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O próximo Vale do Silício

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Quando a discussão é sobre inovação tem sempre alguém que, lá pelas tantas, pronuncia a palavra “Vale” com uma intimidade de quem nasceu e cresceu no Vale do Silício. Trata-se de uma palavra cheia de simbologia, que trás em si uma espécie de chancela que nos informa que, se um projeto aconteceu no Vale, trata-se de algo verdadeiramente fora de série.

E isso não acontece apenas no Brasil. Presenciei essa mesma situação visitando aceleradoras em locais tão discrepantes entre si, como Israel, Portugal e até mesmo dentro dos EUA!

Com toda essa admiração internacional em torno daquele ecossistema sempre surge uma pergunta sobre qual será, afinal de contas, o próximo Vale do Silício a despontar no mundo do empreendedorismo. Aqui no Brasil, por exemplo, é comum ouvirmos que ecossistemas com uma certa densidade já demonstrada são os Vales do Silício brasileiro...

Trata-se, porém, de uma pergunta que tem no próprio enunciado um grave erro de avaliação, uma vez que já está claro que não haverá um próximo Vale do Silício em nenhum lugar do mundo. Pelo contrário: haverá vários Vales do Silício espalhados ao redor do planeta.

Essa constatação está relatada em detalhes na última edição de um levantamento detalhado sobre o ecossistema global de startups publicado pela Startup Genome e é sobre esses possíveis cenários que vamos refletir aqui na coluna.

Mas antes de ir ao ponto, vale ressaltar que o valor criado pelas startups em todo mundo não para de crescer, tendo mais que dobrado apenas no período 2016-2018. Assim ele se igualou ao PIB do Reino Unido, justificando que se considere a riqueza total da “economia das startups” algo equivalente aquela de um dos países mais ricos do planeta (lembrado que empresas como Facebook e Google não estão incluídas nessa estatística, uma vez que já deixaram de ser startups há muito tempo; nunca é demais lembrar).

E por falar em Google, no ano em que eles ainda eram uma startup muito já se falava sobre a incomparável capacidade de investimento de VCs do Vale do Silício. Para que se tenha uma ideia do aquecimento desse setor da economia, atualmente outros 5 ecossistemas já ultrapassaram o valor altíssimo de então: Nova Iorque, Londres, Boston, Shangai e Pequim (a China já despontando aqui também).

Em termos de relevância, porém, a lista chega ao número de 30 ecossistemas – não necessariamente maiores que o Vale, porém atingindo uma massa crítica de inovação pautada por suas localizações geográficas (ex: Singapura no Sudoeste da Ásia) ou subsetores específicos (ex: São Diego em Life Sciences).

Além dos 5 já mencionados acima no critério volume total de capital de risco, a lista dos Top 10 em caráter geral (conhecimento + experiência + talento + funding + mercado-alvo + conexões + performance) ainda inclui Tel Aviv, Los Angeles, Paris e Berlim (além do próprio Vale do Silício).

E como se fosse uma prova de maratona, podemos nos referir a um imaginário segundo pelotão formado por Estocolmo, Seattle, Toronto, Singapura, Amsterdam, Austin, Chicago, Bangalore (na Índia), Washington e San Diego. Seguido de perto pelo último pelotão formado por Denver, Lausanne (na Suíça), Sydney, Vancouver, Hong Kong, Atlanta, Barcelona, Dublin, Miami e Munique.

O estudo ainda nos lembra de que, como trata-se de um ambiente muito dinâmico – existe ainda um pelotão de “azarões” que ameaça de perto esse último grupo e é formado por Helsinki (na Finlândia), Hangzhou e Shenzen (na China), Jakarta (na Indonésia), Lagos (na Nigéria), Mumbai (na Índia), Melbourne, Montreal, Moscou, Seul, Tokyo e (aqui, o que seria o Vale do Silício da América Latina) São Paulo.

Mas muito mais ainda está por vir, pelo menos é o que dizem os números. Considerando-se a marca de US$ 4 B como benchmark de valor criado pelas startups, tínhamos entre 2014-2016 um total de 29 ecossistemas ranqueados, e esse número saltou para 46 entre 2016-2018. Para que se tenha uma ideia do potencial que ainda deve ser realizado, estima-se que ao final dos próximos dez anos devemos ter nada menos que 100 ecossistemas atingindo essa marca!

Dentro disso os subsetores com crescimento mais acelerado são Robotica, BlockChain, Agtech / Foodtech e (obviamente!) Inteligência Artificial / Big Data / Analytics e os com menor crescimento são Adtech, Gaming, Mídias Digitais e Edtech. A tendência assim aponta para um aumento de startups Deep Tech e um consequente crescimento de registros de Propriedade Intelectual em todo mundo.

Especificamente com relação a Life Sciences, onde a dinâmica é bastante específica devido a fatores como altos investimentos em conhecimento, pesquisa e trial, alguns ecossistemas têm ganhado bastante relevo, como os casos de Tel Aviv, Lausanne – Bern – Geneve e San Diego.

Para concluir é fundamental lembrar que a participação feminina em todo essa efervescência ainda é lamentavelmente baixa, com a fatia de founders mulheres ficando próxima a casa de 15% do total (vale um menção honrosa a Chicago, Nova Iorque, Shangai, Hoston e Leste da Irlanda: únicas regiões com uma fatia superior a 20%).

Trata-se de uma realidade muito incômoda, mas que pela lógica incontestável da natureza – e não somente dos números - deverá mudar muito nos próximos dez anos, dado que mulheres são capazes de criar vida e, de forma análoga, deverão acelerar em muito a criação de valor em todo esse grande ecossistema global.