conexão para as rotas comerciais globais. São cerca de 180 rotas marítimas, com a participação de 170 países, conectando 1.920 portos no mundo. As exportações representam cerca de 36% do produto interno bruto (PIB) do país e os principais parceiros comerciais do Panamá são os Estados Unidos, a China, o México e a Colômbia. As importações representam cerca de 53% do PIB do país e os principais parceiros comerciais do Panamá são os Estados Unidos, a China, a Costa Rica e a Colômbia. Há importantes zonas de livre comércio no Panamá e a maioria das empresas instaladas nestas zonas são de capital estrangeiro. Implantar um centro de importação em uma dessas zonas francas pode ser uma estratégia diferenciada na gestão de suprimentos para altos volumes de compra.
- Melhoria na qualidade e continuidade do atendimento: com o compartilhamento de dados clínicos entre as unidades da rede, é possível oferecer um atendimento mais seguro e eficiente ao paciente. Informações importantes sobre tratamentos, histórico de doenças e exames realizados podem ser acessadas por qualquer unidade da rede, o que facilita o acompanhamento contínuo e evita redundâncias, como a repetição de exames desnecessários. Uma estratégia importante se refere aos protocolos clínicos, que devem ser padronizados com base nas melhores práticas e nos guidelines. Uma visão mais ampla de jornada do cuidado tem mais condições de ser desenvolvida e ofertada ao mercado, como uma forma de melhorar o valor da entrega dos serviços e tornar o sistema de saúde mais sustentável.
- Inovação e modernização de processos: a gestão integrada facilita o investimento em tecnologia, já que os custos são diluídos pela rede. Sistemas de Gestão Hospitalar, inteligência artificial e análise de dados para prever demandas e ajustar recursos são algumas das inovações que beneficiam diretamente as operações e o atendimento. É inconcebível uma rede atuar com diversos sistemas de informações hospitalares (HIS), pois terá que desenvolver diferentes interfaces de aplicações (API) e enfrentar problemas de cadastro e regras de negócio, que podem minar a segurança e a exatidão dos dados e informações para uma gestão mais estratégica.
- Capacidade de resposta a emergências e flexibilidade operacional: em emergências ou aumentos repentinos na demanda, a rede integrada pode redirecionar pacientes e recursos entre as unidades para garantir que ninguém fique sem atendimento. Essa capacidade de mobilização e resposta rápida é fundamental em crises, como a pandemia de COVID-19, que demandou adaptações rápidas nas redes de saúde pública e privada.
Principais áreas de integração
Para que uma rede hospitalar funcione de maneira realmente integrada, é essencial coordenar algumas áreas-chave:
- Sistemas de informação e tecnologia: a tecnologia da informação (TI) é a base da integração em uma rede de hospitais. A governança centralizada deve utilizar o mesmo HIS e garantir que estejam interligados de forma segura, com um forte foco em proteção de dados e cumprimento de regulamentações. Isso inclui a adoção de prontuários eletrônicos padronizados e sistemas de monitoramento e diagnóstico.
- Gestão de recursos humanos: uma rede integrada precisa de uma gestão de recursos humanos que permita a mobilidade e o compartilhamento de profissionais entre unidades, especialmente em momentos de alta demanda ou no caso de falta de pessoal em determinadas áreas. A centralização da gestão de recursos humanos permite a padronização de práticas de contratação, desenvolvimento profissional e a alocação de profissionais. Assim, a governança centralizada dessa área facilita a movimentação de equipes entre unidades e promove o desenvolvimento de habilidades essenciais para o atendimento de alta qualidade, além de criar uma cultura organizacional própria e benéfica a todos que compõem o grupo econômico.
- Logística e cadeia de suprimentos: o gerenciamento de estoque e a centralização de compras são áreas em que a integração pode gerar grandes economias. Uma logística integrada permite que insumos e equipamentos sejam rapidamente redirecionados para as unidades que mais necessitam.
- Gestão financeira e contabilidade: a centralização das finanças permite uma visão mais clara e estratégica das receitas e despesas de toda a rede, facilitando decisões de investimentos e cortes, além de permitir um sistema interno de auditoria mais eficiente.
- Qualidade e segurança do paciente: essa área é responsável por criar e monitorar protocolos padronizados de qualidade e segurança em todas as unidades. A governança centralizada permite o estabelecimento de padrões uniformes e a implementação de medidas preventivas e de controle, garantindo uma experiência de cuidado consistente e segura para o paciente. Implementar protocolos e padrões unificados de qualidade e segurança em todas as unidades garante que o paciente receba o mesmo nível de atendimento em qualquer local da rede, com impacto na gestão de custos e suprimentos. Outra ação importante está no método de comparabilidade de indicadores entre as diversas unidades, na busca das melhores práticas para o grupo econômico.
- Compliance e regulamentação: as redes de hospitais precisam atender a uma série de regulamentações sanitárias e padrões éticos, que variam de acordo com a região e o país. Um comitê de compliance centralizado assegura que as operações de todas as unidades estejam em conformidade com as leis locais e os regulamentos globais de saúde, garantindo uma atuação ética e segura.
- Planejamento estratégico e financeiro: o planejamento estratégico integrado dá uma visão de longo prazo à rede, alinhando metas financeiras e operacionais com os objetivos de cuidado. O setor financeiro centralizado oferece uma visão global dos recursos, permitindo que a rede priorize investimentos em tecnologia, infraestrutura e programas de saúde com base em dados de desempenho.
- Inovação e pesquisa clínica: uma área centralizada para inovação e pesquisa facilita o compartilhamento de descobertas e o desenvolvimento de novos tratamentos e práticas. Essa estrutura incentiva a colaboração entre unidades e permite que descobertas relevantes sejam rapidamente implementadas em toda a rede, beneficiando diretamente os pacientes.
Inteligência artificial: Potencial e aplicações na Gestão Corporativa Integrada
A inteligência artificial (IA) tem revolucionado a forma como as redes de hospitais gerenciam dados, monitoram pacientes e otimizam processos. No contexto de governança corporativa centralizada, a IA oferece várias aplicações que contribuem para melhorar os resultados operacionais e a qualidade do atendimento.
Para que a integração seja bem-sucedida, é essencial estabelecer uma estrutura de governança que envolva todas as áreas-chave. Além disso, a inteligência artificial (IA) desempenha um papel crescente na melhoria dos processos e resultados, oferecendo suporte valioso para otimização, precisão e previsibilidade. Redes de hospitais na China e na Europa têm sido exemplos de integração bem-sucedida, utilizando tanto práticas de governança corporativa centralizada quanto tecnologias avançadas, incluindo IA. Entre as formas de utiliza a IA de forma produtiva, verificamos:
- Previsão de demanda e alocação de recursos: a IA pode prever picos de demanda de pacientes com base em dados históricos e tendências, permitindo que a rede hospitalar distribua seus recursos de forma mais eficiente entre as unidades. Isso é especialmente útil para gerenciar ocupação de leitos, escalas de profissionais e distribuição de insumos em emergências.
- Análise preditiva e diagnóstico precoce: a análise preditiva permite que as redes hospitalares identifiquem fatores de risco antes que eles se transformem em problemas sérios. Algoritmos de IA analisam padrões em exames e dados clínicos para fornecer insights sobre o estado de saúde dos pacientes, melhorando a detecção precoce de doenças.
- Automação de processos administrativos: a IA pode ser usada para automatizar tarefas administrativas, como agendamento de consultas, faturamento e gestão de estoque. Essa automação reduz o tempo gasto em atividades operacionais, permitindo que os profissionais se concentrem em atividades mais estratégicas e no atendimento ao paciente.
- Suporte ao diagnóstico e tratamento personalizado: os algoritmos de IA podem auxiliar médicos no diagnóstico, sugerindo possíveis condições com base em dados sobre sintomas, histórico do paciente e dados de imagem. O suporte ao diagnóstico e a personalização de tratamentos com base em IA melhoram a precisão clínica e contribuem para um atendimento mais direcionado.
- Monitoramento remoto de pacientes: a tecnologia possibilita o monitoramento remoto de pacientes, especialmente em cuidados de longo prazo. Dados de dispositivos de monitoramento de saúde podem ser enviados em tempo real para a rede, permitindo intervenções rápidas e ajustes nos cuidados, além de reduzir a necessidade de visitas frequentes ao hospital.
Passos para padronização de protocolos clínicos
Padronizar protocolos clínicos em uma rede de hospitais é uma estratégia fundamental para garantir consistência, segurança e eficiência no atendimento ao paciente, independentemente da unidade de atendimento. A padronização envolve o desenvolvimento e a implementação de diretrizes clínicas e fluxos de trabalho uniformes, baseados em evidências, que podem ser replicados em diferentes hospitais dentro da rede. Isso requer uma estrutura bem definida e o uso de ferramentas tecnológicas avançadas. Protocolos padronizados reduzem a variabilidade no atendimento e minimizam o risco de erro, o que aumenta a segurança e a confiança no atendimento. A padronização também evita exames e procedimentos desnecessários, o que reduz os custos. Além disso, com todos os profissionais seguindo os mesmos passos, os processos se tornam mais eficientes. Protocolos bem definidos permitem que cada paciente receba um cuidado baseado nas melhores práticas, independentemente da unidade onde ele é atendido. O mesmo conceito pode ser aplicado para a padronização de materiais, medicamentos, órteses, próteses e materiais especiais, também vinculada aos protocolos clínicos. É ineficaz a tentativa de redução de custos operacionais e de insumos sem trabalhar a origem do fluxo de atendimento.
Para padronizar protocolos clínicos é importante considerar:
- Desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências: as diretrizes clínicas devem ser baseadas nas melhores práticas e evidências científicas mais recentes. É fundamental que essas diretrizes sejam revisadas por especialistas das diferentes áreas médicas e atualizadas regularmente. Para isso, é comum que grandes redes hospitalares tenham comitês de revisão que analisam novos estudos e tecnologias, periodicamente.
- Engajamento e treinamento de profissionais de saúde: uma vez definidas as diretrizes, é essencial que médicos, enfermeiros e outros profissionais estejam treinados para segui-las. Esse processo envolve workshops, sessões de treinamento e até mesmo simulações clínicas, que ajudam a garantir que todos compreendam e implementem os protocolos da mesma forma.
- Implementação de sistemas eletrônicos de prontuário e alertas clínicos: os prontuários eletrônicos (EHRs) centralizados são uma ferramenta essencial para a padronização. Eles permitem que as diretrizes sejam inseridas no sistema, com alertas clínicos que auxiliam os profissionais a seguirem os protocolos. Por exemplo, se um protocolo exige um exame específico após um determinado diagnóstico, o sistema pode gerar uma notificação automática para o profissional.
- Monitoramento contínuo e auditoria: a padronização é um processo contínuo que exige monitoramento constante. Auditorias regulares são essenciais para avaliar a adesão aos protocolos, identificar lacunas e implementar melhorias. Esses processos de avaliação podem ser conduzidos por equipes internas de controle de qualidade.
- Uso de ferramentas de análise de dados e inteligência artificial: redes hospitalares avançadas utilizam IA para analisar grandes volumes de dados e identificar padrões ou desvios nos protocolos. Isso facilita a atualização de diretrizes com base em novas evidências e ajustes para aumentar a eficácia dos tratamentos.
A abordagem da padronização de protocolos clínicos, deve ser rigorosa e eficiente, porém, não pode ser impositiva e precisa respeitar as culturas locais, em especial em um país continental, como o Brasil. A ausência dessa flexibilidade pode comprometer os objetivos das redes integradas, em especial quando envolve planos de saúde e estrutura verticalizada. Algumas ações estratégicas sugeridas para a implantação de protocolos em uma estrutura de rede de hospitais pode ser:
- Centro de inovação em práticas baseadas em evidências: implantar uma unidade específica direcionada para revisar as melhores práticas e criar diretrizes padronizadas. Este centro corporativo realiza pesquisas constantes para incorporar novas evidências científicas aos protocolos da rede integrada e distribui essas diretrizes a todas as unidades, em um processo de educação continuada.
- Sistemas integrados de prontuário eletrônico e alertas clínicos: utilizar um sistema de EHR avançado, no qual protocolos e diretrizes são embutidos diretamente. Quando um paciente é atendido, o sistema orienta o profissional em cada etapa do tratamento com base nas diretrizes padronizadas. Esse sistema também oferece alertas automáticos quando um procedimento fora do protocolo é identificado, sugerindo que o profissional siga a melhor prática predefinida. Pode também ser utilizado na estrutura de melhorias contínuas da assistência.
- Comitês multidisciplinares de revisão: reunir os comitês, periodicamente, para revisar as diretrizes clínicas e ajustar os protocolos. Esses comitês incluem médicos, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros profissionais, para garantir que os protocolos sejam abrangentes e seguros.
- Inteligência artificial para previsão e análise de dados: utilizar IA para analisar dados de grande quantidade de pacientes e identificar como os protocolos são aplicados e quais melhorias podem ser feitas. Essa análise permite prever possíveis complicações e ajustar as diretrizes para tratamentos mais seguros e eficazes. A IA também é usada para personalizar protocolos com base em características do paciente, oferecendo tratamentos mais individualizados e eficazes.
- Cultura de melhoria contínua: incentivar o feedback contínuo dos profissionais de saúde para aprimorar os protocolos. Além disso, a cultura de melhoria contínua promove a adaptação dos protocolos sempre que novas evidências surgem ou o feedback dos profissionais indica áreas que podem ser otimizadas.
Os principais desafios para a Gestão Corporativa Integrada
O processo de integração corporativa em grandes redes hospitalares enfrenta diversos desafios, especialmente devido à complexidade e ao tamanho das operações envolvidas. Pode ocorrer problemas no excesso de centralização, como o desrespeito junto aos líderes das unidades operacionais locais com erros estratégicos graves e, também, com descentralização inadequada, ocasionando falta de controle de temas sensíveis para a gestão corporativa e ampliar o mapa de riscos. Uma afirmação é unânime em todas as experiências de sucesso: os representantes da estrutura corporativa precisam ser profissionais altamente amadurecidos e qualificados para o desafio de padronizar, uniformizar e efetivar a gestão corporativa integrada. A falta deste amadurecimento e baixa qualificação profissional são as principais causas dos insucessos, pois podem trocar a racionalidade pela supervalorização do ego e o que é certo para a organização é substituído pelo que é certo para as pessoas, podendo gerar perdas severas nos resultados financeiros e operacionais.
Mesmo com os muitos benefícios da integração, como maior eficiência e redução de custos, as redes hospitalares se deparam com desafios que afetam a implementação bem-sucedida do modelo integrado. Aqui estão algumas das principais dificuldades a serem ultrapassadas:
- Heterogeneidade dos sistemas de tecnologia da informação (TI): uma das maiores barreiras para a integração é a existência de sistemas de TI e prontuários eletrônicos diferentes entre as unidades. A falta de compatibilidade e padronização dos sistemas pode dificultar a troca de informações entre as unidades. Isso resulta em fragmentação dos dados e dificulta o compartilhamento de informações do paciente, essencial para um atendimento contínuo e eficiente. Além disso, a migração de dados para um sistema unificado pode ser cara e demorada.
- Resistência cultural e à mudança de comportamento: a integração corporativa exige mudanças na cultura organizacional e nos comportamentos dos profissionais, que podem estar acostumados a processos locais específicos. Médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde podem resistir a mudanças, principalmente quando isso impacta sua forma de trabalho ou autonomia. A resistência à mudança pode reduzir a adesão aos novos protocolos e padrões, prejudicando o sucesso da integração e gerando a desobediência passiva, que tem efeitos negativos. Promover uma cultura de colaboração e unificação, com treinamento e engajamento dos profissionais, é fundamental, mas requer tempo e esforço significativos.
- Complexidade na padronização de protocolos clínicos: redes hospitalares integradas precisam de protocolos clínicos padronizados para garantir a consistência e a segurança do atendimento. No entanto, essa padronização é difícil em ambientes onde as condições de saúde dos pacientes e as práticas locais podem variar amplamente. A padronização excessiva pode ser vista como uma limitação à flexibilidade clínica, especialmente para profissionais que lidam com casos complexos ou que atendem a uma população diversa. Equilibrar a padronização com a necessidade de personalização é um desafio constante.
- Desafios regulatórios e de compliance: há regulamentações rígidas que variam por região, e os grupos que atuam no setor saúde precisam garantir conformidade com todas elas. A integração pode expor a rede a riscos regulatórios, já que leis e políticas locais podem entrar em conflito com uma abordagem padronizada. Assim, cumprir diferentes requisitos regulatórios pode ser um obstáculo que atrasa o processo de integração e aumenta os custos com auditorias e consultorias legais para garantir que todas as unidades estejam em conformidade.
- Integração de recursos humanos e alinhamento de incentivos: em uma rede integrada, é crucial que todos os profissionais tenham um alinhamento de incentivos e metas pactuadas. Porém, integrar políticas de contratação, remuneração, avaliação de desempenho e treinamento entre as unidades pode ser um processo demorado e complexo. A falta de uniformidade nas políticas de recursos humanos pode gerar desigualdades e desmotivação entre os profissionais, prejudicando o ambiente de trabalho e dificultando o alinhamento dos objetivos da rede.
- Sustentabilidade financeira e alto custo de implementação: a integração corporativa requer investimentos iniciais significativos em infraestrutura, tecnologia, treinamento e processos de atualização. Para redes hospitalares, especialmente aquelas com margens de lucro reduzidas, esse custo pode ser proibitivo. A pressão financeira pode levar a cortes em outras áreas, prejudicando a qualidade dos cuidados ou atrasando a implementação de melhorias planejadas. Em alguns casos, o retorno do investimento demora, o que pode desmotivar os gestores e reduzir o apoio financeiro.
- Segurança e privacidade de dados: a integração, há um volume maior de dados circulando entre as unidades, o que aumenta o risco de falhas de segurança e violações de privacidade. Além disso, o cumprimento de normas de privacidade e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), exige investimentos em proteção de dados e monitoramento constante. Qualquer violação de dados pode comprometer a confiança dos pacientes e trazer sérios problemas legais para a rede hospitalar. Proteger adequadamente esses dados demanda uma infraestrutura robusta e profissionais especializados em cibersegurança.
- Alinhamento e interoperabilidade com outras instituições e parceiros externos: A integração eficiente de uma rede hospitalar também depende da colaboração com parceiros externos, como fornecedores, seguradoras, clínicas e farmácias. Integrar sistemas e processos com essas partes pode ser desafiador, especialmente quando há diversos padrões no setor. A falta de alinhamento com outras organizações pode afetar a continuidade do cuidado e dificultar o acesso a medicamentos, suprimentos e outros recursos essenciais para o funcionamento da rede hospitalar.
Exemplos de redes integradas nos Estados Unidos
Mayo Clinic (Estados Unidos): A Mayo Clinic é uma referência mundial em rede integrada de serviços de saúde. Com hospitais e clínicas em vários estados dos Estados Unidos, a organização investe em tecnologia de ponta e sistemas de informação integrados. A rede utiliza prontuários eletrônicos centralizados e ferramentas de análise de dados para monitorar e melhorar a qualidade dos cuidados prestados, além de oferecer uma experiência contínua ao paciente, independentemente da unidade. A Mayo Clinic reporta uma redução significativa de cerca de 30% na taxa de readmissão hospitalar devido ao uso de um sistema integrado de prontuários e à análise de dados preditiva. Além disso, a gestão centralizada de insumos gerou economias superiores a 10% em custos operacionais anuais.
Kaiser Permanente (Estados Unidos): Outra referência nos Estados Unidos, a Kaiser Permanente é conhecida por sua abordagem de integração total de serviços de saúde. Além dos hospitais, ela opera um plano de saúde próprio, o que facilita a integração entre os prestadores de serviços e os financiadores. A Kaiser usa prontuários eletrônicos e análises avançadas para acompanhar o histórico de saúde de seus pacientes e personalizar o atendimento. A Kaiser Permanente conseguiu reduzir as internações hospitalares em cerca de 20% com o uso de análise de dados para identificar riscos precoces e promover cuidados preventivos. Além disso, a centralização da logística de medicamentos e insumos gerou uma economia de cerca de 15% nos custos de operação.
United Surgical Partners International – USPI (Estados Unidos): A USPI administra mais de 440 centros de cirurgias ambulatoriais e outros serviços de saúde especializados em vários estados dos Estados Unidos. Essa rede oferece uma variedade de procedimentos cirúrgicos que não exigem internação prolongada, incluindo ortopedia, oftalmologia, gastroenterologia, entre outros. A integração da USPI com a Tenet Healthcare permite centralizar os processos corporativos e obter ganhos de escala, ao mesmo tempo em que mantém a padronização e alta qualidade de atendimento em cada unidade.
A USPI adota uma gestão centralizada para áreas como finanças, compliance, recursos humanos e suprimentos. Isso permite reduzir custos administrativos e aproveitar os recursos de forma mais eficiente. A governança corporativa é padronizada para garantir que todas as unidades sigam os mesmos protocolos clínicos, normas de segurança e procedimentos operacionais, resultando em uma experiência consistente para pacientes e médicos. Os centros de cirurgia ambulatorial da USPI estão conectados a sistemas integrados de prontuário eletrônico (EHR) que permitem acesso fácil e seguro às informações de saúde do paciente. A USPI estabelece parcerias com médicos e clínicas locais, permitindo que eles tenham participação acionária em alguns dos centros. Esse modelo de copropriedade incentiva os médicos a aderirem aos protocolos da USPI e a buscarem a excelência nos resultados. A USPI também mantém alianças com redes hospitalares e seguradoras, integrando seus serviços de cirurgia ambulatorial aos sistemas de saúde locais e permitindo um fluxo de pacientes mais eficiente. Todos os centros da USPI seguem protocolos clínicos e de segurança uniformes. A padronização desses protocolos, com base em melhores práticas e evidências, permite reduzir a variabilidade no atendimento e melhorar a segurança dos pacientes.
Integração corporativa é necessária
O processo de integração corporativa em grandes grupos econômicos, que atuam no setor saúde traz desafios significativos, especialmente em relação à padronização, tecnologia e cultura organizacional. Superar essas dificuldades exige um planejamento estratégico detalhado, investimentos robustos em TI e uma abordagem colaborativa que envolva todas as lideranças corporativa e das áreas de negócio. Grupos econômicos que implantaram o sistema de Gestão Corporativa Integrada bem-sucedidos, mostram que, embora complexa, a implementação do modelo traz benefícios, que podem melhorar a eficiência operacional, financeira, experiência e valor para os pacientes.
*Newton Quadros é administrador de empresas, especialista em Qualidade Hospitalar e em Governança Corporativa, atua há 37 anos na área de saúde. Trabalhou em diversos estados brasileiros, em Angola e no Panamá. Foi diretor de grandes empresas do setor de saúde a exemplo do Grupo Fleury, Hospital Baía Sul, Rede Ímpar de Hospitais, DaVita International, dentre outras. Atualmente é Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Ambulatorial – SOBRACAM, Conselheiro do Instituto Empreendedores do Futuro – IEF e Superintendente do Hospital Regional de São José dos Campos, São Paulo – ISG Saúde.