Em tempos de crises, sejam políticas, econômicas, climáticas ou sociais, a forma como lidamos com esses desafios pode ser profundamente influenciada por nossa moralidade.
Um renomado psicólogo social chamado Jonathan Haidt desenvolveu a teoria dos fundamentos morais, que me ajudaram a entender as bases psicológicas de nossas instituições morais e como elas moldam as respostas às crises e o comportamento das pessoas. Estudo que, inclusive, fez parte da discussão do meu mestrado que estudou à resposta à crise sanitária de Covid-19.
Na teoria de Haidt existem seis fundamentos que codam a moralidade humana. São eles: cuidado/prejuízo, que é relacionado com nossa capacidade de sentir empatia e evitar o sofrimento dos outros; a justiça/trapaça, baseado na reciprocidade e na justiça; lealdade e traição, intimamente ligado ao nosso senso de pertencimento a grupos e à lealdade a eles; autoridade e subversão, ligado ao respeito por hierarquias e tradições, santidade/degradação, que está conectado à pureza e ao desejo de evitar contaminação e a liberdade/opressão, que está relacionado a aversão a opressão e no desejo por liberdade.
Estes seis fundamentos passam por adaptações a culturas e indivíduos, mas são fundamentais quando avaliamos diferentes sociedades na resposta às crises.
E enquanto houver uma decisão a ser tomada, haverá uma – ou mais – crise (s). E por que eu digo isso? Se analisarmos a etimologia da palavra crise, veremos que ela tem origem no grego krísis, que significa “decisão”, “separação”, “julgamento” ou “evento”. Em latim, a palavra é crisis.
Ao longo da história, ela tem sido usada em áreas distintas do conhecimento, como Sociologia, Economia e Política e até mesmo na Medicina.
Na Medicina, a palavra crise é usada para designar o momento em que uma doença se define entre a cura e a morte. Já na economia, para designar a fase de transição entre um período de prosperidade e outro de depressão.
Se pensarmos do ponto de vista climático, vivemos uma crise sem precedentes. Com os acontecimentos mais marcantes recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul ou mesmo os incêndios na Califórnia, nos EUA, ficaram evidentes os perigos do aquecimento global à saúde, já que tem intrínseca relação com o agravo de doenças respiratórias e cardiovasculares, aumento na incidência de doenças transmitidas por vetores (como dengue e malária), além do comprometimento da segurança alimentar e segurança hídricas (olha aí outras duas crises). Além disso, desastres naturais podem causar lesões físicas, estresse psicológico e sobrecarregar sistemas de saúde. Há 10 anos, seria improvável essa correlação tão direta, não é mesmo?
Se formos olhar do ponto de vista político, temos hoje um mundo polarizado, com necessidades diferentes e pouca empatia, trazendo fortemente a análise de Jonatan sobre psicologia moral.
Construindo pontes em um mundo em crise
Em um mundo cada vez mais plural e com opiniões divergentes, a habilidade de navegar essas diferenças e construir pontes é essencial. Haidt argumenta que, para superar as divisões morais e políticas, precisamos desenvolver uma compreensão mais profunda das perspectivas dos outros e encontrar maneiras de colaborar, mesmo quando discordamos.
Em tempos de crise, a resiliência e a comunicação eficaz são fundamentais. Ela sugere que os líderes mundiais e os gestores que se destacam são aqueles que conseguem se comunicar com um maior número de pessoas, estabelecendo diálogos e praticando a escuta ativa sem perder de vista o que toca a sociedade, cada indivíduo e seus comportamentos.
Em resumo, vai se diferenciar o líder que usa a lente poderosa do conhecimento para entender como nossas instituições, pessoas e comunidades influenciam as respostas às crises, ao reconhecer a diversidade de fundamentos, construção e narrativas de um indivíduo, sociedade e time. Deve-se também buscar construir pontes entre diferentes perspectivas para que possamos lidar com um mundo tão plural e complexo e navegar melhor buscando dialogar para construir consenso.
Trago toda essa análise para reforçar que sairá na frente o executivo que compreender que, dentro das crises, em contextos muitas vezes dúbios do mundo contemporâneo, existem oportunidades. Acredito que se destacarão aqueles que se firmem como fonte fidedigna e com boa reputação que – ainda – é um atributo valorizado e, dado cenário, complexo de gerir. É a resiliência no sentido mais literal da palavra.
E você, está construindo muros ou pontes em suas relações para lidar melhor com as crises?