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Assinatura mensal de serviços de saúde, por que não?

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Radiologistas e cirurgiões tendem a ser mais bem remunerados por manterem  parcerias com hospitais e clínicas. Mas e os médicos clínicos, que não são sócios de ninguém e essencialmente vivem do seu próprio conhecimento e reputação? Hora de arriscar novos modelos, como um clube de acompanhamento a distância.

Um dos paradigmas mais antigos da prática médica é a remuneração por eventos pontuais, como consultas e procedimentos. Como procedimentos envolvem diversos outros investimentos e custos - incluindo materiais, equipamentos, infraestrutura hospitalar, etc. - o honorário médico, nesses casos, acaba sendo adicionado também de um certo tipo de participação no investimento.

Radiologistas, por exemplo, tendem a ser mais bem remunerados do que os clínicos porque são um tipo de sócio do investidor no aparelho (que pode ser do próprio radiologista ou de um terceiro). O mesmo vale para cirurgiões, que são parceiros de negócios do hospital ou clínica e se beneficiam do poder de negociação destes sobre as operadoras. Mas, e os médicos clínicos, que não são sócios de ninguém e essencialmente vivem do seu próprio conhecimento e reputação?

O futuro da Medicina Clínica

Claramente, a venda de “conhecimento” está com os dias contados. O processo que há 20 anos se iniciou com a proliferação de sites de conteúdo, hoje se aproxima de mais uma fase, com robôs inteligentes (como o Watson da IBM) oferecendo orientação clínica com base num conjunto tão grande de evidências, que ficou difícil para o cérebro humano acompanhar. Qual será portanto o futuro da medicina clínica? A regulação ainda dá uma sobrevida à profissão, restringindo ao médico o poder de prescrever. Mas sinceramente, não há regulação que resista ao rumo natural da história, muito menos em um país onde receitas são praticamente desnecessárias para obtenção de medicamentos.

Coelho na cartola: modelo de clube de acompanhamentos a distância

Há um papel do médico clínico que me parece difícil ser substituído por conteúdo e algoritmos: o acolhimento dos pacientes e a gestão de casos. Acredito que seja isso o que os pacientes precisam. Muitos pacientes simplesmente querem uma receita e uma solução rápida para o seu problema. Esses nunca serão bons pacientes e não estão efetivamente preocupados com sua saúde. Mas cada vez mais, cresce o contingente de pessoas preocupadas com a sua saúde, e não exatamente com a sua doença. Basta ver a quantidade de maratonistas hoje em dia comparado a 20 anos atrás para entender do que eu estou falando. Cada vez mais, as pessoas enxergam no médico um coach, um conselheiro, um parceiro que o acompanha ao longo da sua vida. No entanto, os médicos relutam em assumir esse papel.

Na minha opinião, a Medicina Clínica precisará passar por uma drástica atualização do seu modelo de negócios. Em vez de pacientes com um problema em busca de solução, teremos pessoas com diversas condições crônicas, que não se entendem doentes, mas que gostariam de ter no médico uma assistência continuada e de longo prazo para permanecerem saudáveis. Me parece portanto natural que um dos modelos de negócio de maior potencial para médicos clínicos seja a criação de “clubes de acompanhamento”.

O médico hoje apenas é remunerado pelo paciente que está na sua frente no consultório, mas a verdade é que cada médico possui centenas de pessoas que têm nele (ou nela) o seu maior referencial de saúde. Só que o médico solenemente ignora essa população. Faria todo sentido acolher essa população e abandonar o modelo de consultas pontuais por um modelo de gestão de populações. Cada paciente membro da clínica do médico seria um membro continuamente acompanhado pelo médico e sua equipe, ainda com consultas no consultório (quando estritamente necessário), mas principalmente a distância. E para isso, para acompanhar toda essa população, nada mais justo do que receber uma mensalidade de cada membro para isso.

Ainda estamos muito longe de provar a viabilidade desse modelo em específico, mas não reagir e não experimentar novos modelos de atuação e remuneração, apenas resultará na extinção certa do médico clínico.