O setor de saúde suplementar precisa de um novo fôlego para voltar a crescer de forma sustentável e ampliar o acesso da população aos serviços privados. Essa foi a principal mensagem de Marcos Novais, diretor executivo da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), durante sua participação em um painel no Congresso Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo).

Ao lado de Rafael Barbosa, CEO da healthtech Bionexo, Novais abordou os desafios e caminhos para estreitar a relação entre operadoras e hospitais — especialmente os filantrópicos — e reforçou a importância de fomentar inovação no setor. “Novos modelos são necessários, sem dúvida nenhuma. E para isso precisamos criar um ambiente regulatório experimental, como os sandbox já testados em mais de 100 países”, afirmou.

Falta de inclusão preocupa setor

Apesar do crescimento do número de beneficiários nos últimos anos — impulsionado principalmente por mudanças regulatórias que incorporaram vidas oriundas de institutos de previdência —, Novais alerta que o setor ainda falha em sua meta principal: a inclusão. “Não estamos conseguindo incluir novas pessoas na saúde suplementar há um bom tempo”, disse. Para ele, isso mostra que o modelo atual precisa ser repensado com urgência.

Sandbox regulatório: testar para inovar

Uma das apostas para viabilizar a inovação é a proposta de criação de um ambiente regulatório experimental para o setor, inspirado em iniciativas globais conhecidas como sandbox. A ideia é permitir que produtos voltados à cobertura ambulatorial, como consultas e exames, possam ser testados sob supervisão da ANS, sem a rigidez regulatória imposta aos planos tradicionais.

“Estamos falando de um setor extremamente regulado, o que por um lado é importante, mas por outro dificulta a inovação. Sem liberdade para testar, fica quase impossível criar produtos que de fato atendam a novas demandas da população”, explicou.

Mais do que tecnologia: propósito e acesso

Durante o painel, Novais compartilhou exemplos de soluções tecnológicas, como uma plataforma de apoio psicológico baseada em inteligência artificial, que oferece suporte emocional 24 horas por dia. “Ela não substitui um psicólogo, mas pode ser um braço do profissional para ampliar o cuidado”, afirmou.

Também mencionou iniciativas como a startup Sim Saúde, que oferece acesso a cirurgias eletivas em modelo particular a preços acessíveis, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Para Novais, essas experiências mostram que há caminhos viáveis para melhorar o acesso — desde que exista disposição do setor para abrir as portas à inovação.

Operadoras e hospitais: relação precisa evoluir

Sobre a relação entre operadoras e hospitais, especialmente os filantrópicos, Novais defendeu que divergências comerciais, como as glosas, não devem pautar o relacionamento. “Hoje discutimos glosa, mas deveríamos discutir resultado em saúde. O modelo de conta aberta é insustentável. Precisamos de previsibilidade de custos e de remuneração baseada em valor”, afirmou.

Segundo dados da Bionexo compartilhados durante o evento, cerca de 60% a 70% das glosas hoje não têm relação com auditoria médica ou decisão da operadora, mas sim com erros sistêmicos e processuais. “Resolver isso já diminuiria significativamente os atritos”, completou Rafael Barbosa.

Um novo capítulo para a saúde suplementar

A fala de Novais encerrou com um convite à ação conjunta entre operadoras, hospitais e reguladores. “Temos uma das maiores infraestruturas de saúde do mundo, entregando tratamentos complexos por um custo médio de 70 dólares mensais. Isso é muito. Mas podemos entregar ainda mais, desde que repensemos nossos modelos”, concluiu.