Uma clínica lucrativa pode quebrar? Sim, e o principal responsável por isso, muitas vezes, é o fluxo de caixa. Não é incomum as pessoas confundirem resultado financeiro com fluxo de caixa e passarem por apertos financeiros.
É muito comum profissionais autônomos e clínicas que têm como principal fonte de receita as operadoras de saúde passarem por algum tipo de aperto no fluxo de caixa, mesmo com alto número de atendimentos. A questão está relacionada com o longo prazo de pagamento e, também, com as famosas glosas.
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Vamos a um exemplo para tentar tornar a questão o mais prática possível.
Um grupo de três médicos decidiram se unir e montar uma clínica para atender operadoras de saúde. Para tanto, alugaram um espaço, investiram na reforma, compra de móveis e equipamentos, contratação e treinamento de mão-de-obra. Estão, assim, prontos para atender. Dessa maneira, estimamos os seguintes custos/despesas mensais:
Para simplificar, vamos supor que, no primeiro mês de atendimento (março) da clínica, a receita total foi de R$150.000, mas os atendimentos foram feitos para planos de saúde de uma operadora que tem prazo de pagamento de 90 dias.
Aqui podemos ver a primeira diferença entre resultado financeiro e fluxo de caixa. Ao analisar o resultado do mês de março teríamos o seguinte:
Como o total de receitas provenientes dos atendimentos foi maior do que as despesas necessárias para realizar esses mesmos serviços, tivemos lucro, que é uma figura contábil.
No entanto, se olharmos por outra dimensão, que é a do caixa, ou seja, do que tem disponível na conta bancária dessa empresa, notaremos um cenário bem diferente (vide imagem abaixo).
Essa é a diferença entre o lucro contábil e a disponibilidade de caixa.
Apesar da empresa ter dado lucro, o dinheiro só entrará na conta bancária daqui a três meses, quando a operadora de saúde pagar pelos serviços prestados no mês de março.
Supondo que esse cenário se mantenha pelos próximos meses, teríamos o seguinte fluxo de caixa:
Dado este cenário, a clínica precisaria de um empréstimo de R$235.000 até ter o primeiro recebimento. Nesse exemplo, uma empresa lucrativa pode ir à falência, sem dinheiro no caixa (na conta bancária) para cumprir suas obrigações, o que pode levar ao atraso no pagamento de obrigações imprescindíveis ao seu funcionamento, como folha, compra de materiais e medicamentos, prejudicando novos atendimentos e diminuindo a receita da clínica.
Na situação desenhada, a clínica ainda não tinha receita recorrente, mas o mesmo cenário pode ocorrer por outros fatores, com crescimento acelerado, despesas concentradas em um mês específico (ex: 13 salário), redução na receita (férias dos médicos, glosas) etc.
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