A rotina de uma clínica veterinária pode ser imprevisível e emocionalmente intensa. Mais do que dominar conhecimentos técnicos, os profissionais precisam estar preparados para lidar com situações difíceis — como casos clínicos delicados, conflitos com tutores, decisões éticas complexas e sobrecarga emocional.
Segundo uma pesquisa sobre saúde mental do CRMV-SP, 65% dos profissionais da área relatam que conflitos interpessoais e decisões difíceis são fontes frequentes de estresse. Não é raro que a equipe se depare com pacientes em estado crítico, tutores emocionalmente abalados, prazos apertados e pressões externas que impactam diretamente na tomada de decisões clínicas. Preparar-se para essas situações é essencial para manter a estabilidade emocional da equipe e a qualidade do atendimento.
Comunicação clara e empatia
A comunicação é um dos pilares para gerenciar situações difíceis. Quando a equipe está treinada para ouvir ativamente, transmitir informações com clareza e manter a calma mesmo em momentos de tensão, o ambiente clínico se torna mais seguro e acolhedor para todos.
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma ferramenta poderosa nesse contexto. Adaptada à realidade clínica, a CNV propõe um atendimento baseado na empatia, no reconhecimento das emoções e na orientação clara e respeitosa. Expressões como “Entendo que você esteja preocupado com a recuperação” ou “Você quer garantir que ele não esteja com dor, certo?” são poderosas para transformar uma conversa tensa em uma relação de confiança. O segredo está em observar sem julgar, reconhecer sentimentos e necessidades e fazer pedidos objetivos. E isso se treina — com simulações, escuta em grupo e feedbacks construtivos.
Criar diretrizes internas para situações difíceis
Mas comunicação, por si só, não resolve tudo. É fundamental que a clínica tenha diretrizes claras para situações difíceis. Protocolos como manter uma dupla de atendimento em casos críticos, contar com um gerente ou responsável técnico para conversas delicadas e definir critérios para recusa de atendimento (em casos de reincidência de abuso verbal, por exemplo) ajudam a proteger a equipe e garantem uma resposta coerente da instituição.
Sim, recusar um cliente pode ser necessário para preservar a saúde mental da equipe e o bom funcionamento da clínica. Isso pode — e deve — ser feito com ética e firmeza, com base em fatos e de forma bastante profissional. Algumas orientações:
- Documente os episódios de desrespeito ou conflitos.
- Seja direto, mas respeitoso: “Diante dos episódios anteriores e da dificuldade em mantermos uma relação de confiança mútua, optamos por encerrar nosso vínculo profissional.”
- Indique outra clínica ou profissional, se possível, para manter uma postura ética.
- Oriente a equipe a não entrar em debates com clientes agressivos — ofereça o contato da gerência e finalize a conversa de forma segura.
Por fim, nenhuma estratégia será eficaz se a equipe estiver exausta. Criar espaços seguros para desabafos, promover encontros com psicólogos e especialistas em comunicação, e reconhecer o bom atendimento, mesmo em cenários desafiadores, são atitudes que constroem uma cultura de respeito e valorização dentro da clínica.
Lidar com situações difíceis na clínica veterinária exige preparo, empatia e estrutura. Criar um ambiente que acolhe não apenas os pacientes, mas os profissionais que cuidam deles, é fundamental para a sustentabilidade do negócio e para a construção de uma prática mais humana, ética e respeitosa. Afinal, cuidar de animais também é cuidar das pessoas por trás do jaleco.
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