“Aquele que pode ter paciência pode ter o que quiser”

Benjamin Franklin (1706-1790)

Benjamin Franklin foi um dos “pais fundadores” dos EUA, um dos maiores polímatas da nossa era e considerava a paciência uma das grandes virtudes da humanidade. Na administração em saúde e para lideranças em geral, a falta de paciência é uma poderosa sabotadora da boa comunicação e da segurança psicológica, com significativo impacto no desempenho das equipes envolvidas. A impaciência pode se manifestar através de pequenos gestos, detalhes muitas vezes imperceptíveis que denotam sarcasmo, insatisfação e agressividade. O comportamento agressivo, mesmo que sutil, desmantela a segurança psicológica dos times e das pessoas. Líderes impacientes não tem por hábito ouvir ideias divergentes, não se preocupam com os impactos de suas intervenções e consideram fúteis feedbacks que não corroborem com a sua opinião.

O líder assertivo é firme e confiante, mas não é agressivo nem impaciente. Ele foca no desenvolvimento de relacionamentos que envolvam o respeito mútuo, para identificar e tratar dos conflitos, definir objetivos e metas sensatos. Não há espaço para metas mirabolantes nem para sarcasmo, raiva ou ressentimento. Uma forma eficiente para ir de encontro a uma decisão assertiva e melhorar a comunicação sem atropelos é usar das técnicas do pensamento crítico – e elas também podem dar um “upgrade” na sua paciência e no seu desempenho enquanto líder.

Essas técnicas do pensamento crítico envolvem liderar através de perguntas e da coleta de informações relevantes, envolvendo diversos pontos de vista. Pense em coletar dados reais e não tomar decisões baseado em crenças ou suposições. Dados reais só existem onde as coisas realmente acontecem – o que chamamos de gemba: o lugar real, a beira do leito, o balcão da farmácia, o posto de enfermagem. Ao fazer uma análise, considere vários contextos para o problema e busque identificar os pontos frágeis relacionados a cada possível decisão. Comunique claramente seus objetivos e suas decisões, inclusive explicando os motivos que o levaram a esse desfecho. Desafie suas crenças e suas premissas, busque novas formas de pensar e novos paradigmas, busque enxergar o problema através dos olhos dos outros.

Um exemplo de mudança de paradigma vem do estudo de David Sluss, publicado na Harvard Business Review de setembro de 2020. Sluss estudou 578 profissionais de nível superior em diversas áreas, mais da metade em posições de liderança, onde indagou aos entrevistados sobre o comportamento dos seus superiores, seu nível de paciência e ao mesmo tempo para que reportassem seu próprio nível de criatividade, produtividade e colaboração. As respostas são surpreendentes: quando os líderes demonstram paciência, seus subordinados reportam 16% mais criatividade e colaboração e 13% mais produtividade.

Não satisfeito, Sluss estudou também o impacto da paciência em tipos diferentes de liderança, especificamente líderes orientados a tarefas, mais focados e detalhistas (que chamou de futuristas) e líderes orientados a relacionamentos, habitualmente mais cooperativos e abertos ao diálogo (que chamou de facilitadores). Buscou entender como a paciência afetou o desempenho desses dois tipos de liderança e conclui que ela tornou ambos mais efetivos. O futurista necessita de paciência para melhor explicar a visão de futuro, detalhar as métricas e expectativas de desempenho. E o facilitador precisa de paciência para que o processo de colaboração do grupo se desenvolva de maneira mais eficiente ao longo do tempo, mas que seja também capaz de entregar um bom desempenho.

Sluss sugeriu, então, duas formas básicas para desenvolver melhor nossa paciência. A primeira é redefinir quando a “velocidade” é importante. O planejamento da estratégia, por exemplo, é algo que toma tempo e demanda muita paciência e reflexão. No entanto, quando chegar a hora de agir, seja rápido e objetivo. Ele cita o lema dos Fuzileiros Navais dos EUA: “Lento é suave, e suave é rápido”. Os Fuzileiros são famosos por operações rápidas e bem-sucedidas, mas, paradoxalmente, são planejadores metódicos e exaustivos. Intervenções de minutos podem tomar meses de planejamento.

E a segunda recomendação de Sluss é exercer a gratidão com mais frequência. Ela tem um efeito positivo em diversas condições humanas. Exercitar a gratidão aumenta a generosidade, reduz o estresse e, em estudos experimentais, pessoas mais gratas administram melhor o tempo, sabem lidar melhor com frustrações e são mais pacientes. Seja você um líder futurista, focado em resultados, ou facilitador, focado em relacionamentos, exercitar sua gratidão é uma ótima maneira de se tornar um pouco mais paciente e mais assertivo ao exercer seu papel de liderança.

E não há época melhor no ano para exercitar a gratidão do que agora.

Boas festas.