Imprimir metas internacionais de atendimento a um serviço referência em Saúde da Mulher era o desafio do Hospital Pérola Byington (SP).
Na outra ponta, o antigo Instituto de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) crescia e expandia seus serviços para a área pública. Em 2006, já como Fundação Instituto de Pesquisa e Diagnóstico por Imagem (Fidi), o instituto passou a trabalhar para atender aos anseios do Pérola Byington e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Seis anos depois, os indicadores mostram que a terceirização do setor de diagnósticos por imagem para uma fundação especializada na área trouxe benefícios tanto para o fluxo do hospital quanto para a qualidade do atendimento à paciente com câncer de mama. Todos os meses, são realizadas 3 mil mamografias e 3,3 mil utrassonografias.
Os laudos, que demoravam de 30 a 40 dias para serem concluídos, agora são finalizados em até quatro horas e, das 3 mil mulheres atendidas por mês para investigação mamária, 90 passaram a fazer mamotomia, o que possibilitou atender em cirurgia somente os casos realmente necessários.
Organizações Não-Governamentais (ONGs) como a Associação Brasileira de Apoio aos Pacientes de Câncer (Abrapac) também tomam parte na luta contra o câncer de mama e buscam estimular e cobrar autoridades em busca deste padrão mais eficiente de atendimento. No Rio de Janeiro, a ONG criou o serviço Mama Alerta, para recolher informações junto aos pacientes e profissionais de saúde e conscientizar as autoridades sobre as melhorias necessárias nos serviços.
FIDI
A Fidi está hoje pautada na recuperação do status operacional da rede pública e tem, entre suas funções, a realização da manutenção e a criação de logísticas necessárias para os suprimentos de equipamentos, além de alocar técnicos para o trabalho operacional de realização dos exames, e médicos elaborando laudos em toda a rede. ?Estamos desenvolvendo também, em parceria com as secretarias de saúde, a digitalização da rede e centralização das informações nas duas centrais de laudos em operação?, conta o superintendente da Fidi, Hélio Ajzen.
O executivo atribui à transparência no relacionamento o sucesso da operação no Pérola Byington. ?Acredito, que se deve pela maneira que conduzimos assuntos fundamentais para o bom funcionamento da rede pública, como melhoria de processos, a manutenção de equipamentos para a operação estar sempre em andamento, sem interrupções, logística de distribuição de laudos e o trabalho com grandes volumes de forma sistemática e organizada.?
As duas instituições pactuaram as metas e, com a gestão dos indicadores, têm conseguido atingir o que é preconizado pelos modelos internacionais de acreditação. Com este case, a Fidi tem recebido visitas de outros Estados e está se cadastrando como organização social em outras regiões para oferecer seus serviços fora de São Paulo.
Para garantir voz às pessoas com câncer, especialmente às que utilizam os serviços públicos, a Abrapac criou o programa Mama Alerta, que coleta informações nos principais hospitais que oferecem tratamento oncológico no Rio de Janeiro. ?Nos primeiros alertas, houve uma completa mudez da autoridades, mas agora já temos alguns ganhos. Os ouvidores do SUS e dos hospitais federais do Rio estão mais sensíveis à proposta e, em alguns casos, abrimos um canal direto, em que mandamos o nome do paciente e o prontuário para que a Ouvidoria possa verificar e tomar providências?, conta a diretora administrativa da Abrapac, Margareth Martins.
Margareth, ela mesma uma paciente em tratamento de câncer de mama há quatro anos, acredita que a sociedade tem de agir como um terceiro elo, especialmente neste tipo de neoplasia, insistindo na rapidez dos diagnósticos por mamografia e ultrassom. ?Isso é que faz a diferença entre viver e morrer. O que nos separa dos Estados Unidos, por exemplo, não é o número de mulheres com câncer de mama, mas sim o nível de mortalidade, porque ainda temos problemas no acesso aos exames, o que leva à uma detecção tardia. O que resolve é uma política agressiva de mamografia e ultrassom e visita frequente ao médico.?
A diretora da ONG destaca que a informação é o caminho para o engajamento. ?As pessoas precisam aprender a lidar com o câncer, para cobrar as autoridades e ter uma sobrevida melhor?, conclui.
Com a prestação de serviços de diagnóstico por imagem em tempo reduzido, o Pérola Byington conseguiu reduzir em 20% a mortalidade por câncer de mama entre suas pacientes e os casos avançados caíram de 41% para 18%. ?A rotatividade de radiologistas no serviço público é alta e seria difícil acompanhar o atual fluxo. Conviveríamos com defasagem e represamento de laudos. Atualmente, nossa condição em termos de recursos materiais e humanos está sempre em dia?, avalia o diretor médico do hospital, Luiz Henrique Gebrim.
A mamotomia, procedimento ambulatorial para colher tecidos para biópsia, também começou a ser realizada com mais frequência e evitou cirurgias e internações desnecessárias.
Assim, as 250 vagas mensais para cirurgia passaram a ser dedicadas aos casos mais graves, garantindo uma resolutividade maior. ?Estamos seguindo o modelo das instituições privadas e os objetivos, até agora, foram plenamente atingidos.?
Os planos da Secretaria de Estado da Saúde incluem a construção de novos hospitais dedicados à saúde da mulher, também em modelo de parceria público-privada, com administração do Pérola Byington e, desde o início de outubro, o programa Bem-me-quer, destinado às vítimas de violência doméstica e sexual, tem servido como modelo para outros centros de referência nas cidades de Campinas, Santos, Guarulhos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.
A Abrapac atua de forma complementar ao tratamento médico , com vistas a melhorar a qualidade de vida das pessoas com câncer. Em geral, são atendidos pacientes carentes, indicados pela rede pública de hospitais, que recebem orientação jurídica e apoio psicológico, entre outras ações.