Pela primeira vez, em pelo menos uma década, os consumidores norte-americanos estão comprando menos medicamentos prescritos. Uma vez que os cidadãos de todo o país normalmente respondem às dificuldades financeiras e econômicas fazendo malabarismos para arcar com seus gastos básicos com alimentação e moradia, a compra de medicamentos acaba sendo adiada.
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“As pessoas estão tendo que escolher entre gasolina, alimentação e remédios”, disse o médico James King, chairman da American Academy of Family Physicians. Ele também possui um consultório de medicina familiar no interior do estado do Tennessee.
“Eu atendi pacientes que deixaram de tomar Lipitor, uma droga para combater o colesterol alto, porque não têm mais como pagar por ela”, relatou King. “Tenho também pacientes que deixaram de tomar seus remédios para osteoporose.”
Na terça-feira, a Pfizer, gigante da indústria farmacêutica e fabricante do Lipitor, que lidera suas vendas mundiais de medicamentos prescritos, informou que as vendas da droga no mercado norte-americano caíram 13% no terceiro trimestre deste ano.
Até agosto de 2008, o número de prescrições médicas nos Estados Unidos foi menor do que nos oito primeiros meses do ano passado, de acordo com um levantamento recente realizado pela empresa IMS Health.
Efeitos colaterais
Embora haja outros fatores atuando neste cenário – como o conhecimento mais detalhado acerca dos efeitos colaterais de algumas drogas que costumavam ser bastante populares e a autorização para que alguns remédios possam ser vendidos sem necessidade de prescrição médica – muitos médicos e outros especialistas da área afirmam que a falta de dinheiro é um fator de grande importância para entender esta queda no consumo de medicamentos indispensáveis.
Se esta tendência continuar, poderemos observar problemas mais graves no futuro. Algumas doenças que podem ser controladas através da medicação podem tornar-se sérios problemas de saúde. Isto pode, inclusive, aumentar a conta do Estado com saúde.
Martin Schwarzenberger, 56, gerente de contabilidade da Boys and Girls Clubs na cidade do Kansas, está sendo forçado a diminuir seus gastos com remédios. Ele sofre de diabetes tipo 1 e, ainda que não tenha cortado a insulina, deixou de adquirir outras drogas, entre as quais o Lipitor.
“Não diga nada para a minha esposa, mas se eu tiver comprimidos para 30 dias, eu dou um jeito para que eles durarem 35 ou 40 dias”, ele disse. “As pessoas estão tentando manter seus imóveis e usando todo o seu dinheiro para saldar suas contas.”
Envelhecimento
Embora a queda geral no consumo de drogas com prescrição médica tenha sido apenas de 1%, segundo os registros da IMS Health, isto está acontecendo pela primeira vez em mais de dez anos de aumentos nas vendas destes produtos. Neste período, as vendas foram impulsionadas pelo lançamento de novas drogas e pelo “envelhecimento” da população.
Entre 1997 e 2007, o número de prescrições registrou aumento de 72%, 3,8 bilhões no último ano. No mesmo período, o número médio de prescrições médicas anuais por indivíduo subiu de 8,9% em 1997 para 12,6% em 2007.
Em alguns casos, estes cortes podem não ter graves conseqüências, acredita Gerard F. Anderson, especialista em política de saúde na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health. “Muita gente defende que há exagero na prescrição de medicamentos nos EUA”, afirmou Anderson.
Para outros pacientes, entretanto, ele afirmou que “as drogas prescritas são as que as mantêm vivas, eles não podem deixar de usá-las em hipótese alguma”.
Thomas J. Weida, médico que clinica na cidade de Hershey, contou que um de seus pacientes precisou ser hospitalizado depois que deixou de comprar insulina por falta de recursos.
O consumo de medicamentos prescritos nos EUA ainda é o maior do mundo, estima-se que tenha sido em torno de US$ 286,5 no ano passado. Esta cifra, no entanto, reflete apenas 10% do total dos gastos dos americanos com saúde, que alcança US$ 2,26 trilhões.
As companhias farmacêuticas há muito tempo defendem que o consumo de medicamentos pode evitar gastos mais elevados com saúde no futuro.