A decisão foi tomada no último dia do International Myeloma Working Group (IMWG). O Brasil tem três médicos nesse seleto grupo de 80 cientistas
Garantir a qualidade de vida para o paciente é tão importante quanto a sobrevida, segundo decisão de 80 médicos pesquisadores que encerraram na manhã desta quarta-feira (13/junho), em Amsterdam, na Holanda, a reunião anual do International Myeloma Working Group (IMWG). O mieloma é uma doença do sangue ainda sem cura. O Brasil não tem estatísticas oficiais sobre mieloma, mas calcula-se em aproximadamente 30 mil brasileiros, com 10 mil novos casos por ano, segundo avaliação do Dr. Angelo Maiolino, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), um dos dois brasileiros que integram o seleto grupo do IMWG. Os outros são a Dra. Vania Hungria, médica da Santa Casa de São Paulo e o Dr. Carmino de Souza, presidente da ABHH.
A qualidade de vida dos pacientes a partir de agora será medida nos estudos internacionais por meio de indicadores específicos. Uma das estratégias para conseguir prolongar a vida do paciente com qualidade é oferecer tratamento de qualidade, disse o Dr. Maiolino. Para o especialista, a qualidade no tratamento está diretamente ligada ao acesso às terapias utilizadas com sucesso em todo o mundo.
O professor da UFRJ explicou que, atualmente, os pacientes de mieloma são tratados com uma combinação que envolve vários medicamentos que mantém uma sinergia entre si, como bortezomibe, dexametasona, melfalano e lenalidomida, entre outros e não o uso de apenas uma droga. Ele acrescentou que “os estudos internacionais vêm mostrando de forma inequívoca que três medicamentos proporcionam mais sobrevida e qualidade de vida do que apenas dois”. Essa é também a opinião do especialista norte-americano Robert Kyle, um dos pioneiros no tratamento de pacientes com mieloma. Durante o IMWG, ele disse que “nos últimos dez anos ocorreram mais evoluções na qualidade do tratamento desses pacientes do que nos 40 anos anteriores”.
Pacientes brasileiros têm dificuldade de acesso aos melhores tratamentos
O Dr. Maiolino, que também preside a Associação Ítalo-brasileira de Hematologia, sediada em Genova, lamentou durante o IMWG a situação dos pacientes brasileiros que ainda não têm acesso a lenalidomida, um potente medicamento de uso oral, usado em aproximadamente 80 países e já aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, e European Medicines Agency (EMA), na Europa. O processo de aprovação na ANVISA já dura quase quatro anos.
O mieloma evolui por fases, frisou o especialista. “Contar com a droga no mieloma recidivado e refratário é absolutamente imprescindível. São muitos os pacientes que, em determinada fase do tratamento, não aceitam mais a talidomida, por sua alta toxicidade, ou outro medicamento consagrado e passam a responder melhor com a inclusão da lenalidomida. E, quando não é possível usar o medicamento adequado para esta fase, os pacientes correm grandes riscos”.
Outro renomado pesquisador presente no IMWG, o italiano Dr. Antonio Palumbo disse que o uso combinado de lenalidomida “triplicou o tempo de vida dos pacientes nos últimos dez anos”.
O pesquisador espanhol, de Salamanca, Jesús San Miguel, homenageado em Amsterdam como médico de destaque do ano pelos seus pares, é um entusiasta do uso combinado de várias drogas e disse que “os estudos internacionais não deixam dúvidas quanto aos benefícios proporcionados aos pacientes em todo o mundo com o uso de opções como bortezomibe e lenalidomida, esta última muito menos tóxica que a talidomida e mais eficaz porque, entre outros aspectos positivos, reduz a neuropatia periférica (dormência dos dedos das mãos e dos pés)”. E sobre a cura? “ainda é um sonho, mas enquanto ele não chega podemos tratar os pacientes com o estado da arte em mieloma”, concluiu.