Na semana passada, um amigo foi atendido com cansaço, tosse e febre alta. Diagnosticaram pneumonia. Prescreveram antibiótico e o liberaram do (superlotado) pronto-atendimento de hospital privado. Isto foi pela manhã.
No final do dia, percebia dispnéia leve (“falta de ar”) e me ligou. Eu não estava disponível para avaliá-lo e orientei que procurasse novamente o PA. Descobri que ainda não havia iniciado o tratamento.
Já devem estar imaginando onde isto foi parar, não?
Sabemos que um dos principais fatores responsáveis pelo agravamento da pneumonia é o atraso do início do tratamento.
Por alguma razão, ele não levou da sua primeira visita ao PA a mensagem de que tinha que iniciar “ontem” o antibiótico prescrito.
Uma simples análise do cenário nos leva automaticamente a algumas conclusões óbvias ou sugestões:
– É preciso superar a superlotação dos PA e PS’s para melhorar a qualidade dos atendimentos;
– É preciso melhorar nossa comunicação com os pacientes e familiares e existem ferramentas para tal, como o método “teach-back”. Lamento nunca ter sido apresentado de maneira sistematizada a nada parecido durante toda minha graduação. E tão simples…
– Poderia o PA ficar responsável pela primeira dose do tratamento. A Pastoral da Criança, em parceria com o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), lançou no início de 2011 uma campanha sobre a Primeira Dose do Antibiótico. O objetivo é orientar os gestores municipais de saúde, e a sociedade, sobre a importância de ministrar a primeira dose nas Unidades Básicas de Saúde, logo após a consulta. Esta iniciativa poderia ser ampliada e é bem possível que seja custo-efetiva para as fontes pagadoras.
O paciente em questão acabou evoluindo bem. Mas poderia ter evoluído mal. Ou tanto faz, tanto fez, já que isto é uma obra de ficção. E, afinal de contas, nosso dever como médicos é fazer o correto diagnóstico e entregar a receita com o tratamento adequado, na dose certa. Será?
Por fim, perceba ainda uma questão interessante: o “calcanhar de Aquiles” da Medicina Hospitalar é a quebra de continuidade entre hospital e atendimento ambulatorial. Mas a continuidade ainda está ocorrendo no modelo sem hospitalistas? Me parece que não e estas estratégias de ligação dos elementos da cadeia de cuidado e melhor comunicação entre o médico e o paciente, e entre os diferentes médicos que compõem a cadeia, devem ser aprimoradas de qualquer jeito.