O caminho rumo à transformação digital requer muito mais do que adoção de tecnologias. É necessário uma mudança cultural, com a união de todas as áreas – operacionais e médicas – e profissionais de saúde. A mudança começa na conscientização da importância da digitalização para a assistência à saúde e segurança do paciente, e passa por três grandes pilares, como explica o médico Abel Magalhães, professor de informática em Saúde do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD-UFRJ) e diretor de comunicação e mídias sociais da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS).
“A saúde digital pede a reinvenção do modelo de negócios da empresa, dos processos e dos métodos de trabalho”, explica. Para isso, é essencial contar com planejamento detalhado das mudanças, com perspectiva de investimento e tempo, e pessoas capacitadas para as implementações. Veja abaixo mais detalhes desses pilares:
- Modelo de negócios
Eles devem ser proativos e flexíveis para responder rapidamente à evolução das necessidades dos pacientes, cada vez mais informados e exigentes, ou às mudanças demográficas. O modelo de negócio para a transformação digital deve se basear nos seguintes pontos:
- Integrar: mesclar bem-estar, prevenção e monitoramento, com assistência focada no paciente por completo, não apenas a um cuidado específico;
- Especializar: identificar e direcionar os pontos fortes da instituição, para eliminar atividades de menor valor;
- Praticar: compartilhar pesquisas clínicas para obter o que houver de mais moderno e eficaz para a oferta de uma terapia personalizada;
- Criar: reagir a segmentos emergentes como saúde corporativa, turismo médico e saúde no varejo;
- Interligar: equilibrar oferta e demanda, sincronizar e promover a saúde de acordo com as necessidades do paciente.
- Processos de negócios
Os novos processos têm o objetivo de unir especialistas e pacientes e, segundo Magalhães, devem se basear no desenvolvimento e execução de uma estratégia digital de negócios, baseada em cinco pontos:
- Núcleo Digital: refazer a plataforma de processos centrais de negócios, para que as transações e análises em tempo real façam parte dela. Isso garante respostas mais inteligentes, rápidas e simples;
- Participação do paciente: o cuidado deve ser holístico, com o envolvimento do paciente e o trabalho colaborativo entre todos os profissionais. Isso garante uma medicina personalizada, serviços de valor e terapias baseadas em resultados;
- Recursos Humanos: capacitar e envolver todos os funcionários e equipes;
- Internet das Coisas (IoT): aproveitar as informações gerados pela IoT para aprimorar as decisões clínicas e os diagnósticos e otimizar estratégias de prevenção
- Métodos de trabalho
“Cada unidade assistencial deve ser vista de forma mais ampla, relacionando o desempenho com a estratégia da instituição”, diz Magalhães. Segundo ele, a criação de uma área de planejamento e gestão da qualidade, por exemplo, com uma equipe contratada que detenha essa metodologia, pode funcionar como um setor de inteligência para a mudança de cultura. Para a formatação desse modelo, a instituição deve selecionar indicadores de monitoramento para cada área e seus respectivos gestores, levando em consideração o impacto na qualidade e segurança da assistência, os custos institucionais, o prazo de entrega e, até mesmo, o retorno dos investimentos. A ideia é criar um ecossistema que beneficie todos, modificando a maneira como os profissionais trabalham:
- Médicos que podem, agora, coordenar um paciente mais informado e capacitado substituindo a hierarquia tradicional e a prática da consulta em que só o médico diz o que é melhor;
- Enfermeiros como cuidadores pessoais assumem mais responsabilidade no tratamento;
- Decisões clínicas mais fáceis devido ao acesso rápido de informação a qualquer hora ou local e com mais inteligência no fluxo de trabalho;
- Mais espaço – e possibilidades – para a pesquisa clínica.
“A incorporação de novas tecnologias, como reflexo da transformação digital é uma tendência inevitável para as instituições de saúde, mas isso precisa estar diretamente ligada à melhoria da assistência. Em pouco tempo, isso será mais natural, com hospitais adquirindo tecnologias como forma de complementar ou melhorar as já desenvolvidas pela instituição”, completa.