O estudo Science, Tecnology and Industry Outlook 2010 – divulgado em meados de dezembro pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que foi objeto de resenha da Carta IEDI no dia 14/01/2011 (primeira parte) – apresenta, entre outras dados, um conjunto de indicadores de desempenho em ciência e inovação para um grupo de não-membros da OCDE – África do Sul, Brasil, China, Índia, e Rússia -, sob a forma de um gráfico radar, que permite avaliar relativamente os seus pontos fortes e debilidades em comparação com a média dos demais. Os indicadores comuns focam os investimentos em pesquisa e inovação, os resultados científicos e de inovações, nas redes e associações, inclusive as relações internacionais e os recursos humanos envolvidos com pesquisa e inovação. Para cada indicador no gráfico radar, o país com o valor máximo aparece como 100, levando em conta todos os países membros e não-membros da OCDE para os quais há informação disponível. Para o cálculo da média, apenas os países da OCDE são considerados. Aqui, destacaremos o Brasil e a China.
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Brasil. Não obstante as melhoras registradas em algumas áreas nos últimos dois anos, o perfil da ciência e tecnologia no Brasil apresenta vários pontos fracos. A intensidade do P&D de 1,1% no Brasil em 2008 ainda é muito baixa em comparação com a média da OCDE, embora seja superior a da Índia, África do Sul e Rússia.
Em 2008, os investimentos privados em P&D corresponderam a apenas 0,5% do PIB. Para estimular a ampliação dos gastos privados brutos com P&D, o governo brasileiro pratica um generoso programa de incentivo fiscal, oferecendo abatimento de 25,5% para cada dólar aplicado em P&D.
À semelhança das demais economias emergentes, o Brasil produz relativamente poucas patentes quando comparado com intensidade do P&D. Em 2008, o país contabilizou apenas 0,3 patentes triádicas por milhão de habitantes – patentes registradas simultaneamente nos escritórios de registro de patentes da Europa (EPO, na sigla em inglês), Estados Unidos (USPTO) e Japão (JPO) para garantir a proteção de uma mesma invenção. Todavia, o relatório destaca o envolvimento crescente do país com o desenvolvimento de patente na gestão de resíduos, controle de poluição de águas e energia renovável.
No que se refere à produção científica, embora tenha crescido de forma expressiva nos últimos anos (média anual de 12,2% no período 1998-2008), o número de artigos per capita ainda está bem abaixo da média da OCDE. Em 2008, foram publicados 26 806 artigos, o que corresponde a 141,4 artigos por milhão de habitantes ante 777,9 por milhão de habitantes na média da OCDE. A participação do Brasil nas publicações mundiais de artigos científicos (1,6% em 2008) supera a de vários países desenvolvidos, como Suécia, Suíça, Bélgica, Holanda, entre outros. Porém, está muito aquém da China, que em 2008, respondia por 12,3% da produção mundial de artigos científicos, ocupando a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos.
Os indicadores brasileiros de inovação também estão abaixo da média da OCDE. No período 2003-2005, apenas 3,6% das empresas brasileiras introduziram inovações de produtos “novos para o mercado”. A integração internacional das empresas brasileiras na área de pesquisa e inovação também é fraca. Apenas 3% das empresas se envolveram com atividades colaborativas em inovação no período 2003-2005. Todavia, o percentual de solicitação de patentes com co-inventor estrangeiro foi de 18% no período 2005-07, superando a média da OCDE (7,7%).
A formação de recursos humanos qualificados permanece com uma das grandes debilidades do Brasil na área de ciência e tecnologia. Em 2006, havia no país apenas 1,5 pesquisadores a cada mil trabalhadores ocupados. Em 2007, a participação de graduados em ciência e engenharia no total dos recém-formados subiu para 11%, o que representa metade da média da OCDE. Também é relativamente baixo, o nível de graduados na população entre 25 e 64 anos (11%). Em contraste, o número de doutores per capita no Brasil supera o patamar médio da OCDE.
China. O sistema chinês de inovação registrou avanços consideráveis a última década. Foram realizados investimentos crescentes nas atividades de P&D, o que se traduziu no aumento da intensidade do P&D, que subiu de 0,73% em 1991 para 1,5% do PIB em 2008, o que equivale a 13% do GERD total da OCDE. A indústria financiou cerca de 70% da GERD em 2008 e o governo, 24%.
Na China, os gastos privados em P&D (BERD) aumentaram 27% ao ano em termos reais no período 1997-2007, saltando do equivalente a 2% do BERD da OCDE em 1997 para quase 12% em 2007. Em 2008, a intensidade do BERD foi 1% do PIB, abaixo da média da OCDE (1,6%), mas próxima do nível da União Europeia (1,1%).
O desempenho da atividade de P&D na China registrou notável melhora. No período 2004-06, quase 15% das empresas introduziram inovação de produto “novo para o mercado”. A produção de patentes triádicas e de publicações científicas ainda é muito baixa em termos per capita. Todavia, a China está entre os doze maiores países por participação no total de patentes triádicas em 2008 (1,1%). Já em número de publicações científicas, a China ocupava em 2008 a segunda posição no ranking mundial, com 12% do total da produção científica mundial (apenas 3% em 1998), atrás apenas dos Estados Unidos (16,3%). No período 1998-2008, o número de publicações científicas pela China cresceu a uma taxa anual de 23,4%, a mais elevada do mundo no período.
A China investiu extensivamente em recursos humanos em ciência e tecnologia nos últimos anos. Seu contingente de pessoal qualificado em ciência e tecnologia vem crescendo 9,4% ao ano desde 2000 e praticamente se igualou ao dos Estados Unidos em 2008 (1,4 milhão), embora o número de pesquisadores per capita ainda seja baixo (2,1 por mil trabalhadores ocupados em 2008). Em 2006, havia no país 39,2 % de graduados em ciência e engenharia, o que corresponde praticamente ao dobro da média da OCDE. Porém, o percentual da população na faixa etária de 25-64 anos com educação superior ainda é relativamente baixo (10%) quando comparado com a média da OCDE.
No que se refere às interrelações nas atividades de P&D, os indicadores indicam que as atividades de colaboração para inovação continuam fracas, mas mostram potencial. Apenas uma pequena parte da GERD chinês contou com financiamento do exterior em 2008 (1,2%). Também é diminuto o percentual de empresas que colaboraram em atividades de inovação durante o período 2004-2006: apenas 6%. No entanto, a solicitação de patentes com co-estrangeiros inventores, no âmbito do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT), subiu para 12,6% durante 2005-07. Embora a maioria dos investimentos em P&D ainda flua para países da OCDE, a China é cada vez mais apontada pelas empresas multinacionais como um local atraente para a atividade de P&D.
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