No início de Julho recente a Blue Cross Blue Shields (BCBS) Association publicou um relatório
referente às ações de seus mais de 250 planos nos EUA. A BCBS atinge perto de 24
milhões de beneficiários e 215 mil médicos. O relatório aponta que U$ 1.00 em
cada U$ 5.00 é pago mediante contratos onde os prestadores têm metas de
melhoria da qualidade e redução de custos.
As seguradoras associadas relatam que pagam mais de U$ 65 bilhões
ao ano para modelos de pagamento baseado em valor. Os programas variam desde
atendimentos domiciliares, onde os médicos ganham valores adicionais para a
melhor coordenação do cuidado, até modelos de Accountable Care Organizations, onde um grande prestador de serviço
recebe parte da economia alcançada com a gestão das vidas sob sua
responsabilidade, associado a metas de qualidade. Também tem modelos onde o
médico recebe um valor fixo por um procedimento específico, como por exemplo,
para cirurgia de prótese de quadril.
Os resultados ainda são preliminares, mas promissores. Já se
observa redução as internações, das consultas em pronto socorro e até melhoria
no cuidado de pacientes com doenças crônicas.
A Blue Cross Blue Shiles da California aponta que 40% de
seus contratos já estão sendo feito através deste novo modelo. No entanto, os
gestores afirmam que ainda muito se tem que melhorar e ajustar nos modelos, mas
já é um bom começo. O economista em saúde, Prof. Paul Ginsburg, da University of Southern California analisa
que os modelos precisão evoluir.
Os outros grandes planos de saúde, como a Aetna, Cigna e a
UnitedHealth Group também estão explorando caminhos semelhantes para remunerar seus
médicos e hospitais, no entanto o movimento feito pela BCBS é muito grande
visto ao seu tamanho e a atuação em diferentes mercados.
Muito se tem discutido com relação aos resultados reais na
qualidade da atenção à saúde. Outro artigo publicado recentemente pelo New York
Time em 28 de Julho: The Problem With
‘Pay for Performance’ in Medicine (http://www.nytimes.com/2014/07/29/upshot/the-problem-with-pay-for-performance-in-medicine.html?smid=tw-share),
traz alguns insights interessantes, afirmando que estes modelos (i.e. P4P) têm
atingido bons resultados em mudar o comportamento do médico, no entanto, ainda
tem pouco ou nenhum resultado diretamente na saúde dos pacientes.
O ponto importante que precisamos considerar é que imputar o
resultado de um tratamento somente à conduta do médico, é no mínimo injusto.
Está bem demostrado que o médico consegue influenciar menos do que 10% nisso.
Portanto, devemos ter muito cuidado na medição de indicadores de desfecho
clínico, e principalmente, vincular a remuneração por desempenho somente a
melhoria destes indicadores.
No modelo GPS.2iM© (http://www.2im.com.br/gps-2im/),
temos sugerido dar mais peso nos indicadores de estrutura, processos, desfechos
intermediários e na satisfação do paciente. Não podemos perder de vista que
qualidade em saúde é um conceito multidimensional e que todas estas dimensões
devem ser levadas em conta para medir o desempenho de um profissional ou
serviço de saúde.
O importante é não ter medo de tentar novos modelos de
remuneração. No entanto, atentar claramente para que os indicadores avaliados
sejam aceitáveis por quem está sendo avaliado e que os dados estejam
disponíveis, serem válidos, confiáveis e consistentes.